quinta-feira, abril 19, 2007

O Embargo e a burrice

O bloqueio comercial (na realidade é bem mais amplo que isso) que os Estados Unidos impõem à Cuba é uma política burra em todos os sentidos: humanitário, econômico e político. Prejudica a população e faz os dois lados perderem dinehiro. Só uma besta, ou muitas em Miami, não vêem que o bloqueio ajuda Fidel Castro a se manter no poder, ao lhe dar uma bandeira e um inimigo externo, enquanto a normalização das relações permitira os Estados Unidos influenciar muito mais o país do que hoje (afinal, o dinheiro continua sendo uma das maiores forças políticas conhecidas pelo homem).
Para o que acham que o comércio faria os EUA "compactuar" com uma ditadura, fica uma pergunta e uma lembrança: o que o bloqueio comercial ajudou Cuba? E lembrem-se que os EUA manteve negócios com a África do Sul nos tempos do apartheid, sendo inclusive incentivador de aventuras militares daquele regime infame.

Com mais fluxo de comércio e mais turistas norte-americanos na ilha, do que os Estados Unidos tem "medo" (sei que não tem, é para fin de exposição...)? De serem mais influenciados pela ilhinha do que de a influenciarem?

Da Carta Maior, a insanidade do que é o bloqueio, aliás, condenado por qause o mundo todo...

"Todas essas medidas tinham como objetivo asfixiar economicamente a recém-nascida revolução cubana. Em função do bloqueio, Cuba não pode, entre outras restrições, exportar nenhum produto para o mercado norte-americano, nem receber turistas vindos dos EUA. Além disso, não tem acesso a créditos e nem pode utilizar o dólar em suas transações com o exterior. Os navios e aviões cubanos estão proibidos de tocar portos e aeroportos dos EUA. Essa política tem um caráter extraterritorial, uma vez que impede importações de subsidiárias norte-americanas instaladas em outros países e sanciona investimentos estrangeiros em Cuba. O documento observa que, para agravar ainda mais os nefastos efeitos da perda de 85% do comércio externo cubano, causada pelo desaparecimento do campo socialista europeu e da União Soviética, os EUA aprovaram em 1992 a chamada Lei Torricelli.Por meio dela, foram interrompidas as importações cubanas procedentes de subsidiárias norte-americanas em outros países, que chegavam, em 1991, a 718 milhões de dólares. Cerca de 91% dessas importações era constituído por alimentos e medicamentos. Essa lei também impôs severas proibições à navegação marítima desde e para Cuba. A partir dela, o navio de um país que atracasse em um porto cubano, não poderia entrar em um porto dos EUA antes de seis meses e mediante uma permissão especial. Em 1996, a Lei Helms-Burton aumentou os efeitos do bloqueio. Estabeleceu sanções para atuais e potenciais investidores em Cuba, autorizando ainda o financiamento de ações hostis contra a ilha. No final de 2001, pressionado pelo setor agro-exportador norte-americano, o Congresso dos EUA aprovou uma legislação autorizando que Cuba comprasse alimentos dos produtores do país. No entanto, essas importações são acompanhadas por severas restrições."

quarta-feira, abril 18, 2007

VQP - Tinha na mailing, faltou no blog

Semana passada Veja publicou uma longa matéria sobre cantoras. Das clássicas às novas, focava em cinco talentos, mas citava mais de duas dezenas dela. A cantora Céu, talvez a mais bem-sucedida e com trabalho mais consistente das cantoras da nova geração, não era sequer citada. A explicação veio ao longo da semana. Ela seria uma das focadas, mas não quis falar com a Veja. E aí Veja decidiu "vingar-se" e nem citou o seu nome na matéria. Do caso, fica a pergunta: alguém ainda acha que este boletim é necessário para alguma coisa?

PS: Sobre a mesma matéria das jovens cantoras. Uma carta de leitor corrige Sérgio Martins, que escreveu que as interpretações de Elis Regina privilegiavam a emoção ao invés da técnica. Alguém que não entende que ela conseguia combinar os dois ao mesmo tempo deveria se abster de escrever sobre MPB.

PS2: Leitor me cobra que Veja não citou Fabiana Cozza e Ceumar, enquanto colocou cantoras que sequer lançaram o primeiro CD...

VQP - Faltou no Boletim - direito de resposta

Veja finalmente publicou, na sua última página, o direito de resposta do jornalista Leonardo Attuch ao texto "O mais vendido", que responde a ataques grosseiros e pesados feitos pela revista ao jornalista. O texto completo do direito de resposta segue abaixo:

"VEJA publicou em sua edição de número 1 944, com data de 22 de fevereiro de 2006, um texto intitulado 'O mais vendido', no qual consta a informação de que o jornalista Leonardo Attuch, editor das revistas IstoÉ Dinheiro e Dinheiro Rural, estaria devendo satisfações às autoridades policiais. Em um episódio pretérito, a respeito do 'caso Kroll', o nome do jornalista foi citado como autor de determinadas reportagens, mas ele jamais foi denunciado ou indiciado pelas autoridades que investigaram tal assunto. O livro publicado por ele, intitulado A CPI que Abalou o Brasil, editado pelo selo Futura, do grupo Siciliano, teve seu volume de vendas alterado, o que mereceu sua exclusão da lista de 'Mais Vendidos' da revista VEJA. O relato da Siciliano exime o jornalista Leonardo Attuch do episódio. O jornalista também jamais foi indiciado pela Polícia Federal ou por qualquer outra autoridade policial pela prática de qualquer tipo de delito."

VQP - Capa câmbio, alô câmbio?

A matéria da Veja de capa, sobre o câmbio, tem algumas verdades. A valorização de hoje não é igual a de 1998, na medida que ela ocorre em um mercado livre da moeda, e se sustenta parcialmente no saldo da balança comercial e na melhoria do cenário internacional. Veja também está certa na sua análise da relação entre a popularidade de Lula e a economia, e que este cenário deve permanecer no futuro próximo. Há aspectos positivos no câmbio valorizado para alguns setores, como a compra de máquinas mais modernas e estudo no exterior. Eu também acho divertido comprar equipamentos e viajar para a Europa (não para a Disney...), como qualquer um. Mas há outros setores que sofrem. E a quantidade de abobrinha e besteiras na matéria ainda assim, são de revirar o estômago.

“Os mais céticos custam a aceitar que o país mudou de patamar e afirmam que a valorização do real nada mais é do que um reflexo dos altos juros brasileiros, que, segundo eles, atraem capital especulativo e distorcem o câmbio. Mas essa é a visão de uma minoria. Opiniões à parte, o fato é que os investidores dos mercados financeiros nunca depositaram tanta confiança na estabilidade monetária de longo prazo no país.”


Veja ridiculariza opiniões sérias e destrói qualquer debate. Trata quem discorda dela como idiota. É lógico, contábil e óbvio que a arbitragem de ganhos com os juros e o câmbio brasileiro atrai volumes financeiros significativos e influencia na taxa de câmbio. Inclusive pode ser ela mesmo fator de instabilidade no futuro, se a valorização for excessiva. Assim como é óbvio que não é só isso. As pessoas se preocupam com uma pauta de exportações baseadas em commodities, que hoje estão com demanda forte e preço alto, mas isso pode mudar (lembram como Veja gozava com soja por volta de 2002/2003, era o futuro do país, e como o setor quebrou fácil como um graveto em 2004/2005?).

.

Quando eu leio a matéria da Veja sobre câmbio forte falar em “darwinismo industrial”, eu lembro das vacas européias. Sim, não é industrial, mas está dentro da discussão sobre eficiência econômica. As vacas européias estão entre os bichos de estimação mais caros do mundo. Economicamente, se fossemos levar a lógica da eficiência econômica a sério, não existiriam. As vaquinhas que tem que ser protegidas do inverno europeu com subsídios não tem como concorrer com as suas irmãs australianas, argentinas e brasileiras, ou mesmo de algumas regiões do Estados Unidos. Assim como as plantas industriais de etanol baseado em milho que estão sendo erguidas nos EUA, são irracionais se pensarmos nos termos de Veja. Mas o mundo não funciona assim, e nenhum país sério, nenhum governo sério, nenhuma sociedade minimamente solidária, mesmo no capitalismo, arrebenta setores da economia como Veja acha bacana. Ela, no mínimo, tenta lhes dar uma chance de desenvolvimento. O “Brasil” abstrato tratado por Veja esmaga e não liga para setores da economia – empresas, empregos, pessoas – que poderiam estar melhor e não precisariam ser eliminados por uma destruição criativa. A desvalorização de 1999 foi o que depois permitiu a adaptação da economia brasileira a folia do populismo cambial do período 1993-1998 (que combinou câmbio valorizado com juros altos, devastando a economia). Tudo na vida traz matizes. 1993-1998 foi importante para conter a inflação. Mas não é verdade que precisava arrasar a economia para fazê-lo e depois haver o trauma e golpe da desvalorização e recessão. O mesmo vale para hoje.

VQP - Capa câmbio 2

Um amigo apontou os problemas do seguinte trecho da matéria:

“No passado, o governante de plantão interferia nas cotações para beneficiar esse ou aquele setor. Em todo o mundo, tal modelo fracassou e foi abandonado, porque trouxe endividamento, inflação e baixa produtividade.”

O autor da "matéria", o “brilhante” jornalista econômico Giuliano Guandalini, só esqueceu da Índia e da China, onde isso acontece e é a região global de maior crescimento econômico (embora este crescimento ocorra sobre uma base de PIB per capita ridícula). Óbvio. São dois países pequenos, fáceis de passar despercebidos no mapa. Afinal a China e a Índia são até citados em outro trecho da matéria... E o tema do baixo valor da moeda chinesa, mantido artificialmente, só é tratado por autoridades norte-americanas o que, toda a semana?

Na coluna que mostra que a moeda brasileira foi a que mais se valorizou em relação ao dólar, Veja não nota que assim como no fato dos nossos juros serem os mais altos do mundo, há sempre algo de estranho em ser o “mais” alguma coisa em economia. A moeda brasileira se valorizou 58%. O grupo que vai do segundo ao quarto lugar, logo atrás do Brasil, com valorizações entre 54% (Eslováquia) e 39% (Polônia) são todos países que aderiram a União Européia recentemente, o que explica em grande parte tamanha valorização das suas moedas em relação ao dólar. Isso mostra como a valorização brasileira está acima do tom, porque países em processos mais ou menos “normais” estão 20 pontos percentuais para baixo da nossa valorização, que aliás, sequer parou...

Três boas sugestões (de mercado) para impedir uma valorização excessiva do real foram dadas pelo empresário Boris Tabacof, na Folha de S. Paulo de sexta-feira:

1) rápida redução dos juros, o que não representa riscos de inflação, que seria a meta de chegar a 6% de juros reais, dito explicitamente pelo Banco Central;

2) eliminação da isenção de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos dos investidores estrangeiros em títulos públicos federais;

3) tributação crescente sobre rendimentos de capitais que ingressam para ganhar na arbitragem dos juros, por exemplo, pegando-se empréstimos com taxas japonesas muito baixas e trazendo para a aplicação em títulos com juros brasileiros, o que dá um lucro garantido de, no mínimo, 6% ao especulador financeiro, sendo a progressividade da taxação inversamente proporcional ao prazo de permanência do investimento não produtivo no país. Além da adoção de medidas que a criatividade das autoridades de Brasília têm demonstrado com tanto sucesso na criação de constrangimentos ao crescimento da economia brasileira.

VQP - Mulheres contra mulheres

A vítima da semana (a esta altura, já passada) da “coluninha da maldade” de Heloisa Joly é a deputada do PC do B Manuela D´Ávila. Heloisa está se especializando em fazer uma coluna machista com a credencial de ser mulher. São as oportunidades excitantes de trabalho na mídia grande brasileira.

VQP - é mais por aí

As matérias da Veja sobre as ameaças ao Conselho Nacional de Justiça, sobre o avanço de missionários evangélicos sobre populações indígenas e as denúncias contra Jader Barbalho são importantes.

VQP - É quase por aí...

Maílson da Nóbrega assina um artigo comparando Cuba e Dubai, sobre suas visitas aos dois países, ambos ditaduras, mas uma exaltada, porque capitalista, outra criticada, porque socialista. Além de ficar claro que democracia não é o ponto aqui (Cuba é considerada mais “democrática” que Dubai) e a simpatia de citar Mike Davis, Maílson é obrigado a reconhecer que os cubanos são altamente instruídos, cosmopolitas e saudáveis. Muito mais, aliás, que seus vizinhos do Haiti, Jamaica e República Dominicana. Mas o artigo até que é tranqüilo, pragmático e realista. Melhor que as reportagens da Veja. Quem diria: um artigo de Maílson da Nóbrega um dia seria mais jornalismo que o jornalismo...

VQP - Cite a New Yorker quando chupinhá-la

Na sua matéria de uma página sobre a polêmica em torno da língua da tribo pirahã, seria educado da parte de Veja: 1) não comprar completamente a tese, polêmica e contestada por muitos, de Daniel Everett, só porque ela rebate uma teoria científica elaborada por Noam Chomsky. 2) Citar que chupinhou a matéria da New Yorker. Ao menos citaram Chomsky sem nenhum impropério do lado...Em tempos de web e blogs, na sexta-feira quem se interessava pelo assunto já tinha ido na fonte original...

VQP - Agora e na hora de nossa morte - 2

Outro caso de obituários grosseiro da Veja


“O artista plástico americano Sol LeWitt, expoente da arte conceitual, um modismo dos anos 60 segundo o qual a idéia por trás de uma obra é tão ou mais relevante do que a sua realização final. Esse blablablá teórico não era levado em conta pelos compradores das pinturas de LeWitt, que gostavam mesmo era das cores fortes de seus murais com motivos geométricos. Dia 8, aos 78 anos, de câncer, em Nova York.”

Alguém ainda precisa de Veja Q Porcaria?

Quando comecei a analisar a Veja lá atrás, em 2002, não era banal a revista ser considerada exemplo de jornalismo parcial e mal intencionado. Hoje, olhem este post do blog Econominimo:

"Até tu, Economist?

Até a celebrada “The Economist” tem seus dias de “Veja”. No recente e extenso relatório sobre o Brasil, o correspondente Brooke Unger, além dos entrevistados citados nas próprias reportagens, lista os especialistas que ouviu para compor seus textos.

Mas, engraçado, aqueles que, procurados por Unger, não rezaram pela cartilha neoliberal da publicação, mesmo perdendo até mais de uma hora em conversas pessoais com o correspondente, ficaram de fora – não só das reportagens como também das menções no final do relatório.

Imparcialidade é isso."

Esta certo que ainda tem muita gente que acredita na revista, que segue a batida distorcida com que ela trata muitos assuntos, e que esta vai muito bem de publicidade...mas sinceramente, quem ainda precisa de uma crítica que a leve a sério, nesta altura do campeonato?


terça-feira, abril 17, 2007

FHC: o que fez e o que faria diferente

por ele mesmo, em inglês, no Miami Herald

O que fez:

In democracy, we made progress. I tried to reinforce institutions; democracy requires institutions. What is still lacking in Brazil in terms of democracy is not institutions. It is a more difficult thing. It is civic culture: the respect of the law.

Secondly, I consolidated economic stabilization. After the stabilization of the economy, we suffered an enormous financial crisis. We tried not to just look at the economy but to look at the people, education, agrarian reform and health.

O que deveria ter feito diferente:

As to whether I would do something differently? Yes, it would have been possible to float the exchange rate in 1998. Maybe I would have started the social program earlier.

I could also have put more energy into political reform.

Tradução: o câmbio estava sobrevalorizado em 1998, e sim, que maçada não termos pensado em um bolsa Família mais amplo antes do PT. Custaria tão pouco ter o apoio das massas e não parecer tão elitista...

PS: Após a histeria da eleição, e um ar conformado com o fato de Lula estar adquirindo um peso tão grande, FHC parece na entrevista mais sereno e ponderado: http://www.miamiherald.com/103/story/73571.html