Porque o governo federal e o PT atuam com força e no sentido correto na questão dos softwares livres, questionando e enfrentando a Microsoft, e são submissos e aliados da Monsanto na questão dos trangênicos?
A pergunta é válida, porque em ambos os casos tratam-se:
- de setores estratégicos para a economia nacional, com grande impacto na balança de pagamentos (software via pagamento de royalties e exportações de soja sem pagamento de royalties)
- Da apropriação pelo Brasil do conhecimento destes dois setores (genética e software)
- Do princípio da propriedade intelectual X conhecimento. No caso da Microsoft o governo defende a liberdade de fluxo do saber. No da Monsanto, que este, e a soja derivada dele, seja propriedade patenteada da empresa. Através de royalties, é como se a Monsanto se tornasse sócia, dona de uma porcentagem, de toda a produção do país. Além de gerar, com o tempo, um verdadeiro monopólio no setor de sementes e a depêndencia dos produtores. Isso para ficar apenas na discussão econômica, sem falar da ambiental e possíveis riscos à saúde.
Tenho minhas opiniões heterodoxas baseadas em boatos inseguros sobre o porque da amizade PT-Monsanto. Mas no fundo, só levanto este assunto para ver como na era do governo Lula-campo majoritário, a coerência do PT, a sua linha, virou uma imensa bunda de nenê, donde ninguém sabe o que vai sair, e quais são as instâncias de decisão. Obscuridades que geram “posições” inflexíveis, mas que ninguém sabe onde foram engendradas.
Quatro influentes deputados do partido (Luizinho, José Eduardo Martins Cardozo, Jorge Bittar e Nelson Pellegrino), além de José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Júlio Semeghini (PSDB-SP), alegremente, vão a Washington, patrocinados pela Microsoft, ver palestras do homem mais rico do mundo, Bill Gates, e do notório mentiroso em sessão da ONU sobre armas no Iraque e ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell. Dizem que não é lobby. Se não for turismo é o que? Pura perda de tempo dos deputados? Pura generosidade da Microsoft?
É lógico que o PT tem ainda um papel a esquerda do centro na política brasileira. Vide São Paulo, onde o partido entrou fundo na lógica nociva das alianças, e ainda assim está a esquerda do PSDB. Mas o PT não é mais esquerda em si mesmo. Não o é mais como partido de fato, coerente. Isso depende de que grupo, pessoa, discurso e política na prática do PT você se refere.Em muitos casos, como em relação às leis trabalhistas, sua posição está, na prática, à direita do que a do discurso do PTB (a ver se na hora H da reforma trabalhista, o fisiológico partido não vai mudar de lado, se não está só cacifando seu passe).
Por um lado, isso gera uma confusão ideológica no cenário político, uma tremenda perda de clareza e orientação para a esquerdas, que tem facilitado tanto uma redução das demandas por mudanças sociais no Brasil quanto à continuação da implantação da agenda de medidas e reformas conservadoras (das micro como liberalização do câmbio e taxa de juros, focalização dos gastos sociais, as macro como autonomia do Banco Central, trabalhista, sindical etc..).
Por outro, cria uma saudável desconfiança e força uma maior maturidade política. Uma volta à atenção ao público acima de uma ilusão redentora partidária(PT)/personalista (Lula). E que a atuação neste público, pela igualdade social e democracia, tem que se pautar pelo próprio, concretamente, tanto com uma visão de fundo quanto com uma prática cotidiana.
Para o PT, minha impressão é que fica um círculo vicioso. Quanto mais o partido perde a identidade e o apoio da esquerda (o que é mantido é na base de acenos de esperança, cooptação e chantagem com a ameaça da direita) mais depende de esvaziar a disputa política, embaralhando e reduzindo as candidaturas adversárias através de alianças cada vez mais amplas. E neste processo mais perde a identidade e distancia a política dos eleitores. Deixa de ser um partido comprometido no combate ao conservadorismo. E cada vez menos cumpre a justificativa da política de alianças: de que esta seria o PT impondo sua agenda aos fisiológicos, que não teriam uma. Na verdade, cada vez menos o PT tem um projeto político claro, o que retorna a questão do começo do texto, e o que permite que a natureza das alianças gire cada vez mais em torno da própria fisiologia. (a ocupação do estado como um valor em si mesmo). Acaba virando, no extremo, linha auxiliar para as próprias oligarquias locais, sendo elas que se aliam ao PT, não vice-versa. Veja o caso Romero Jucá, nesta matéria do Valor Econômico: Acordo para reeleição de Lula esbarra no PT. É o rabo abanando o cachorro, o meio do poder perdendo seus objetivos. Como não é nunca a direita que vai dar o suporte político na prova dos nove o PT (mas sim uma rasteira...), eu acho que a reeleição de Lula ainda é muito possível, mas duvido que o PT vença a eleição em 2010.
domingo, abril 24, 2005
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