quinta-feira, março 13, 2008

O FIM DO VQP

Veja Q Porcaria? Aquele blog(sic) que "fala mal" da Veja? Caput. Finito. Zéfini. Parrrtiu!

E isso já faz tempo. Aqui é só porque cabe ainda acabar o porque. E lançar uma campanha mais urgente, um verdadeiro puxão de orelha pela liberdade da imprensa no Brasil.

O porque do fim do VQP é porque não tem mais porque. Hoje, a concorrência é grassa, grossa, ruge e urge por aí. Não estamos mais em 2002, e analisar a Veja como exemplo de péssimo jornalismo é tão redundante quanto fazer pipi no rio Pinheiros. E qualquer um teria mais a fazer do que ler, levando a sério (?!?) a “maior revista semanal do país” (cuja tiragem equivale a 0,5% da sua população, é bom lembrar para colocar o que parece grande na sua devida proporção).
Hoje, quando algo sai na Veja, qualquer pessoa que não seja louca vai analisar a matéria para ver se pode ou não ser levada a sério. Nenhuma revista sofre leitura, ou melhor ainda, não-leitura, tão crítica.

Também posso ficar sossegado por conta de duas figuras de proa e convés, que hoje ocupam o espaço de ridicularizar a Veja de maneira mais eficiente do que eu jamais fui capaz. Em ordem alfabética, para não ser injusto, estou falando de Luis Nassif e Reinaldo Azevedo.

O trabalho de ambos é incrível!Para quem tem idade para se lembrar do Nassif da Folha de S. Paulo nos anos FHC, o Nassif do seu blog nos anos Lula é algo que merece ser chamado de “nunca antes nesse país”. Digo isso sem sacanagem. Acho legal. A entrevista dele na Caros Amigos deste mês é ótima, a análise dele sobre blogs, a emergência da classe D na opinião pública, e como idiotas cada vez mais idiotas se sucedem no comando da revista, se nunca escrevi isso já o disse em muitos botecos. O dossiê dele sobre a revista então, excelente. Vale a pena ler. Aliás, acho que a verdadeira razão desse texto é avisar aos amigos de uma vez só que eu sim, estou acompanhando-o, não precisam indicá-lo mais para mim não...

Nassif tem investigado os interesses escusos da revista, além da sua inépcia, que era mais o foco do VQP. Uma obviamente está ligada à outra, e é isso que ele mostra. Dá um google por "Nassif" e "Veja" e leia...

Agora, quem tem mandado bem mesmo em ridicularizar a Veja é Reinaldo Azevedo e seu blog. Essencial. Fantástico o quanto apenas um homem obstinado é capaz de fazer para estigmatizar um veículo de imprensa. Claro o terreno era fértil, adubado. Mas observe, até o Mainardi ficou pequeno após o incrível, educado, polido, roliço, democrático, investigativo, nada conspiratório, prolixo ou egocêntrico blog do Reinaldo Azevedo. Leitura obrigatória para aqueles que querem entender a realidade por meio do método da psicologia reversa aplicado ao pseudo-jornalismo. Basta usar a fórmula matemática de inverter os sinais e dividir pela metade tudo que ele diz que você vai ter uma opinião razoável e equilibrada sobre qualquer assunto.

Agora, respire fundo, que o período é longo, sisudo, mas vamos lá: ao agrupar toda a natureza raivosa e alucinada do mais tosco conservadorismo em um só lugar, e ainda agregar seguidores em torno dele, Azevedo faz o favor de explicitar a dimensão da merda alucinada do conservadorismo a brasileira, em tempo real, o que antes era uma mera hipótese. Lovely!

Gente, o cara ainda é trotskista e está comendo o sistema por dentro, não entenderam? Afinal, só pode ser como piada que alguém defenda a guerra do Iraque e o W. Bush hoje em dia (desculpe Kamel, eu sei que você fala sério, mas é verdade).

Pena que Azevedo jamais terá o reconhecimento que de fato merece. A vida tem dessas mesmo. A direita brasileira jamais vai agradecer a esquerda por essa ter impedido que a paridade do real com o dólar fosse parar na Constituição, como na Argentina, o que faria ainda mais desastrosa a crise de 1999. Ou a privatização completa da Petrobras, o que faria a descoberta de Tupi quase indiferente para o país. E Lula jamais vai agradecer a imprensa que derrubou (na realidade, eles se derrubaram...) Antonio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken. Com a substituição deles, o governo melhorou muito. É, as vezes ajudamos alguém ao tentar prejudicá-lo e vice-versa.

Mas já estou desviando do assunto, e ainda tem um relacionado a Veja que me incomoda. Desde que soube disso, ocupa a minha cabeça...Uma questão importante, não abordada e fundamental para a liberdade do exercício do jornalismo no Brasil contemporâneo.

O problema é sério. OS JORNALISTAS DA VEJA NÃO PODEM USAR BRINCOS NA REDAÇÃO.

Verdade. Estamos no século XXI, os valores ocidentais da liberdade em permanente ameaça jihadista, e os jornalistas homens da Veja estão privados de se expressarem na redação pendurando adereços decorativos nas suas orelhas, mesmo que discretos.

Incompreensível. Observe, eu entenderia, sem concordar, que não permitissem o uso de brincos ou algo aberrante durante uma entrevista com um chefe de estado conservador, ou em um país onde não fosse costume, mas proibir o uso da jóia no ambiente próprio da redação? Quem liga para isso?

É uma hipocrisia. Fala-se de liberalismo e ataca-se a obrigatoriedade do véu, e não liberam um mero brinquinho...

É uma injustiça. Defende-se a guerra do Iraque, publicam baboseiras e não se pede desculpas, quer para o Brasil a política externa e comercial do México, de tratados de livre comércio com os Estados Unidos. Esta fracassa e a brazuca dá certo e não se dá uma nota. Diz que o final de Fidel Castro é decadente (sem dizer o mesmo do Bush) só porque ele enfim, ficou velho, doente e vai morrer como absolutamente qualquer um (pensando bem, acho que era um elogio, pensavam que era imortal?). Inventam um furo mundial de 40 anos com a tese de que Che Guevara era apenas um psicopata. E nenhuma gratidão?

É isso gente, os jornalistas da Veja, que tantas fazem quando tantas fezes, apesar de tudo são obrigados a tirarem seus brincos no hall do edifício Abril. Será que nada vale aquela noite em que, corajosamente, após todas as redações evacuarem o prédio, fecharam a revista sob o risco de caírem no buracão das obras do Metrô?

Fezes, evacuarem, buracão...este meu texto está um pouco gráfico demais...Mas é impossível não pensar na importância da iniciativa privada ao falar da Veja. E claro, também da descarga.

O que será que existe em um brinco, talvez dois, de tão subversivo? Seria algo simbólico de uma coisa maior? Que neste gesto se encerra algo a mais sobre liberdade de escolha, de opções? Hoje um brinco, quem sabe amanhã pensam e escrevem por si mesmo, tomam outros rumos nas suas vidas ou até questionam as virtudes literárias e jornalísticas do Mario Sabino, e empresariais do doutor Roberto e seus Civita?

Assim não pode continuar!Por isso, o VQP parte definitivamente dessa para muito melhor, deixando esta importante campanha: liberdade para as orelhas dos jornalistas da Veja! Porque liberdade de expressão já é pedir demais...

Grato pela atenção dispensada em todas as encarnações do boletim,
José Chrispiniano