segunda-feira, maio 05, 2008

Apenas 41 anos atrás, havia leis contra casamentos inter-racias nos EUA

Hoje morreu Mildred Loving. Quem foi Mildred Loving? Uma mulher negra que teve que entrar na justiça e lutar até a suprema corte para poder casar com um homem branco. Ela não morreu com 100 anos, o que não faria a história mais absurda, apenas mais velha. Ela morreu com 68. Sua ação para acasar aconteceu 41 anos atrás, em 1967. Até então, 17 Estados norte-americanos ainda tinham lei que proibiam e/ou restringiam casamentos inter-raciais.
Quando as pessoas exageram no samba-exaltação dos Estados Unidos, é bom lembrar que uma geração atrás ainda havia esse tipo de lei aberrante no país. Também é bom para refletir que embora tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil existe racismo, ele se manifesta de maneiras e com conseqüências diferentes. O Brasil tem uma miscigenação e uma interação entre as raças que não se compara aos norte-americanos. Em compensação hoje nos Estados Unidos os programas de ação afirmativa e a riqueza geral da própria sociedade perimitu que as condições médias de vida dos negros de lá sejam bem melhores, assim como a ascenção de uma classe média e uma classe alta negras.

Mais sobre Mildred Loving (em inglês) no link abaixo:

http://news.yahoo.com/s/ap/20080505/ap_on_re_us/obit_loving

Marcha da maconha

Surreal o que virou (muito por conta da militância da Globo) as proibições judicias da Marcha da Maconha. A Marcha é um pedido para uma mudança de lei, não a favor do consumo de drogas e é impressionante como uma simples marcha para tirar uma substância que é nociva, claro, mas bem menos nociva que o álcool ou que os custos sociais da sua repressão, das mãos do crime assusta certos setores...Estes, rapidamente assassinaramo direito a livre manifestação política...
Até porque a marcha é o último lugar que alguém iria consumir drogas.
Isso é meio pessoa, mas enquanto certa esquerda cai para o politicamente correto, esse filho bastardo do puritanismo, fico feliz que uma pessoa como Renato Cinco, que conheço faz tempo, siga persistente em um tema que a esquerda adora subestimar (quando não tem posições iguais aos conservadores sobre o assunto)...

"Velhinhos" indo da direita para a esquerda

Dizem que ser de esquerda é coisa de juventude, e conforme se envelhece, se ruma a direita...

A Folha de S. Paulo de hoje traz dois bons artigos na direção contrária. Duas pessoas que não são exatamente (eufemismo) de esquerda, nem são jovens: Bresser Pereira e Gilberto Dupas, escrevem interessantes artigos à esquerda.
Dupas reclama do fim das utopias, quase lamentando as reformas em Cuba e a China capitalista. Bresser Pereira escreve um interessante artigo desancando as elites latino-americanas que condenam de forma simplista polítocs como Fernando Lugo, Evo Morales e Chavez. O de Bresser Pereira é ótimo porque para entender esse tipo de político, ele analisa o tipo de sociedade, elite e oposição que há nesses países. E aponta o dedo de como é uma vergonha que setores no Brasil (vulgo Veja style) "comprem" as bandeiras políticas das retrógradas elites locais.

PS: A proposta de um "Plano Marshall" do Brasil para o Paraguai, envolvendo principalmente o BNDES, mas também a Embrapa e a extensão para o país das culturas de soja e etanol de cana-de-açucar, mais a Petrobras e outras entidades brasileiras, inclusive inicativa privada, mostra como o repertório de ações de integração pode ser muito, mas muito mais rico do que a mentalidade "querm nos tungar" ou "sempre cedemos" de um Guzzo que escreveu na Exame. Esse pessoal é muito tosco e ainda bem que estão mais longe do que nunca do comando e da linha do Itamaraty.






LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Governar países pobres


Não há mal no populismo político, condenável é o populismo econômico, ou seja, gastar mais do que arrecadar

A ELEIÇÃO no Paraguai de um candidato de esquerda e nacionalista, Fernando Lugo, é ao mesmo tempo um sinal de avanço da democracia e mais uma indicação do aumento da distância entre as massas e as elites. Entretanto, apesar do aumento da fratura política entre pobres e ricos, estes continuam poderosos, com freqüência aliados a interesses externos, e a probabilidade de os novos governantes lograrem êxito na promoção do desenvolvimento econômico com eqüidade é pequena.
São muitos os obstáculos que os líderes políticos de países pobres enfrentam. Quanto mais pobre é um país, maior será a diferença entre pobres e ricos, menos informada politicamente será sua população, menos organizado será o mercado e mais fraco o Estado. Como a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente por meio do mercado, mas do Estado, a probabilidade de que facções das elites recorram ao golpe de Estado quando se sentem ameaçadas é sempre grande.
Para avaliar a enorme dificuldade em governar esses países, basta comparar os países pobres e os de renda média que elegeram governantes de esquerda. Enquanto na Venezuela, no Equador e na Bolívia tivemos ameaças recentes de golpe de Estado, no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai essas ameaças estão ausentes. Quanto mais pobre o país, menos consolidada será sua democracia e mais arriscado e difícil será governá-lo.
Entretanto, como as elites locais dos países mais pobres estão quase sempre associadas às potências externas e às suas elites, o que vemos na imprensa, além das ameaças de golpe, é o julgamento negativo dos seus governantes. Primeiro porque esses governantes são incômodos aos países ricos na medida em que decidem defender os interesses nacionais via aumento dos impostos ou royalties sobre seus recursos naturais (quando não decidem nacionalizar alguns deles). Segundo porque as elites locais se sentem ameaçadas pelo líder político, embora sua prática raramente lhes prejudique.
Terceiro porque as elites dos dois tipos de países insistem em julgar esses líderes de acordo com critérios adequados a países desenvolvidos, em vez de compreenderem que os padrões mais baixos de desenvolvimento político exigem igualmente padrões menos rigorosos de avaliação.
A acusação que resume tudo é que o líder é "populista". De fato, se for realmente um líder, ele será populista, pois populista é o líder político que logra estabelecer um contato direto com o povo independentemente dos partidos e das respectivas ideologias. Ora, na ausência de partidos ideológicos, não há alternativa a esse contato direto. Não há mal, portanto, no populismo político, que é geralmente a primeira manifestação política do povo nos países pobres.
Condenável é o populismo econômico (o Estado ou a nação gastarem mais do que arrecadam), mas, muitas vezes, líderes populistas políticos não são populistas econômicos, pois sabem que precisam cuidar das finanças internas do Estado e das externas da nação para se conservarem no poder.
Em síntese, quando um líder nacionalista alcança o poder, ele enfrenta tantas dificuldades e obstáculos que não há garantia de que a nação que governa será beneficiada, mas, quando suas elites rejeitam seu povo e se associam às elites externas, não há nenhuma dúvida de que a nação estará sendo esquecida, e a democracia, desprezada.


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação:
Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br