quarta-feira, abril 23, 2008

Só o tremor nos une

Hoje estava na sala de casa, quando houve o tremor em São Paulo. Foi rápido. Foi estranho. Até agora não se sabe de nenhum ferido e de nada mais do que algumas rachaduras em prédios. Deixe-me confessar: foi divertido. No último andar de um prédio em um morro, com vista para São Paulo, tudo balançou...É uma sensação bem estranha..."O que fazer?" Sei lá...vamos descer de escada...Saímos e na área comum do andar, diante do elevador, todos os vizinhos (são três apartamentos por andar) estavam lá também. Nos olhamos, confirmamos o tremor (primeiro é quase automático pensar "sóu eu que estou louco?") e começamos a conversar se seria no prédio ou se era um terremoto mesmo...afinal, aqui não tem terremoto...Olhamos na janela e vimos a movimentação - luzes se acendendo, pessoas indo na varanda - nos outros prédios...e conversamos e rimos um pouco do ocorrido.
Meus vizinhos são bem simpáticos e não digo isso só por política de boa vizinhança :) Ainda todos tem bom gosto musical, sempre tem um samba, um chorinho, um jazz para se ouvir antes de pegar o elevador (enquanto aqui de casa sai meus lixos sonoros oitentistas...). Mas nunca tinha acontecido de sairmos todos e conversarmos um pouco, e rirmos juntos um pouco. Mais curioso ainda que no andar não tem nenhuma família propriamente dita, todos adultos...
Depois liguei para a casa dos meus pais, onde ninguém sentiu o tremor, considerações se seria algum problema predial. E aí ele apareceu na TV. Minha irmã ficou irritada de eu ter achado divertido, e seu namorado ficou irritado de ter "perdido" o terremoto em São Paulo, que ele não sentiu...Mas a verdade é que eu estou com um sorriso até agora.
"Faz a gente pensar que é tão frágil"
"Mas é isso mesmo, o que eu posso fazer, por isso que eu rio."
Não deu para explicar para ela, eu mesmo pensei depois, que não fui só eu não, estávamos todos rindo no hall. Em uma noite modorrenta, quando estamos em casa após um dia pesado de trabalho, o tremor inédito quebrou a rotina, foi uma pequena xacoalhda de vida. "Sobrevivemos", podemos dizer com uma pompa auto-irônica. Sobrevivemos ao dia-a-dia, todos os dias, até que um dia não mais. É a vida. Para o bem e para o mal, no seu aspecto mais banal. E é o rasgo contra a banalidade, para o qual não fizemos nada e contra o qual não podemos fazer nada, que vem em um tremor, parecer estranhamente nos fazer sentir mais vivos e menos sozinhos nesse barco que treme.

...

Com licença. A vontade era vê-la do escuro profundo da madrugada em uma estrada vicinal, mas aqui da varanda mesmo já dá para ver a lua cheia linda, que as luzes da cidade grande "apagam" do nosso olhar tão treinado para não ver...