terça-feira, julho 24, 2007

O Brasil é uma realidade, não uma abstração descartável

No Brasil, se confunde muito a parte pelo todo, é mania generalizar e se larga a complexidade e contradições do real por uma abstração, dizer de forma muito fácil e reducionista que "o brasil é isso, o brasil é aquilo", "o cinema brasileiro é isso, o cinema brasileiro é aquilo". Isso, de esquerda ou de direita, é uma postura muito imatura e colonizada, que adianta pouco...E no fundo é uma herança autoritária. Porque a discussão abstrata é uma maneira de driblar as dicussões, problemas, limites, soluções e principalmente negociações que a realidade impõem. Fala-se no abstrato para evitar se discutir a realidade. Fala-se na "herança escravocrata", importantíssimo, mas para evitar discutir como enfrentar e resolver o racismo hoje. e assim a nava vai...

a vida é muito menos maniqueísta, e mais complexa, múltipla e dia-a-dia que isso...

pensei nisso ao ler este post do blog do ricardo calil: http://www.ricardocalil.com.br/

Um país bipolar

Nunca na história desse país uma certa bipolaridade brasileira ficou tão clara quanto no noticiário de TV da última semana. No bloco dedicado ao Pan, somos uma nação com um futuro brilhante, uma nova potência esportiva, um gigante finalmente desperto. Portanto, somos também incapazes de aceitar qualquer medalha que não seja ouro, de vaiar moleques de menos de 17 anos que perdem no futebol para garotos cinco anos mais velhos, de entender a revolta do judoca que levou “apenas” prata.

No bloco seguinte, dedicado à tragédia de Congonhas, voltamos a ser um país de merda, com um governo incompetente e corrupto, companhias aéreas e pilotos despreparados e uma população de bundões, incapaz de se revoltar com tamanhas barbaridades. Claro, existe aí o evidente desejo das emissoras de TV de usar a tragédia para atacar politicamente o governo, de repetir cenas mórbidas para aumentar índices de audiência. Mas há também, como pano de fundo, uma certa fracassomania, a velha síndrome de vira-latas de que falava Nelson Rodrigues.

E, no bloco seguinte, voltamos à euforia do Pan. E continuamos a ser um país onde não se aceita o bronze e o acaso. Um país sem razão.
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