Para falar da "matéria" da Veja sobre a eleição de Nicolas Sarkozy na França, o mais divertido é comparar a cobertura do pleito francês, vencido pelo candidato que tinha a simpatia da revista, com o brasileiro. Logo após o segundo turno, Veja publicou uma capa em que perguntava como o vencedor, Alckmin ou Lula, uniria um país "dividido". Dá-lhe mapa dos estados "ricos" e que menos "dependem do Estado" onde Alckmin venceu no primeiro turno e dos "pobres" onde Lula ganhou. A baixa qualidade da análise fica patente pela velocidade em que ela se desfez. Alckmin perdeu votos do primeiro para o segundo turno. Em São Paulo, ainda ficou na frente, mas a diferença caiu 15 pontos percentuais, de 20 no 1° turno "dividido", para 5 na hora da verdade do 2° turno. No país como um todo, a vitória de Lula foi avassaladoraO que isso mostrou? Que não havia país dividido, e que a votação de 1° turno teve um sentido de "susto", "sermão" em Lula, mas que as pessoas não queriam Alckmin e o que ele representava no poder. Veja jamais analisou isso.
Voltemos agora para a França. A chamada de capa é a seguinte "França: aposta em um futuro de direita". Parece mentira, mas Veja não publica que a diferença entre Sarkozy e Ségolène Royal foi de apenas seis pontos. Que a massiva participação no processo eleitoral indica uma sociedade polarizada e indecisa em torno da necessidade de desmonte do estado de bem-estar social, e na relação com os descendentes de imigrantes... A matéria faz um oba-oba em torno da personalidade de Sarkozy (assim como Veja sempre foi simpática a Berlusconi, Aznar e Menem, argh!), monta um paralelo descabido entre ele e Tony Blair, que está se aposentando e manchou um governo com desempenho interno incrível por ter montado na garupa de Bush, e só termina indicando que "vem turbulência por aí". É a maneira de desqualificar previamente os protestos que certamente acontecerão quando Sarkozy colocar suas propostas na rua. Matéria de muito mais senso, reportagem, clima e rua, também de correspondente em Paris é a da Carta Capital(aliás, é impressionante, como ter um correspondente em Paris, parece não fazer diferença nenhuma no texto da matéria...).
segunda-feira, maio 14, 2007
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