sexta-feira, março 23, 2007

VQP - Azevedo X Azenha

Reinaldo Azevedo semana passada teve uma "briga de blogs" com Pedro Doria, do nominimo, em torno da tradução da fala do papa do latim em torno de casamento, a "chaga" X "praga" . Estava certo. Entende muito de latim, catolicismo e gramática. Parabéns.
Esta semana, e parece que quem começou foi Azevedo, mas, felizemnte, perdi o primeiro caítulo, começou um "tirotexto" (tiroteio de texto, desculpe a infâmia...) com Luiz Carlos Azenha.
Não é nada edificante. Mas enfim, como inventei-me, faz tempo, de fazer isso, vão os links para quem estive disposto:
Azenha:
http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=725
Azevedo:
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/

Óbvio, e sinceramente, concordo muito mais com a visão de mundo, de jornalismo e postura do Azenha.

Idéias que provocam...

Bem, citando de cara o "conflito de interesses". Esta entrevista do filósofo Paulo Arantes na Carta Maior é por conta do lançamento do seu livro, Extinção, pela editora em que eu trabalho, a Boitempo. Mas vale muito, muito a pena indicá-la. Mesmo sem concordar com tudo, é o tipo de raciocínio rigoroso e criativo que provoca e estimula a questionar lugares-comuns e falsas dicotomias. A parte sobre as guerras de Bush que existem justamente para não serem vencidas nem perdidas, mas eternas, é sensacional.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13774

quinta-feira, março 22, 2007

Coluna de Clóvis Rossi de hoje

Dois temas importantes: a maluquice de Lula chamar os usineiros de "heróis" (está com esta mania agora...deve estar assistindo o ótimo seriado Heroes...). E a quebra de contrato, pedida pelos lobbys dos bancos, que reduziram os rendimentos do FGTS e da poupança, para protegere os fundos de renda fixa (uma inversão de valores inacreditável).

Os heróis de Lula


SÃO PAULO - Primeiro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva mexeu na TR (a Taxa Referencial de juros), de tal forma que os rendimentos da poupança serão reduzidos.
Alguém aí ouviu algum outro alguém gritar "calote", "tunga", "quebra de contrato" ou algo parecido? Ou só silêncio?
Depois, constatou-se que, graças à mesma mágica besta do governo, também o FGTS será afetado, passando a ter rendimento inferior ao da inflação (ou seja, perda de renda, em bom português), dependendo do nível da taxa de juros.
De novo, gritos enfurecidos de "calote", "tunga", "quebra de contrato"? Nadica de nada, salvo uma reclamaçãozinha chocha do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, mais por não ter sido ouvido do que pela tunga. Reclamação que, de resto, só comprova uma vez mais que, no governo do Partido dos Trabalhadores, trabalhador não é ouvido nem cheirado, por mais que o presidente da República ainda se considere torneiro mecânico, profissão que não exerce há pelo menos um quarto de século.
Agora, experimente você mencionar "calote" (não necessariamente para defendê-lo) em relação à dívida pública. Cai-lhe o mundo em cima, por baixo, por baixo.
Ficamos então assim: "redutor" na TR, afetando o pequeno investidor e o assalariado, pode. Já o rendimento do grande investidor, que detém os papéis do governo, é absolutamente intocável, sagrado. Foi assim sempre, mas se tornou quase vício, verdadeiro dogma religioso no governo Lula, que fez a opção preferencial pelo mercado financeiro, ao qual dedica anualmente algo em torno de 7% ou 8% do PIB.
Dia virá em que Lula chamará de "heróis" o pessoal do mercado, como fez anteontem com os usineiros, no mesmo dia em que fiscais do trabalho encontravam trabalhadores da cana atuando em condições "degradantes".

quarta-feira, março 21, 2007

Diálogo maluco sobre o novo PIB by IBGE

Começou como um debate sobre economia. Acalorado. Aí, no meio do caminho, o IBGE aumenta o PIB em mais de 10%. E as bases do debate vão para o ralo. Aí eu digo:

Tem mais , a gente discute, discute, aí vem o IBGE, muda tudo, e a gente descobre que a vida é numerolo...ops, metodologia...De ontem para hoje acordamos 10% mais ricos, devemos ter crescido mais que alguém além do Haiti, e a dívida/PIB foi de 51,5% para 46,5%. 10% de crescimento em um dia? Seria o espetáculo (no sentido teatral do termo) do crescimento? abração e risos...

Resposta

Zé, tô tentando entender essa parada faz umas três horas. Minhas dúvidas:
Se é assim, por qual motivo o IBGE foi tão estúpido de não fazer isso antes?
Será que isto não poderá ser visto como manipulação?
Caso esteja correto, como me parece que está, será que finalmente vamos entrar em um novo ciclo de crescimento, novamente sem inflação? (não teve inflação no milagre)

Como fica a questão do investment grade?
E o PIB potencial?
Quer dizer então que a carga tributária é menor do que a gente pensava e mesmo assim trava o país? Enfim. Dúvidas, dúvidas e dúvidas.
E o meu conhecimento em economia não me permite ir além delas.To tentando ler mais a respeito. Abração

tréplica

Bem, se a carga tributária é mais baixa em relação ao PIB e ele está crescendo neste ritmo, ela não trava tanto o país assim...ao menos como se pensava...Tenho as mesmas dúvidas. Estou esperando alguém vir com uma c´ritica demolidora para começar a entender o que ocorre. Deixa eu te adicionar outras duas dúvidas:

1) Quais são os padrões internacionais de cálculo do PIB? Nos aproximamos deles, nos afastamos, ou é o samba do FMI doido, cada país tem seu critério?

2) O que os gringos vão pensar quando todos os números da economia brasileira forem diferentes amanhã..."Uau", "uai" ou "how" ?

A emenda 3 e o jornalismo de resultado

A discussão em torno da emenda 3, que proíbe fiscais do trabalho de aplicarem multas em empresas, e passa esta atribuição aos juízes do trabalho, vetada por Lula e defendida pela oposição, tem escancarado algumas máscaras. A matéria de ontem do Jornal da Globo sobre o tema era o ápice da desinformação e cinismo. Do governo à oposição, todos fingiam se tratar da questão de um "princípio jurídico" da função do fiscal, quando todos os entendidos sabem que não é esta a questão ou o que está em jogo (todo mundo ali cumpria um script...). Se fiscal não pode aplicar multa em sua área específica de competência, só juiz, policial não poderia prender em flagrante, nem guardinha da CET aplicar multa, e teríamos que ter um monte de juízes pelas ruas fazendo o policiamento...
O que está em jogo é a tentativa dos defensores da medida, o que inclui as grandes empresas de mídia, de impedirem a fiscalização (pouca) da justiça do trabalho contra a "pejotização" de empregados, que acontece inclusive nas empresas de comunicação, por exemplo, com grande parte dos repórteres e apresentadores da Globo (o boato em Brasília é que a própria empresa fez lobby pela emenda). Atuação em causa própria. E pouco se importando com as implicações disso, por exemplo, no combate ao trabalho escravo. Se os fiscais forem proibidos de atuar, acabam as missões para libertação de escravos em fazendas. É isso aí, a aparente defesa das relações (pós) modernas de trabalho defendem a escravidão. É a cara do projeto conservador brasileiro. É a cara do PFL e do PSDB fazer de algo assim uma prioridade.
Lula fez bem em vetar a emenda, mas nitidamente o governo não está jogando pesado em impedir a tentativa da oposição de derrubá-la, porque se tivesse já tinha acabado com esta história.
Para entender melhor o caso, leiam o Blog de Leonardo Sakamoto: http://blogdosakamoto.blig.ig.com.br/
E este artigo interessante sobre o caso, que saiu na Folha de S. Paulo de hoje, de Elio Gaspari:
O fantasma jurídico da pessoa física
Na mesma Folha de hoje, um exemplo da importância do trabalho dos fiscais. Blitz nos canaviais do interior de São Paulo, contra condições abusivas de trabalho de boiás-frias, nas "glamourizadas" plantações de cana-de-açucar. E com este tipo de coisa que a emenda 3 quer "acabar".

segunda-feira, março 19, 2007

O caminho da sucessão na Abril

Hoje os gerentes e executivos da Abril se reuniram no Hotel Meliá. Foi anunciada a participação de Giancarlo Civita na presidência executiva do grupo, pelo presidente da editora e seu pai, Roberto Civita. É o caminho da sucessão para a terceira geração da empresa.

Davi x Golias no Bexiga - de Gulherme Wisnik

"Roubei" este texto da Folha de S. Paulo, porque merece ser lido independente das caretices da informação restrita "para assinantes" na web.

GUILHERME WISNIK

Um dos maiores patrimônios da cultura brasileira viva, teatro Oficina continua a disputa com Silvio Santos

MAIS UM capítulo na disputa entre o Grupo Silvio Santos e o teatro Oficina: depois de induzir o destombamento e a demolição de sobrados de interesse histórico nos terrenos que adquiriu para a construção de um shopping, o Grupo SS continuou a "limpeza" da área demolindo a sinagoga Ohel Yaacov, uma das primeiras de São Paulo. Com os entulhos, tapou duas janelas do teatro, envolvendo-o em escombros. Zé Celso, por sua vez, encontrando uma estrela de Davi metálica em meio aos destroços, passou a usá-la em cena como um amuleto contra a ofensiva do Golias-Silvio Santos. Seu poder é revelar os teatros latentes por trás de cada personagem, incluindo o seu próprio, e reteatralizá-los.
Encaixadas sob os arcos de tijolo do paredão dos fundos do Oficina, as janelas foram abertas durante a montagem de "Os Sertões", indicando a intenção de expansão do espaço cênico atual (um palco-pista, como um sambódromo) para a desejada "apoteose" do teatro de estádio no terreno de trás, hoje um estacionamento.
Nascido de uma colaboração inédita entre os arquitetos e a companhia teatral, o teatro Oficina é um dos maiores patrimônios da cultura brasileira viva e um exemplo de radicalidade única no mundo. Radicalidade que não nasceu nem se alimentou de caprichos ou meros interesses expansionistas, mas, ao contrário, de uma necessidade artística: um auto-sacrifício ritual, masoquista como a própria estética tropicalista. Essa é a história inscrita no seu espaço, e determinante na decisão aparentemente insana de se demolir o antigo teatro para a construção do atual, acarretando mais de uma década de impasses em que o Oficina permaneceu em ruína.
O projeto anterior, feito por Flávio Império, "aproveitava" a estreiteza e declividade do lote construindo uma única arquibancada em frente a um "palco italiano". Ocorre que, com o tempo, o experimentalismo vanguardista da dramaturgia ultrapassou a sua estrutura física, ainda presa ao ilusionismo estático da caixa cênica. Era o coro que tomava posse do espaço, em uma concepção de encenação que tendia para o ritual, abandonando o paradigma do teatro como um lazer burguês, e radicalizando sua condição de festividade de massa, em aproximação com o Carnaval. Inspirado na tragédia grega e no teatro nô japonês, o projeto de Lina Bo Bardi e Edson Elito assumiu o terreno existente como uma pista em rampa, um "teatro de passagem", ligando a rua a um parque festivo.
Com o poder da grana e das "leis do mercado", Silvio Santos vem comendo por fora e cercando o teatro, ameaçando encapsulá-lo. Cabeça dura, e ainda mais ambicioso que o seu adversário, Zé Celso responde na mesma moeda: não faz concessões e pleiteia a cessão do terreno do "inimigo" para a construção do parque-estádio que completará o projeto original do Oficina. Sua ousadia desafia um dos maiores tabus da nossa sociedade: o direito de propriedade. Pois ele bem sabe que se o Brasil for capaz de eleger e cultivar os patrimônios que o mantêm vivo, Davi poderá vencer Golias.

domingo, março 18, 2007

VQP - PAZ, AMOR E ANÚNCIO

A revista está até que meio paz e amor com o governo nesta edição. Fala de Odílio Balbinotti, aquele que foi sem nunca ter sido ministro da Agricultura, mas cita os problemas que FHC também teve com o PMDB. E elogia o pacote de Lula para a educação. Fofo. É claro que trata-se de coincidência (mesmo), mas é também a primeira vez em muuuuito tempo que surge um anúncio de estatal ou do governo federal na revista. É um de página dupla do Banco do Brasil.

VQP - DUAS BOAS MATÉRIAS

A matéria “Eu sou capitalista” dae Juliana Linhares e Marcelo Carneiro, sobre as atividades de lobbista de José Dirceu, é ótima! José Dirceu é um daqueles assuntos paradigmáticos, como Guerra do Iraque, Cuba etc...Quem ainda acha que o cara é de esquerda, ou luta por ela, ou é ingênuo ou está de engodo também. . Quem acha que no governo ele era o contraponto de “esquerda” de Pallocci, não entendeu nada...A grande causa de José Dirceu, e isso faz muito tempo, é José Dirceu. E a lógica fisiologista-arrivista de parte (grande) do PT, como os citados na matéria Candido Vacarezza (o que negocia apoio de Maluf para Marta em 2008), Arlindo Chinaglia, eleito presidente da Câmara para tentar aprovar a anistia de Dirceu, e Carlos Zaratini. A chegada da anistia dele no congresso é aguardada com água na boca pela oposição ao governo Lula. Porque irá consumir o capital político que ele ganhou no segundo turno, desmoralizando o governo, e os dará uma bandeira excelente, porque corretíssima. Pra que? Para uma ala do PT recuperar seu capo e Dirceu sonhar em ser governador de São Paulo ou presidente do Brasil, o que não será, jamais. Ridículo...

- A matéria de Marcelo Bortoloti sobre o drama da modelo Bia Furtado, queimada em um ônibus incendiado por traficantes no Rio de Janeiro, é emocionante.

VQP - KANITZ JURA QUE NÃO JUROS

No seu artigo desta semana, Stephen Kanitz defende a queda dos juros, “ao lado” de Dilma Rousseff, para redução dos ganhos da renda fixa, vulgo, rendimentos de juros por conta da alta taxa de juros. “O custo do capital no Brasil é alto porque os juros da dívida interna são altos”. Kanitz escreve que com a queda dos juros, o capital no Brasil deixará de ter sua “estabilidade de funcionalismo público” (a expressão é minha, não dele) atrelado a Selic, sendo forçados a investir em projetos reais. Sensacional até aí. Kanitz explica porque os juros altos impedem o crescimento do Brasil (e o aumento da taxa de investimento, seja pública ou privada). O engraçado é quem ele culpa pelos juros altos: os economistas desenvolvimentistas, começando por uma leitura no mínimo simplista das idéias de Celso Furtado (e ignorando completamente o contexto delas...). Os desenvolvimentistas defendem a queda de juros há anos, contra os economistas associados ao setor financeiro, que defendem, e lucram, com as altas taxas. É bacana que Kanitz não invista em renda fixa por razão ética, como diz no texto. Ele poderia até relacionar a necessidade do estado financiar seu déficit com os juros altos, e a (possível) contradição dos desenvolvimentistas entre pedir mais gastos públicos ao mesmo tempo de queda de juros. Mas não é disso que o artigo trata. Ainda assim, este artigo de Kanitz, vindo de onde vem e publicado onde está, já é uma evolução.

VQP - O DESMATAMENTO NÃO GOSTA DE ÍNDIO

Duas cartas de leitores desta semana, atacando índios, Funai, CIMI, Ibama etc.., chegando a chamá-los de “terroristas” e o escambau vêm de cidades do Mato Grosso: Colíder e Vila Bela da Santíssima Trindade. São cidades de fronteira agrícola, onde grileiros, desmatamento, trabalho escravo e homicídios agem em nome do “prugresso”, aqui em aliança com a “pós-mudernidade” da Faria Lima-Berrini. Isso não significa que estas pessoas estejam necessariamente associadas à isso. Seguem abaixo:

“Pergunto, muitíssimo indignado: até quando órgãos públicos como a Funai e o Ibama serão gerenciados por pessoas incompetentes? Num país onde não há governo central, os dirigentes de órgãos e autarquias deitam e rolam, praticando as mais absurdas estripulias. Desconsideram as leis e o mais elementar bom senso, como ocorre com o Ministério do Meio Ambiente na demarcação de áreas de preservação sobre fazendas produtivas. Até quando?
Fernando Nunes da Cruz
Colíder, MT

Funai, ONGs, Cimi. Poderíamos chamá-los de terroristas do meio rural brasileiro. A pretexto de proteger nossos índios e minorias, espalham mentiras, pobreza, fome e, principalmente, preservam um imenso pedaço do território brasileiro como reservas indígenas para que países do Primeiro Mundo nos tomem quando bem entender. Parabéns ao repórter José Edward pela clareza e imparcialidade.
Luciano Barbosa
Vila Bela da Santíssima Trindade, MT

VQP - PAPAS, PRAGAS E CHAGAS

Durante a semana, uma polêmica mobilizou os blogs de Pedro Dória e Reinaldo Azevedo. O papa disse na sua “exortação apostólica” que o segundo casamento é uma “praga”, como na tradução oficial do Vaticano do latim para o português e como publicou e comentou a Folha de S. Paulo, ou “chaga” como defendeu Reinaldo Azevedo. Veja assumiu “chaga” até na legenda, mostrando como a vaidade do seu blogueiro tem contaminado a edição da revista...Enfim, se é chaga ou praga, eu prefiro perguntar questões mais relevantes, como: seria tal opinião do papa baseada em suas experiências matrimoniais? Queria ele dizer que as coisas começam a ficar boas não no segundo, mas sim no terceiro, talvez no quarto casamento? Alguém que nunca se casou quer dizer para a Dona Maria e o Seu João que eles tem que agüentar um parceiro que não amam, ou não suportam ou que batem nele, e que Deus assim quer que seja? Que chaga...

VQP - A PREVIDÊNCIA DA SUECÍNDIA

Poucos temas são mais chatos e mais importantes que sistemas de previdência. Antonio Ribeiro, de Paris, escreve “A pensão Viking” sobre o sistema sueco de previdência, baseado em poupanças individuais, como apregoa o neoliberalismo. Em tese, este sistema compensaria o envelhecimento da população. A lógica de “poupar hoje para gastar amanhã” faz sentido perfeito aplicada individualmente. Mas o sistema econômico não funciona assim. A poupança feita hoje, para ser gasta amanhã, tem que estar lastreada na economia de amanhã. As aposentadorias sempre serão pagas pela atividade econômica de hoje, não de ontem. Seja através de impostos redistribuídos pelo Estado (o sistema brasileiro atual) ou de rendimentos dos recursos acumulados e investidos pelo sistema financeiro (o sistema de contas individuais). Uma das diferenças do sistema é justamente quem controla a bolada, o Estado ou o sistema financeiro privado. Detalhe, a transição de um sistema para o outro custa uma fortuna e foi o que derrotou esta proposta, de W. Bush, nos Estados Unidos. “Na Suécia, aclamado estado de bem-estar social, a Previdência não funciona como um corretor de desigualdades. A contribuição previdenciária de um banqueiro de Estocolmo não subsidia a aposentadoria de um pescador de bacalhau. Cada um recebe o que pagou.” Bem, eu adoraria que minha mãe recebesse ao menos metade do que pagou, mas FHC fez isso ser impossível (vide “fator previdenciário). A Suécia, para começo de conversa, tem um sistema de ensino suficientemente igualitário para ser um país que as pessoas tem uma “largada” mais justa que o Brasil. Veja odeia a idéia de qualquer solidariedade nacional que possa dar cola à isto que deveria ser uma sociedade. Depois reclama da violência. Imagina o efeito de arrebentar-se a distribuição de renda feita através de programas de previdência...O sistema pode perfeitamente funcionar na Suécia. A previdência brasileira é cheia de absurdos, principalmente no funcionalismo público. Mas a discussão de reforma aqui beira o ridículo. Todos os neoliberais que discutem idade mínima de 65 anos, fingem que é a mesma coisa um médico, um advogado, um engenheiro, que tem ensino superior e começam a trabalhar depois dos 20 anos, e que tem expectativa de vida maior, e devem realmente se aposentar mais tarde, com pedreiros, motoristas de ônibus, empregadas domésticas e trabalhadores rurais que começam a trabalhar mais cedo, tem expectativa de vida menor e profissões desgastantes. Eles não têm dó nem negociam o sarrafo do aumento das desigualdades que propõem nas costas dos outros. O mesmo problema contamina a discussão da emenda 3 do projeto da Super Receita. A emenda propunha que auditores fiscais federais não poderiam apontar vínculos empregatícios entre empregados e patrões, mesmo diante de irregularidades. Somente a Justiça do Trabalhoé que estaria autorizada a resolver esses casos. O Estadão de sábado publicou a seguinte manchete “imparcial”: “Lula insiste em superpoder de fiscal”, porque o presidente vetou a emenda. Quem lê a matéria, parece que o problema só trata de profissionais liberais na Faria Lima. Na realidade a emenda acabaria com o combate ao trabalho escravo no país. É esse mínimo de sensibilidade e esta aliança com o atraso que desmoraliza os conservadores neste país...

VQP - O GRANDE IRMÃO ATACA SEU BROTHER

Marcelo Marthe assina o ataque de Veja a proposta de uma rede de TV federal, que ainda não sabemos se será estatal e pública. A mídia grande brasileira é engraçada: ela crê que a diversidade de fontes de informação faz mal para a liberdade de imprensa...Bom mesmo é o monopólio de meia dúzia de famílias...Marthe recria entre aspas os “princípios da democracia”, do próprio punho: “O governo faz, a imprensa avalia e o público julga.” Como assim, só a imprensa avalia? E quem avalia a imprensa? Vale aqui citar o final da coluna de hoje do Ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba:

“Chega de estatísticas. O ponto é que, na minha opinião, as empresas jornalísticas erram ao represar uma discussão que cresce a cada dia e será incontrolável. Ao não atentarem para a importância do debate que as envolvem perdem confiança e credibilidade. O melhor a fazer é enfrentar a discussão e os questionamentos com profissionalismo e honestidade, informando, expondo claramente as suas posições sobre cada um dos temas e abrindo igual espaço para as dezenas de outras posições que convivem na sociedade e estão insatisfeitas com o modelo atual. Enquanto a discussão não for ampla, ficará sempre polarizada entre empresas e governos, e sempre tenderá à irracionalidade. A garantia do espaço para a discussão é uma das responsabilidades do jornalismo.”

O link para a coluna completa está aqui: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsma/om1803200701.htm

E a definição de que o debate entre imprensa e governo sobre a comunicação é “irracional” é perfeita. As mídia brasileira, é formada de empresas familiares rançosas e ultrapassadas, cada diz mais para trás do resto da sociedade brasileira em termos de diversidade de opiniões, e cada vez mais fechadas entre si e dentro delas, na defesa de uma opinião monocórdia, principalmente em torno dos seus interesses financeiros.

VQP - MAINARDI X MARTINS NO RINGUE DA GLOBO

Tava na cara. Com a indicação de Franklin Martins para o ministério da Comunicação Social, Diogo Mainardi ia voltar ao tema e sua briga com ele. É lógico que com a indicação, e caso Martins aceite, Mainardi ganha pontos na briga, onde acusa Martins, como comentarista e chefe e diretor da sucursal brasiliense da Rede Globo, de ter sido leniente com o governo Lula e faz disso uma ilação com cargos ocupados por sua esposa na liderança de governo do Senado e do irmão de Martins na Agência Nacional de Petróleo. Mas o que Mainardi, funcionário também das Organizações Globo, no mundo de luta em preto e branco entre ele e Martins não diz, é que se para ele, Martins usou a Globo, não é difícil se perguntar porque a Globo, logo que o governo Lula começou, indicou alguém com relações boas com o PT e a esquerda para chefiar sua sucursal de Brasília. Ou seja, Mainardi não dá a pincelada de cinza dos interesses da Globo em dar uma azeitada extra sua relação com o governo federal, que depois, com Hélio Costa, mais que azeitadas, tornaram Martins dispensável. E tem muito cinza no mundo...

VQP - Pauta boa de pau!

Se Veja quer achar uma boa e justa pauta para esculhambar o governo, o país e etc...a tem bem debaixo do seu nariz com o ridículo processo de “preparação” para a Copa de 2014, com a esdrúxula, absurda, ofensiva postura de Ricardo Teixeira de “quem decide as cidades sedes sou eu”, sendo que quem vai bancar, com a maior farra com os cofres públicos, é o governo, ou seja, nós, com a Marta querendo sentar em cima da bolada, e a TV Globeleza parceirinha do esquema (com está sendo no Pan, com sua cobertura chapa-alvíssima)... É triste não poder ficar feliz e empolgado com a possibilidade e benefícios que uma Copa poderia trazer ao país. É muito triste ter que ficar indignado com as armações de Ricardinho, o “dono da bola”, com o beija-mão e subserviência de políticos eleitos e da total falta de democracia e transparência (e show de incompetência e compadrio) que será a preparação para esta Copa. É triste ter que ficar triste com algo que poderia dar tanta alegria.

Veja 2000!

Da Carta ao leitor, comemorando a edição 2000 da revista:

“Ao lançarmos um olhar sobre o tempo que nos separa da criação de VEJA, sobressai a constância, semana após semana, na obediência a certos princípios que definem o que se chama de "linha da revista". Um deles é a busca incessante – muitas vezes até temerária – pela informação exclusiva, confiável e independente. Outro é a preocupação em fornecer ao leitor análise clara e honesta sobre os fatos relatados, contextualizando-os no tempo e no espaço.

O Brasil é o único país do mundo em que uma revista semanal de informação é a revista de maior circulação. VEJA alcançou esse posto graças à aprovação de seu jornalismo por milhões de leitores e milhares de anunciantes, com os quais forma uma comunidade unida na defesa da democracia representativa, das liberdades individuais e da livre iniciativa.”

“Análise clara e honesta sobre os fatos relatados”. Beleza então.

No especial sobre suas 2000 capas, diz o seguinte:

“Uma grande revista precisa ter coração, consciência e pontos de vista francos. Precisa ter isso tudo em cada uma de suas edições durante décadas. A consistência é qualidade nobre.”

Tá certo, então...

VQP - Assim se reescreve a história

No especial, Veja tenta distorcer uma das maiores polêmicas da sua história. A cobertura da morte de Elis Regina. Para isso a ofende de novo com um quadro intitulado “a cantora do contra – como Veja”. Não. Elis não era simplesmente “do contra”, ainda que se definisse assim, de forma modesta... Muito menos como a Veja.

- Em outro quadro, Veja lembra a capa e a pergunta de dar uma “banana” para o mercado americano foi coragem ou estupidez. “A realidade deu a resposta: estupidez.” Engraçado é que é difícil achar meia-dúzia de analistas internacionais que subscrevam isso. Até W. Bush falou que os países não podem dar de graça que os EUA vão querer abrir mercados para eles. Veja diz que as questões comerciais se tornaram muito sérias e complexas para ficarem nas mãos do Itamaraty (que como todo mundo sabe, é formado por gente muito burrinha...) e que houve predomínio do ideológico sobre o racional na política externa. Acho que é o contrário. Veja que sofre da síndrome de “Marquinhos” (ver Sobrinhos do Athayde...)

Veja ainda ressalta entre as capas às edições 1905, que detonou a crise do mensalão, e a 1912, que derrubou em uma tarde José Genoino da presidência do PT. Foram, de fato, as suas duas melhores edições na crise. A matéria de capa da 1912, particularmente, é perfeita e irreprensível. Por isso derrubou Genoino. Ou seja, até eles sabem a diferença de quando acertam e de quando forçam a barra, como na 1956, quando foram cúmplices de Dantas em uma tentativa de armação de contas no exterior de Lula e alguns ministros, um episódio de quinta...