quinta-feira, março 29, 2007

Um pouco de música

Anda faltando música e outras coisas mais neste blog. Sexta, assisti o show do enérgico Tom Zé e não escrevi nada. Domingo, vi o complexo documentário "Santiago" de João Moreira Salles, que tem material para 10 tratados sobre estética, documentário, relações de classe ou psicanálise. E não escrevi nada, e sigo não escrevendo. Bem, o show do Tom Zé já foi, e sabe-se lá quando vão passar a sessão de descarrego do Salles. Vale dizer, um corajoso auto-retrato da elite brasileira. Ele disse que tinham que começar a filmar a elite brasileira e começou por ele mesmo. Legal.

Mas chega de escrever que papo de sambista é samba. O link da rádio:
http://www.4shared.com/file/13028053/f7b24606/coqueiro_velho_2.html

terça-feira, março 27, 2007

VQP - O índice "Marquinhos"

Na segunda-feira da semana passada, houve uma reunião dos gerentes da Abril no Hotel Meliá, em São Paulo. O presidente do grupo, Roberto Civita disse que o Brasil “não era desculpa” para o grupo não crescer. Que o país estava no rumo certo. Que não era o que eles queriam, e que poderia estar crescendo mais rápido, mas que era o rumo certo.

Este é o tom da Carta ao leitor desta semana. Óbvio que por um lado ela beira o ridículo caipira, com seu “índice Starbucks”.

Imaginemos agora um Índice Starbucks. Seria um indicador baseado no desempenho das cafeterias da rede americana instalada em quase quarenta países e serviria para medir a capacidade empreendedora de cada uma dessas nações, bem como o potencial de consumo de suas populações. Aonde se quer chegar? A uma informação publicada na seção Holofote desta edição. No espaço de uma simples nota, há uma notícia que esclarece muito sobre o estado atual da economia brasileira: as duas primeiras lojas da Starbucks abertas no país em dezembro, ambas em São Paulo, já ocupam o topo do ranking de atendimento a clientes das cafeterias da rede mundial.”

Olha, só dá para entender isto como besteirol intencional, para este e outros caírem de patinho e a revista gerar comentário. Eles estão falando sério? Quando saiu aquela matéria imensa, de capa, sobre a chegada da Starbucks no Brasil, muita gente no meio disse: “não pode ser, isto é jabá”. Mas eles são tão marquinhos que não sei...Eles acham que duas lojas novidadeiras na região sudoeste de São Paulo simbolizam qualquer coisa? Nossa...

“Não poderia existir momento mais propício para que Brasília desse um empurrão pondo para andar as reformas tributária, previdenciária e trabalhista e, assim, arrancar os grilhões que ainda aprisionam a economia. Isso ajudaria a levar o Índice Starbucks a todo o parque produtivo brasileiro com as previsíveis e extraordinárias conseqüências para a paz social e a elevação do padrão de vida de todos os brasileiros.”

Olhe. Existem mudanças tributárias (mais), previdenciárias (algumas) e trabalhistas (menos) que provavelmente seriam interessantes. Simplificar a tributação e cobrar no destino, não na origem do produto seria justo, mas isso sempre é barrado por São Paulo. Aprovar idade mínima de aposentadoria de 65 anos para a maioria das carreiras com nível superior e em alguns setores do funcionalismo público, por exemplo, poderia ser uma idéia aceitável, mas os neoliberais feitores que defendem a reforma querem descê-la sobre o lombo dos mais pobres...O problema no “rumo certo” que se quer com estas reformas sem se pronunciar é regredir os custos e condições da mão-de-obra brasileira aos níveis da indiana e chinesa. É o tipo de projeto de país que grande parte da nossa elite (lógico, há exceções) está viciada em pensar. Ela não quer, nem acredita, no desenvolvimento em parceria, e para, melhorar a vida da maior parte da população. Dureza...

VQP - 3 artigos sobre insegurança

A Veja já foi definida uma vez como a revista “da classe média assutada”. Três artigos, de Lya Luft, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, tratam de violência. É claro que a violência no Brasil não é normal. E é claro que ela assusta a classe média. Porque embora os índices de mortes por homicídio entre a classe média não sejam muito acima dos de primeiro mundo, os crimes contra o patrimônio e a ameaça de violência nos espaços públicos são constantes. E os efeitos da violência não estão só no ato, mas também no medo de que o ato possa ocorrer, na sua possibilidade. O desafio de escrever, e tratar, sobre violência é manter a indignação, porque de fato é absurdo, mas não cair na sua versão vazia de basta que não compreende e que a reforça. Basicamente, realimentando o paradoxo de que quem alimenta as estatísticas da violência, a morte de jovens de periferias, e quem mais sofre com as políticas que supostamente deveriam combater a violência (afinal, todos sabemos que o que realmente se advoga é menos reduzi-las e mais confiná-la aos seus limites geográficos e sociais “aceitáveis”). Eu vou passar de comentar o artigo do Azevedo, com duas exceções: 1) Ele não resiste a tentação de atacar a esquerda em todos os seus textos...2)Embora ele coloque ressalvas, nas passagens sobre o humanismo, a tese de que a moral só pode advir de uma religião é mais um capítulo do preconceito e da incapacidade de compreensão que os religiosos têm dos ateus. Proponho a seguinte pesquisa ignóbil: analisar a moral e a criminalidade em dois países vizinhos do Leste Europeu, recém saídos do comunismo e ingressos na União Européia: a de maioria atéia República Tcheca e a fortemente católica Polônia. Para quem não tiver mais nada, nada o que fazer...

VQP - Briga grande em notinha

Atente para esta inocente nota da seção Radar:

Curioso
A Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) quer proibir no Cade uma promoção conjunta da TVA e da Telefônica que oferece um pacote de TV por assinatura e banda larga por preços reduzidos. No caso, é curioso que a associação se volte contra um associado, considerando que é exatamente isso que outro associado, a NET, vem fazendo com outra tele, a Embratel, há muito tempo. Com todo o apoio da entidade.

A nota está correta. Só falta informar que a TVA é uma empresa em processo de venda, da Abril para a Telefônica. E que esta venda é estratégica para o grupo Abril saldar suas dívidas. E que a briga em torno da convergência da internet+telefonia+tv por assinatura que coloca de um lado do ringue a Abril+TVA+Telefônica(Speedy e Terra) e do outro a Globo+NET (Virtua)+Embratel+Sky e Direct TV (News Corp) é a mais importante briga do setor de comunicações do país...Ao menos na matéria “calhau” sobre o Canal Fiz que será lançado pela Abril, Veja informa que é do mesmo grupo que a publica.

VQP - Sonegando informação...

A matéria de capa da Veja é boa, noves fora fazer baião de dois para a instalação da CPI do Apagão Aéreo, o que é do jogo e do direito. Ela só tem um porém, que é um grande porém. Por que fingir que o problema da infraero e da falta de investimentos em infra-estrutura portuária é apenas de corrupção e má gestão, e esconder que o governo contingência recursos bilionários arrecadados de taxas cobradas dos consumidores, para fazer superávit primário? Ou seja, que o próprio setor gerou receita, que deveria resolver seus problemas, mas que esta foi desviada para pagar juros? Por que na matéria “A infraero não informa” a Veja não informa isso...


Sonegar informação para defender de forma exagerada seu fanatismo neoliberal também ocorre na matéria “Maior, mas do mesmo tamanho” sobre o PIB brasileiro. Último parágrafo da matéria:

“Os novos cálculos deixaram o Brasil ligeiramente melhor na fotografia internacional. Mas nem por isso desapareceram as travas que emperram o desenvolvimento. Ou, pior, como temem alguns analistas, o governo pode se inebriar com o seu "quase pibão" e enterrar de vez as reformas sem as quais não haverá como o país entrar em rota de crescimento duradouro. O "novo PIB" dá a dimensão do drama: a gastança pública foi maior do que se imaginava. Já a poupança e os investimentos ficaram menores. (grifo meu) E aí não há milagre estatístico: sem poupança e sem investimentos, o "pibinho" nunca será "pibão".”

Sobre o trecho em negrito, duas coisas: não se sabe como Veja diz, a partir do PIB, que os gastos do governo cresceram, já que o novo PIB não afeta os números absolutos dos gastos do setor público, e os reduz em termos relativos (carga tributária/PIB), informação sonegada aos leitores da revista porque contraria seu discurso ideológico. Assim como foi sonegada a queda da relação dívida PIB, provavelmente a conseqüência mais importante do novo número, junto com ele forçar os ortodoxos a refazerem suas contas de “PIB potencial” (o máximo de crescimento possível do país sem afetar a inflação) o que tem efeito nos debates sobre a taxa de juros.