quinta-feira, abril 17, 2008

Efeitos certos e incertos do aumento em meio ponto percentual da Selic

Hoje, o Copom, aquele comitê não eleito e independente que manda no país, aumentou a taxa básica de juros do país em meio ponto percentual. Os juros no Brasil eram de 11,25%, já os maiores do mundo, e agora foram para 11,75%. Vai abaixo uma lista de efeitos certos e incertos desse aumento:

EFEITOS CERTOS

- Aumentar a valorização do real diante do dólar, levando em direção do vinagre cada vez mais rápido a balança comercial e aumentando o déficit em conta corrente. Se o dólar chegar R$ 1,60, talvez compre. Se chegar a R$ 1,50 eu compraria :) Porque isso não costuma a terminar bem.

- Aumentar os lucros dos bancos brasileiros, como o Itaú, com a arbitragem de juros. O que é isso? Os bancos, que foram os mais vigorosos defensores do aumento, tomam empréstimos no exterior pelas taxas americanas, japonesas e européias, convertem em reais e colocam este dinheiro na selic. Ganham duas vezes: com os juros maiores da Selic e com a valorização do real causada pela própria montanha de recurso que trazem para o país. Produzindo nada, ganham fortunas...

- Reduzir os investimentos produtivos, a previsão de crescimento, consequentemente a geração de emprego e melhoras na renda e consumo do trabalhador. Esse é todo o ponto de aumentar os juros, já que visa reduzir a demanda para evitar inflação. Poderia ser feita uma aposta no aumento da oferta, já que a porcentagem de investimento em relação ao PIB vinha aumentando, e as recentes revisões de metodologia de PIB do IBGE desnudaram as quimeras do conceito do "PIB Potencial", que é quanto o país poderia crescer sem gerar inflação. Os economistas tem muito menos domínio disso do que apregoam. Exemplo: as chuvas desse ano deram um pouco mais de folga para as necessidades de investimentos em geração de energia, fator crucial no PIB Potencial. Você acha que os economistas de banco são capazes de calcular o impacto disso no PIB potencial?

- Piorar o perfil dos gasto públicos, e a trajetória da dívida interna. Também a reserva cambial e os custos fiscais da sua manutenção frutos da diferença de rendimento dos papéis onde ela está investida, baixa, com a Selic, alta. É curioso como os "liberais" não se preocupam com isso...

- Ao reduzir renda, crescimento e crédito, aumenta a inadimplência e a dificuldade do trabalhador de fazer frente à real inflação, aquela localizada nos produtos alimentícios. É lógico que por causa do último resto de indexação da economia (os preços das empresas privatizadas que são indexados) isso ia contaminar outros setores...mesmo assim (veja abaixo)



EFEITO INCERTO

- Justamente aquilo pelo qual é apresentado como justificativa: o controle da inflação. Como o aumento interno de juros no Brasil vai afetar os preços internacionais das commodities agrícolas (trigo, arroz, milho etc...) é uma alquimia ainda inexplicada. O BC por causa de um problmea pontual, ao invés de tentar circunscrevê-lo e fazer a economia crescer "cercando-o" e lidando com a demanda através de investimento e aumento da capacidade da produção (não se vê um retorno a cultura inflacionária em nosso país), vai penalizar todo o resto da economia, sem ser capaz de enfrentar a fonte do problema, além do seu alcance. O único efeito indireto disso sobre os preços agrícolas se dará pela apreciação do câmbio (como eles são cotados em dólares, conforme o real se valoriza, tornam-se em relaçoa ao real, menores...). Ou seja, o Brasil se afunda cada vez mais perigosamente em um âncora cambial. Até onde as exportações X importações aguentarão a valorização do real antes dessa bolsa especulativa estourar em uma onda negativa e todos esses capitais vindos de arbitragem saírem correndo jogando o real no sentido contrário, o da desvalorização (e essa, trazendo inflação de importados e preços internacionais, como gasolina)...

- O aumento de juros em um momento em que o Brasil é um dos motores "contra-cíclicos" de crescimento em um mundo afetado por uma crise nos Estados Unidos, pode nos jogar "voluntariamente" dentro dela, acabando com o "descolamento". Se a crise norte-americana impactar o preço das commodities, quanto mais valorizado estiver o real, maior vai ser nossa fragilidade diante da queda desse preço das commodities....

Tradução: onde o BC vê prudência, é exatamente onde eu vejo risco...Mas os agentes financeiros podem sorrir novamente...O país vai voltar a ter que separar uma parte maior da sua renda para ser capturada pelos juros...Financiamentos de imóveis, de carro, de bens duráveis, de infra-estrutura e novas estruturas produtivas volta a ficar mais caro...

É o Copom, a mais eficiente das oposições...

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