sábado, abril 12, 2008

Um tico de VQP

Não leio mais a Veja. Mas me divirto horrores com seus delírios e suas capas...ontem, ouvi de uma pessoa que jamais soube do meu affair com a revista que a ela perde assinantes semanalmente na casa dos milhares...isso enquanto o país cresce...E de outra que trabalhou anos na editora que a Abril é "podre" e um projeto "maquiavélico". Vamos ser justos...eles tem um know-how em revista e contratam e tratam seus funcionários direitinho...mas eita visãozinha de país tacanha...

Queria chamar a atenção para o começo da matéria de capa dessa semana. Preste atenção na linguagem intrincada, cheia de adjetivos e caraterizações simples, sem personagens, sem fatos, uma estranha pensata... "estapafúrdia"..."oriunda do baú dos ideólogos da esquerda marxista", "visão obtusa e esquemática", "retrocesso na marcha para o socialismo" (onde tem uma marcha para o socialismo...). É engraçado como quanto menos fato, menos informação, mais viagem, a linguagem responde imediatamente, se tornando cada vez mais delirante.

Eu não li a matéria...mas a capa é divertida...quem mais faz propaganda da questão do terceiro mandato é a direita, que hoje tem muito pouco mais o que fazer...Sobre o tema já postei abaixo...(o autor desse blog, as 3 pessoas a que interessar possa, é contra terceiro mandato e mudanças institucionais que beneficiem os próprios ocupantes da cadaeira).
Aliás, vamos fingir aqui que a revista não defendeu um segundo mandato para FHC...mudança para lá de casuísta, tentação messiânica de impedir de qualquer jeito que Lula chegasse ao poder...

ahahaha Acabo de lembrar da resenha do Mario Sabino, dizendo que o livro de FHC seria uma obra fundamental na história do Brasil...Que livro? :)

A tentação messiânica do continuísmo

Por Marcelo Carneiro e Otávio Cabral
É uma idéia estapafúrdia que, volta e meia, reaparece no noticiário político, oriunda do baú dos ideólogos da esquerda marxista e dos parlamentares fisiologistas de qualquer espectro – a de mudar a Constituição brasileira e permitir que o presidente Lula possa concorrer a um terceiro mandato em 2010. Na visão obtusa e esquemática dos ideólogos, a justificativa é que a chegada de um ex-operário ao Planalto representaria o "fim da história", com o povo instalado no poder, e, então, para que fazer eleições? É Lula lá até quando a biologia permitir... Nessa visão, a saída de Lula significaria, assim, um retrocesso na marcha para o socialismo, sendo o terceiro mandato apenas uma etapa para, se tudo der certo, a manutenção vitalícia do companheiro na Presidência da República Popular do Brasil.



Agora, leia a coluna de Diogo Mainardi...olha a delicadeza:

É Créu neles! É Créu nelas!

Dilma Rousseff encolheu. Sua candidatura presidencial durou menos de duas semanas. Foi logo ceifada pelo bando de José Dirceu. Ou pelo bando de Marta Suplicy. Ou por seu próprio bando. Eu, que defendia ardorosamente a candidatura da princesinha do Créu, terei de escolher outro nome do PT. Qualquer um é pior do que ela. Qualquer um tem mais chance de ser eleito.

Fala-se muito sobre a popularidade de Lula. É espantoso que o eleitorado ainda o apóie desse jeito. (grifo meu, morrendo de rir) Mas ninguém contabiliza o ganho que isso pode representar para o futuro. Para proteger a imagem de Lula, todas as maiores figuras do PT foram sacrificadas. E as menores também. Dou um conselho aos mais aflitos: pendurem na parede uma fotografia do primeiro ministério lulista, de 2003. A mortalidade entre seus membros foi maior do que a do politburo de Stalin. A velha-guarda petista sumiu do cenário político. Agora só pode agir às escondidas, nos bastidores. De José Dirceu a Humberto Costa, de Luiz Gushiken a Miguel Rossetto, de Antonio Palocci a – qual era o nome dele? – José Fritsch.
Lula é o Ricardo III de Garanhuns. Só falta a corcunda. E o pé manco.


Lula é Stalin e Ricardo III....de Garanhuns...uau...Os ex-ministros de Lula foram executados? Nossa...O Mainardi é aquele que trabalha no "Saia Justa", não? Nem o Lucas Mendes leva esse cara a sério (pode notar no rosto do pessoal de Nova York :)

sexta-feira, abril 11, 2008

Lula e o efeito massa de bolo...

A popularidade de Lula não se enquadra mais no "efeito teflon" aquele em que as acusações não aderem...

Hoje o presidente é um político "massa de bolo": quanto mais batem, mais cresce...
A oposição, com sua linha de frente formada por "gênios" como Garibaldi Alves, Artur Virgílio e mentores intelectuais do mais alto nível como Carlos Sadenberg e Reinaldo Azevedo, não notou que entrega, cada dia mais, de bandeja para Lula, o "monópolio" da representação simbólica de um projeto nacional...

Repetem o erro da UDN, de achar que só um moralismo (e ainda falso e histérico) chegam a formar um projeto político (quanto mais um nacional).

De certa forma, quem mais quer um terceiro mandato de Lula é a oposição, para lhe dar uma bandeira e confirmar a pecha de "populista" à Lula...
Eu acho que não haverá terceiro mandato, apesar do lobby das "boquinhas" no PT (é da natureza da entidade política partido não querer largar ossos) , e da falta de sucessor com as mesmas características de "harmonizar" (ou escamotear) o contraditório em um país tão desigual, porque

1) Lula tem se provado bem mais esperto que isso...Ele quer sair por cima...Talvez justamente para voltar
2) O que ele próprio ganha com um terceiro mandato? Um tipo de confronto mais direto que ele sempre gostou de driblar em sua carreira política
3) Uma das coisas que eu sinceramente acho das mais legais do Lula é seu caráter bem mais "normal" de auto-ironia, e menos "missionário" do que a maioria dos políticos...Sei que ele só falta falar de si mesmo como enviado de Deus mas ao mesmo tempo, ele tem a típica lógica de querer cair fora, ir fazer o coelho dele, ter umas "férias"...no Lula a mosca azul do poder convive com a vontade de tomar uma caninha e jogar um futebol sem ninguém lhe encher o saco :) Como ele mesmo disse "de fazer aquela receita de coelho". Acho que ele está pensando "já deu, se eu sentir falta é só querer volto em 2014"...que é exatamente o cenário atual...(2014 ninguém sabe ou controla o que será...) .

O sucesso que tem sido a trajetória de Lula é algo que chega a ser surreal...

quarta-feira, abril 09, 2008

Jamais imaginei...eu concordar com o FMI :)

Saiu na Folha de hoje.

Juro alto torna país vulnerável, diz FMI

Para Fundo, taxa alta atrai capital especulativo e valoriza real, prejudicando exportações e elevando vulnerabilidade

Relatório aponta ainda que emergentes têm pouca exposição à crise do crédito nos EUA, mas podem sofrer com desaceleração global

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

No momento em que o Banco Central brasileiro decide sobre novo aumento de juros, o Fundo Monetário Internacional diz que a principal vulnerabilidade do país hoje tem a ver exatamente com a taxa elevada que pratica na comparação com outros países.
Embora enxergue os países emergentes mais bem posicionados para enfrentar as dificuldades da atual crise, o Fundo diz que o Brasil está exposto a distorções e riscos em razão da forte valorização do real, que estaria diretamente relacionada ao juro alto: "A valorização contínua das moedas de alguns países, incluindo o real (...), pode significar um canal de vulnerabilidade caso haja picos de volatilidade no futuro", diz o FMI em relatório sobre a economia global.
O FMI vê o real valorizado principalmente em razão de operações conhecidas como "carry trade". O jargão denomina uma manobra financeira na qual os investidores tomam empréstimos em países nos quais a taxa de juros é baixa e aplicam o dinheiro em outros, onde o juro é bem maior.
Com o ganho, ele não só paga o empréstimo no país onde tomou o dinheiro emprestado como obtém grandes lucros.
As operações de "carry trade" no Brasil vinham concentradas em investidores que tomavam empréstimos no Japão e na Suíça. Agora, os EUA também viraram nova fonte de recursos. Com seu juro básico em 2,25% ao ano, os EUA fornecem dinheiro barato a quem quer arriscar no Brasil, onde o juro básico é de 11,25%. Se o real se valoriza durante a operação, o ganho é ainda maior.
Caso o BC suba ainda mais os juros, para 11,5% neste mês e 11,75% até o final do ano, como alguns no mercado prevêem, essas operações e a pressão sobre o real devem se acentuar.
Essa entrada maciça de dólares atrás dos juros altos derruba a cotação do dólar. Como efeitos colaterais, há uma diminuição da competitividade do setor exportador nacional, principalmente o industrial, e uma progressiva deterioração das contas externas. E, numa turbulência maior, esse dinheiro pode sair rapidamente do país, gerando instabilidade.
O FMI também prevê que uma crise mais permanente na economia dos EUA venha a esfriar toda a economia global, tendendo a atingir os emergentes e os preços das commodities que sustentam suas exportações. E, com o tempo, os saldos comerciais e a balança de pagamentos desses países.
O Fundo pondera, no entanto, que muitos emergentes, especialmente os latino-americanos, têm uma exposição quase nula aos créditos imobiliários de segunda linha nos EUA ("subprime"), epicentro da crise atual. Mas prevê que a desaceleração global possa interromper um ciclo de forte crescimento em operações de crédito entre vários países.
Enquanto no Brasil o volume de crédito cresceu 28,5% em 2007, subiu 51% na Rússia, 37% na Argentina e 72,5% na Venezuela, por exemplo.
Em termos de crescimento, para 2008, o FMI projeta uma alta de 4,4% entre os latino-americanos. Para 2009, de 3,6%. Ambos os percentuais estão abaixo dos 5,5%, em média, dos últimos dois anos (as projeções para o Brasil sairão hoje).
Mesmo para a Ásia, região mais dinâmica do planeta nos últimos anos, houve uma diminuição das expectativas de crescimento. A Ásia emergente crescerá, segundo o FMI, 8,2% neste ano e 8,4% no próximo. Na média dos dois últimos anos, o crescimento foi de 9,7%

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Além disso, acho que a crise americana, que ninguém sabe quanto irá impactar no crescimento global, talvez afete o preço das commodities (alimentos, petróleo, aço etc...), fazendo-as cair. Hoje são as commodities a principal pressão inflancionária, e acho que não é certo que o aumento de juros interno tenha algum poder sobre elas em um momento de forte demanda global. Melhor seria o país se defender através de um aumento de demanda. Outro problema é que os juros altos aumentam a âncora cambial como mecanismo contra a inflação. O que detoria a balança comercial, as exportações, o verdadeiro aspecto "sustentável" do nosso crescimento, que com o câmbio assim logo, logo vão para o brejo...
No cenário econômico mundial, não local, nossa principal proteção é justamente o crescimento econômico. Aumentar os juros aumenta o aspecto especulativo da nossa economia e de tipo de capital que entra no país e nos faz mais vulnerável a crise americana.
De resto, a inflação está muito pouco acima da meta, e os problemas são pontuais...
Um meio termo possível seria simplesmente manter a atual taxa de juros.
Mas o lobby dos bancos brasileiros loucos para ganhar com a arbitragem de recursos já embarcou com tudo nessa e dificilmente irá perder...

terça-feira, abril 08, 2008

Chavez e $$$$

Muito se fala, e mais ainda se falou, de que no governo atual as relações exteriores são "ideológicas", ao buscar a diversificação de relações e o desenvolvimento do eixo "Sul-sul", ao contrário de um pretenso "pragmatismo", voltado a concentrar nossas relações externas em tratados de livre comércio para exportação de commodities para os Estados Unidos e a Europa ("Sul-norte").
Esse aliás era o discurso de Geraldo Alckmin na campanha eleitoral, e ainda é o da Veja, e de um setor do Itamaraty (Rubem Barbosa, Celso Lafer etc...).
Nenhum deles saiu para admitir o erro ou pedir desculpas (claro). A crise norte-americana prova (e até os mercados financeiros elogiam) que a diversificação brasileira que nos torna mais imunes que o México, por exemplo à crise norte-americana. Que porcaria seria um Alca, ou um Tratado de Livre Comércio, onde os norte-americanos nunca concederam nada, em um ambiente desses? Detalhe: as exportações seguiram crescendo e a relação com os países mais fortes não foi abandonada por iniciativas com os demais "Brics" (Brasil, Rússia, Índia e China), na América do Sul ou junto aos países do Oriente Médio e África. Na realidade essa diversidade reforça nossa força de negociação com os próprios países ricos. Vide o caso da formação do G-20 nas negociações da Rodada de Doha, e do embargo da União Européia a carne brasileira, que devido à multplicidade de mercados (obra, claro, não só do governo, mas também das empresas exportadoras) prejudicou apenas a própria União Européia, com inflação da carne.
Esse longo nariz-de-cera é a introdução a uma nota publicada hoje na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo. No amplo espaço dado à cobertura do governo Hugo Chávez, a maior parte dele ideológico, esse aspecto tão absolutamente pragmático que pode ser quantificado, e "liberal" porque negóciso, é em geral solenemente ignorado. O governo Chavez é um negocião para o Brasil!



Boca aberta
Uma missão de empresários brasileiros do setor de alimentação, arregimentados pelo Ministério do Desenvolvimento, deve partir ainda neste mês para a Venezuela. Enfrentando uma crise de desabastecimento, o governo Hugo Chávez pediu ajuda ao governo Lula, que vê, por seu lado, oportunidade para aumentar as vendas para o país vizinho. Devem ser convidados empresários dos setores de carne, frango, leite, doces e até biscoito.BOCA 2Na última missão de brasileiros na Venezuela, em dezembro, foram fechados contratos de US$ 660 milhões para a venda de artigos como papel higiênico, carne, leite -e até sêmen bovino. O governo Chávez derrubou impostos para facilitar as importações. Alguns chegaram a cair de 45% para 12%.

Em cinco anos, as vendas do Brasil para a Venezuela dispararam de US$ 500 milhões para US$ 5 bilhões por ano.