quinta-feira, agosto 26, 2004

TRIVIAL VARIADO

- Frase “Devo, não pago, nego quando puder”.

- Sobre a guerra Veja X Isto É. Não tenho tempo nem para deixar os papelotes no ritmo e jeito que eu quero, quanto mais para analisar as alegações de ambas a fundo. A Veja cita com a grosseria habitual quantidade cavalar de fatos em sua defesa, mas há de se notar o peso da Editora Abril na história e nas declarações e a matéria tem teor de contra-ataque, muito mais que auto-defesa. Aliás é curioso como a agressividade da revista da Abril aumenta quando ela está errada (como em um caso ocorrido com o site nominimo anos atrás). E é fato que a Isto É tem problemas aparentemente recorrentes com venda de matérias, como Veja diz. Mas fiz um boletim ao longo de um ano chamado Veja Q Porcaria que pegou toneladas de erros factuais, sem falar de matérias editorializadas desprovidas de base em qualquer fato, e nunca me chamaram para fazer parte desta perfeita equipe de checagem (o que me deixa um tanto magoado), ou me faz crer que a mesma deve ser as vezes ignorada...Cabe registrar que a fama dela é de realmente ser muito boa. Se, segundo a Veja, a carreira do pivô da história, o jornalista Lula Costa Pinto, foi de repórter brilhante a assessor de imprensa, marketeiro e lobista, a minha está indo de repórter e crítico de mídia medíocre para assessor de imprensa desatento e DJ razoável, logo não tenho muito o que falar. Não tenho em mãos as edições da época, nem fiz o trabalho de reportagem necessário para dizer quem está certo. Nestes casos sempre gosto de (me) lembrar que diante de dois lados em conflito há de se abandonar à tentação do maniqueísmo de achar que um lado é bom e o outro é ruim. Posso dizer que o entregador da Isto É aqui em casa é pior do que o da Veja e tem a mania de jogar a revista para ser estraçalhada pelas minhas cachorras. O que esta história toda irresponsavelmente me lembra, é de um caso que ouvi de uma tribo indígena, cuja tradição diz que quando nascem gêmeos, um será bom e o outro ruim. Como a mãe não tem como saber qual será o ruim, e não pode ter a responsabilidade de trazer uma pessoa ruim para compor a tribo, ela mata os dois.

- Esta ocasião talvez seja interessante aproveitar de forma aleatória, Frases que anotei de uma entrevista que o Roberto Civita deu ao Jô Soares, por ocasião dos 35 anos de Veja, e que tinha anotado para um livro que faria, mas decidi fazer outras coisas da vida:
1) “O leitor não nos paga para contarmos mentiras”.
2) “Nós publicamos toda a carta que provar que nós erramos”.
3)Eu me envolvo em dois momentos durante a semana: a pauta na segunda, e a reunião final, quando passa a pauta e discute a capa e a carta ao leitor”.
4)”A palavra, tem que ser a palavra certa”.

O mundo se cansou de brincar com a oposição venezuelana

Um daqueles engodos típicos da imprensa 'neutra"está chegando ao fim. A simpatia à oposição ao Presidente Chávez na Venezuela. Era retratada como democrática, mesmo depois dela ter dado um golpe de estado, que fracassou. Era retratada como responsável economicamente, mesmo depois de uma greve geral de meses com o objetivo de derrubar o governo, que também fracassou. Achava que não teria um plebiscito que aconteceu, e no qual perdeu. Agora não admite o resultado, contra todos os observadores internacionais. O presidente venezuelano tem sorte e boa visão política. Primeiro foi a reação do povo e de setores militares que fez fracassar o golpe. Depois Lula se elegeu no Brasil, e concedeu uma base de apoio à Chávez, principalmente durante a greve (locaute) geral e estabelecendo um equilíbrio, canal de diálogo e apoio externo (para isso a eleição na Argentina contribui também).
Depois Aznar e os conservadores perderam na Espanha, e a oposição venezuelana perdeu seu segundo maior aliado externo (o primeiro é o governo dos Estados Unidos). Finalmente, Chávez, que no início do seu mandato trabalhou na Opep para aumentar o preço do petróleo, com a disparada do produto passou a ser fator para a estabilidade dos preços. O mundo cansou da briga, e com o barril em mais de 45 dólares, decidiu ser pragmático. A alta do preço do petróleo ajudou Chávez nas duas pontas: permitiu financiar seu programa político e ser tolerado pelo Financial Times, Bush etc... De fato, não tinha como se contar com sua astúcia....Lógico que há muito de política interna nesta história, mas isso não deixa de ilustrar um certo "efeito borboleta". Um sabotador em Nadjaf tendo efeito na oposição venezuelana. Veja por exemplo, em relação à oposição, o que diz e a linguagem em que fala, esta matéria do El Pais sobre o plebiscito: Oposição venezuelana continua esperneando


- Sobre o Conselho federal de Jornalismo, o texto de Maurício Tuffani analisando as mudanças que o governo fez no projeto : A canetada e a tesourada (lembrando que é só pedir que mando qualquer material aqui citado por e-mail). Na minha opinião, para melhorar a imprensa e em um sentido mais amplo a comunicação, duas medidas são muito mais importantes que este cartório ou tribunal especial. Uma seria a instituição da clausula de consciência nos contratos coletivos de trabalho ou através de lei, medida que o sindicato de SP ganhou na justiça em relação aos funcionários de Rádio e TV, e que depois desistiu dela em acordo principalmente com a Globo. A clausula de consciência é uma defesa, tênue, mas que dá embasamento legal a jornalistas que se recusem a fazer ou assinar matéria que firam sua ética, e é uma importante defesa para construção de uma independência da área editorial das questões políticas e comerciais da empresa em que ela está. A segunda seria a regulamentação da propriedade impedindo monopólios construídos sobre abuso de poder econômico (Globo na TV aberta e fechada) ou através de propriedade cruzada de várias mídias (Sirotsky no sul do país, Sarney no Maranhão, ACM na Bahia, Collor nas Alagoas etc...). Nenhuma destas medidas está sendo defendida de fato pela atual direção da FENAJ que prefere batalhar para aumentar seu poder com o CFJ sobre os fracos (os jornalistas individualmente) do que comprar uma briga contra os poderosos, que estão no congresso ou nas empresas de mídia e barram estas duas medidas muito mais úteis para a liberdade de expressão. Diriam ser impossíveis de serem aprovadas no Congresso. Então tem de se perguntar porque o CFJ seria possível.


- Negando o sentido de urgência que queria imprimir, eu também esqueci de citar que neste momento onde todos falam de liberdade de expressão e dos erros de Veja e Isto É´s da vida, a maioria não menciona o caso do jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, criador e editor do Jornal Pessoal, um exemplo de bom jornalismo e liberdade de imprensa realizados na raça e na prática, condenado pela justiça por ter publicado uma matéria correta contra a maior grilagem\invasão de terras do pais, promovida pela empresa C.R. Almeida. Quem quiser receber o manifesto\informações sobre o caso, peça-me que envio por e-mail


- Sobre Olga: Ainda não consegui ver o filme (leia abaixo frustração por não ter visto Sganzerla). Vi o trailer, e achei engraçado que o trailer é tão careta que além de ser cronológico, é exatamente o filme, do começo ao fim, do conflito familiar por ser comunista na Alemanha, passando por ser mandada ao Brasil e seu envolvimento com Prestes, prisão, separação da filha, ao fim no campo de concentração. Taí o filme em dois minutos. E o que se pode julgar pela amostra é que tem a sutileza de linguagem de um Galvão Bueno (tudo é dito, redito e explícito), e aquele tom permanente de “épico histórico”. Fico feliz de termos uma indústria de cinema para criticarmos, porque é uma evolução no país, isso é o legal do filme, além de ser uma história digna de ser popularizada. Mas deve ser um filme com pretensões comerciais ponto, e de um gênero melodramático de virar o estômago. Vou assistir, mas deve ser chato pra caramba.


- Sobre os vereadores calados do PT na capital paulistana, a brincadeira é que é a lei “Rui Falcão” – vereador bom é vereador quieto.


- Nelson Jobim, que vem sendo citado como astro-luz da idéia do conselho Federal de Jornalismo, é uma daquelas figuras superpoderosas (no caso, nos três poderes) e interessantíssimas da república. Só na semana passada, como presidente do Supremo Tribunal Federal, passou por cima de decisão de colega e permitiu leilão de áreas de exploração de petróleo, agradando os mercados. Depois, recebendo o elogio\ato falho de José Genoíno (como o homem é capaz de se enforcar tanto com a própria língua?) de ter posto o Supremo “nos eixos”, ao passar por cima da lei tendo em vista a “situação econômica”, e permitindo a cobrança de contribuição previdenciária de funcionários públicos já aposentados (uma sandice). Novamente agradando os mercados. Estamos falando do mesmo sujeito que como presidente do Tribunal Superior Eleitoral, presidiu o processo da última eleição, que foi Ministro da Justiça de FHC por anos, e que como deputado constituinte esteve envolvido em alterações clandestinas de texto da constituição de 1988. Depois de dividir apartamento com José Serra, hoje junto com Nizan Guanaes (que aderiu ao Taleban), Henrique Meirelles (o novo ministro intocável, que vergonha...), entre outros, é praticamente um “neo-petista”. Vai ser poderoso assim lá em Brasília...

- Trecho de matéria do Valor Econômico com o presidente do grupo Silvio Santos, Luiz Sebastião Sandoval. Entre outras grosserias, que revelam a crueza das pessoas envolvidas com comunicação no país, tem esta pérola da admissão do abuso do uso de concessões públicas para alavancar negócios próprios, o que deveria configurar abuso de poder econômico. Para quem quiser, envio o texto completo por e-mail.
“A meta é chegar a dez milhões de cartões de crédito em dois anos. Os cartões se destinam a pessoas com renda familiar de até R$ 1.200. ‘Este segmento é consumidor de comida e combustível. E é um bom pagador, tem a menor inadimplência. Além de tudo é o consumidor de nossos produtos.’
O crescimento deve ser rápido na visão do grupo, pois ele tem como arma importante a comunicação do SBT. ‘Esse é o diferencial nosso negócio’, explica.”

DICAS DE LEITURA

- Kennedy Alencar sobre os patéticos sonhos de poder de grupos de cacique (todos de dentro da corrente “Articulação” de São Paulo) que hoje ditam o compasso e parte das disputas dentro do PT. Ainda que o título seja típico do mundo de futricas e veneno dos corredores da política é para guardar e se divertir no futuro, porque raramente estes planos conseguem sobreviver aos imprevistos da vida.
"Projeto Gabão" é o tema da hora no PT

Erika Campelo entrevista José Saramago na Agência Carta Maior. Como sempre, muito bom.
Saramago questiona a ilusão do mundo democrático

- Folha de terça-feira
Pedro Alexandre Sanches em texto primoroso sobre as gravações da obra-prima Elis&Tom, em lançamento de CD remasterizadas por César Camargo Mariano pela gravadora Trama, do filho de Elis João Marcelo Bôscoli. Muito bonito mesmo.

Só tinha de ser com você

Cesar Mariano orientou reconstrução

- Folha de domingo

Para o debate interno (dentro de mim) "PT e pós PT", vale muito esta entrevista de Fernando Gabeira, ainda que seja um triste fim se pegar apoiando César Maia.Mas diz algumas verdades conferidas por este in loco, ou in louco. Uma das respostas mais interessantes é esta:
"Existe uma vontade deles de se perpetuar no poder. Ficou muito claro que, ao chegarem ao governo, eles descobriram, deslumbrados, que o mais importante é ficar no governo e secundário o que será feito com o país. A sucessão de frases como as do José Dirceu - "a principal tarefa é a reeleição de Lula"- ou do próprio Lula -de querer saber como ficar 37 anos no governo- mostra isso. Eram pessoas que viviam como uma certa dificuldade e de repente encontram esse universo de ascensão material. A presidência para o Lula é uma ascensão material. Ele desfruta de recursos e possibilidades materiais muito maiores do que quando estava na oposição.Em primeiro lugar, eles vão tentar canalizar o que puderem de excedente para um trabalho social que mantenha as populações mais pobres na condição de clientes. Em segundo lugar, vão utilizar toda a força que têm -a sedução ou a ameaça- para garantir que a mídia os consagre. Na mídia, eles não dão tanta importância aos jornais. Dão à TV. Vão tentar essa manobra do pão e circo. Até que ponto vai dar certo, vai depender da capacidade deles"

Gabeira revê 79 e ataca "sonho burguês" do PT

Política e desbunde: Cultura da época destampou panela de pressão

Tanga original não era lilás nem de crochê

- Para o mesmo debate, texto de Fábio Konder Comparato: Dois escândalos e uma proposta

- Muito o PSDB tem criticado a política multilateral de Lula, e houve também algumas matéria da Veja a questionar o que o Brasil ganha se relacionando com países do Terceiro Mundo. Bem, na prática dos ganhos de exportação e do modelo de inserção brasileiro na economia mundial, sem nada de “terceiro mundismo” ou socialismo, ao contrário muito capitalista, ganha muito, como mostra esta matéria de Raquel Landim para o jornal Valor Econômico.
Múltis usam o Brasil como base de exportação à África

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