quarta-feira, setembro 26, 2007

Mano Brown, Azevedo e a Bolha...

Reinaldo Azevedo, funcionário da torre da "puta que abril", do lado de "cá" da Marginal Pinheiros, estranhou o Roda Viva com o principal artista e poeta do lado de "lá" da Marginal, Mano Brown, líder dos Racionais MC´s. Achou que foram molengas com ele, um "espetáculo grotesco". A Bolha de S. Paulo também, em tom menor, mas meio no mesmo espírito. Pegaram leve com ele. Ainda mais que ele elogiou o Lula e a Marta, e todos sabem o que os jornalistas da Folha e da Abril são obrigados profissionalmente a achar disso. Senão a carreira fica difícil...

O problema do Azedo é que ao ver um preto valente falando no meio de uma roda de brancos, estranhou que não tinha tronco, chicote ou feitor. Sentiu-se frustado por não ver a transmissão de um pelourinho. Revoltou-se com a TV Cultura, que não transmitiu o espetáculo que ele queria. "O preto tá fazendo apologia ao crime, prende o preto, não deixa ele falar, grita com o preto, põem ele no camburão". Deve ter ficado angustiado. Tenho carinho por ele, sabe, apesar de tudo. Deu um certo dó.

Mais absurdo, pensou Azedo. Ainda se deram ao trabalho de estarem lá, os brancos, para ouvir o que o preto tinha a dizer da realidade do lado de lá da ponte, tão perto dele, mas tão distante e fácil de ignorar e desprezar. E o preto ainda falar com tanta simplicidade, clareza inclusive nas suas contradições e na admissão dos seus limites como ser humano. Uma entrevista não é ouvir o que o outro tem a dizer? Provocar reflexão, questionar contradições, claro, mas isso não foi feito? Deviam ter perguntado dos conflitos com a PM, concordo, mas o problema (dele) não é esse.
É o estado atual do país e do jornalismo.
Para Azedo jornalismo não é ouvir, nem debater, muito menos reportar ou compreender. É rebater, esgarniçar, aparecer, patrulhar e massacrar. Muita gente pensa assim, ainda mais em blogs...

Como soa grotesco para Azedo ouvir o preto falar livremente, opinar livremente. Azedo acha que o país está piorando. 120 anos atrás, preto no meio da roda viva era coisa bem diferente...