terça-feira, maio 15, 2007

Os porques de Fidel ser contra o etanol

Fidel escreveu mais um artigo contra o etanol, agora especificamente contra o feito a partir de cana-de-açucar, no Brasil. A sua inspiração foi um documentário da ativista brasileira Maria Luisa Mendonça. Ele não precisa mentir para apontar problemas no combustível, como a superexploração dos trabalhadores, e os danos a terra e a água. São fatos. Mas esta militância contra o etanol assumida por Fidel, que surpreende (grande parte da esquerda sempre defendeu biocombustíveis, e o petróleo tem problemas maiores que ele...) se explica, na minha opinião, e acho impressionante não ter visto comentários sobre isso, por dois motivos que combinam política energética e geopolítica (aliás, ambas são casadas com comunhão de bens). O primeiro é óbvio, sua aliança com a Venezuela exportadora de petróleo e dona de uma diplomacia baseada em hidrocarbonetos e seus rendimentos. O segundo é que Cuba sempre teve tradição de produção de cana-de-açucar, e em despacho da Associated Press, empresários americanos divagam abertamente sobre uma "Free Cuba" como fornecedora potencial de etanol para o país.
O problema de Fidel com o etanol pode ser resumido da seguinte forma: se o Brasil seria a "Arábia Saudita" do biocombustível, Cuba tem tudo para se transformar no "Iraque" do etanol. A potencialidade econômica do combustível pode estimular a beligerância norte-americana.
Esta é a razão não dita para as preocupações de Fidel com o assunto. Seu último artigo pode ser lido no link abaixo:

http://www.granma.cu/espanol/2007/mayo/mar15/lo-que-aprendimos-del-vI-encuentro-hemisferico-la-habana.html

segunda-feira, maio 14, 2007

VQP - Dois países, duas eleições, duas medidas

Para falar da "matéria" da Veja sobre a eleição de Nicolas Sarkozy na França, o mais divertido é comparar a cobertura do pleito francês, vencido pelo candidato que tinha a simpatia da revista, com o brasileiro. Logo após o segundo turno, Veja publicou uma capa em que perguntava como o vencedor, Alckmin ou Lula, uniria um país "dividido". Dá-lhe mapa dos estados "ricos" e que menos "dependem do Estado" onde Alckmin venceu no primeiro turno e dos "pobres" onde Lula ganhou. A baixa qualidade da análise fica patente pela velocidade em que ela se desfez. Alckmin perdeu votos do primeiro para o segundo turno. Em São Paulo, ainda ficou na frente, mas a diferença caiu 15 pontos percentuais, de 20 no 1° turno "dividido", para 5 na hora da verdade do 2° turno. No país como um todo, a vitória de Lula foi avassaladoraO que isso mostrou? Que não havia país dividido, e que a votação de 1° turno teve um sentido de "susto", "sermão" em Lula, mas que as pessoas não queriam Alckmin e o que ele representava no poder. Veja jamais analisou isso.
Voltemos agora para a França. A chamada de capa é a seguinte "França: aposta em um futuro de direita". Parece mentira, mas Veja não publica que a diferença entre Sarkozy e Ségolène Royal foi de apenas seis pontos. Que a massiva participação no processo eleitoral indica uma sociedade polarizada e indecisa em torno da necessidade de desmonte do estado de bem-estar social, e na relação com os descendentes de imigrantes... A matéria faz um oba-oba em torno da personalidade de Sarkozy (assim como Veja sempre foi simpática a Berlusconi, Aznar e Menem, argh!), monta um paralelo descabido entre ele e Tony Blair, que está se aposentando e manchou um governo com desempenho interno incrível por ter montado na garupa de Bush, e só termina indicando que "vem turbulência por aí". É a maneira de desqualificar previamente os protestos que certamente acontecerão quando Sarkozy colocar suas propostas na rua. Matéria de muito mais senso, reportagem, clima e rua, também de correspondente em Paris é a da Carta Capital(aliás, é impressionante, como ter um correspondente em Paris, parece não fazer diferença nenhuma no texto da matéria...).

VQP - Veja mente sobre USP e autonomia

Cachorros são cachorros...A revista Veja mente ao falar sobre ensino superior na edição que está nas bancas. O sentido da mentiras é claro.
No textículo de uma página intitulado "No caminho certo", pateticamente assinado por Camila Pereira, mas "pensato" (sic) por Reinaldo Azevedo, sobre a invasão da reitoria da USP, a revista Veja mente ao dizer que o problema é apenas que "as universidades se recusam a entrar no Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafi)". Não é este o problema. O problema é que com a criação da Secretaria de Ensino Superior, com a reformulação do Conselho de Reitores das Universidades do Estado de São Paulo (Cruesp), e novos decretos, Serra passou por cima da lei e acabou com a gerência interna de recursos na universidade, a autonomia financeira. Na prática, interveio na universidade.

O último parágrafo do artigo é uma elegia ridícula: "O governador Serra cumpre seu papel de administrador ao enfrentar esses problemas e resistir às pressões corporativas. Age com a autoridade de quem foi presidente da União Nacional dos Estudantes e teve longa carreira como professor em instituições como a própria Unicamp e Princeton, nos EUA. Não é ele quem quer destruir a autonomia da USP."

Não é que ele queira. Ele já destruiu. Basta ler esta matéria da Folha de S. Paulo, que pode ser acusada de tudo, menos de ser um jornal anti-serrista: Universidade só pode mudar gastos com decreto de Serra (para assinantes).

Isso é o fim da autonomia financeira da USP. E mostra como a Veja sabe fazer, sei lá se de forma espontânea ou estimulada, matérias e versões de encomenda para Serra, mesmo que elas sejam mentiras absurdas.
PS: Observe que a questão do mérito ou não de como eles cobriram a invasão em si, da opinião deles sobre ela, nem foi tratado. Impressiona mais a mentira e manipulação descarada do ataque de José Serra a autonomia universitária...

No quesito público, o papa perdeu

O jornal argentino La Nación foi espertíssimo em sacar que, em termos comparativos de público, o papa perdeu para vários dos seus inimigos. Enquanto ele teve entre 600 e 800 mil fiéis, os evangélicos, chamados de "seitas" por Ratzinger, reúnem todo ano 1 milhão de pessoas em sua marcha. Já a parada dos Gay, que não deveriam existir segundo o santo padre, reuniu 3 milhões de pessoas. E o show gratuito dos Rolling Stones em Copacabana, ou seja, a cultura pop, o hedonismo, e a própria "Sympathy for the Devil" (Compaixão pelo capeta) reuniram 1,5 milhões de "seguidores". Tá certo que cada coisa é uma coisa, e deve ter tido maluco que foi quem sabe nos quatro eventos, mas o Bento e seu revival da Idade Média, fora da Idade da Mídia até que não anda tão pop assim.

Romantismo fora de hora

Talvez seja influência do post abaixo, talvez seja só não querer apenas falar de política, mas me deu uma vontade de fazer uma lista das cinco músicas românticas gringas, daqueles que derretem o coração dos vigias nas madrugadas frias, quando pedidas, com dedicatória, nas rádio AMs da vida. Como eu sintonizo no cérebro algumas freqüências destas, seguem as cinco "importadas", que maltratam o velho coração. Se houver pedidos, me sensibilizo para as nacionais (PS: Esta categoria, por definição, roça coxa no brega, então não enche o saco, não são só todas as cartas de amor que são ridículas...):

1- Avalon - Roxy Music (eu ainda tenho que escrever um texto sobre esta música inacreditável de boa)
2 - You´re the best thing - Style Council (note a tendência por uma bossa nova inglesa...)
3 - Fade into you - Mazzy Star (pegadinha blues, "desaparecer dentro de você" é lindo, etéreo e sexual ao mesmo tempo)
4 - Nothing Compares 2U - Sinead O´Connor ("Faz sete horas e quinze dias, desde que você levou seu amor embora..." A letra genial é do Prince, mas Sinead transforma a música em algo muito, mas muito triste)
5- There´s a light that never goes out - The Smiths (foi uma disputa dura com "Don´t let me be misunderstood", na versão blues-oriental de Elvis Costello, mas Morissey praticamente se suicida nesta música. Não é para qualquer emo não...rs....)

Notei que a lista começa mais alegre e vai descendo a ladeira...Dia desses faço uma de nacionais...

Proibido Proibir

O filme Proibido proibir é um pequeno filmaço. Tem uma história ótima, atuações excelentes, um olhar generoso e carinhoso. É simples, mas belo, muito bem enquadrado, muito bem contado e situado em espaços reais, nas universidades públicas, subúrbios, praias, belezas e tragédias de um Rio de Janeiro que parece com seus vários lados e jeitos convivendo dentro dos planos. Uma boa história tratada com a dedicação verdadeira vira mais que isso, se desdobra. Não é um filme pretencioso, mas vai mais longe que muita proposta esnobe ou maneirista de cinema por aí. É que se comunica fácil. Pena, que na noite de domingo de dias das mães, o único cinema que o exibia estava quase vazio. Falta Globofilmes? Falta interesse do público de cinema? O cinema nacional está em uma fase de produção e propostas múltiplas muito ricas. Só falta público...