quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Tropa de Elite em Berlim

Terça-feira, Tropa de Elite foi exibido no festival de Berlim. De fato no final o filme manteve a montagem e a narração original do Capitão Nascimento (Wagner Moura). Houve quem falou bem do filme, mas a maioria das reações mostra o desastre no exterior dessa narração e como fora do contexto brasileiro, a natureza simplista e de apologia da violência policial (que é diferente de retratar a violência ou sua apologia) ficam nítidas. Traduzindo: não houve outra montagem, mas dá para entender fácil porque eles pensaram em faze-la.

Particularmente na crítica da Variety, a principal revista de cinema para Holywood. A primeira frase da matéria já "resume tudo":

Brazil’s powerful military police are elevated to Rambo-style heroes in “The Elite Squad,” a one-note celebration of violence-for-good that plays like a recruitment film for fascist thugs.

No link abaixo, a resenha completa.

http://www.variety.com/review/VE1117936168.html?categoryid=31&cs=1

PS: Os muitos comentários brasileiros no blog, que estendem ao coitado do crítico norte-americano o chato debate sobre o filme, são de uma pobreza de dar dó e vergonha...

5 comentários:

Zé Ricardo M. disse...

A maior parte das reações atesta que a narração colocada foi um desastre, Zé?

Sim, teve a resenha da Variety, que nem o Padilha esperava (tanto que mudou o discurso - de "lá fora a reação será diferente" para "o importante é o debate que o filme promove").

Mas, sinceramente, vi muita pouca gente falar que o filme é fascista, por exemplo. Segundo a Folha Online, um jornal alemão até escreveu que "o filme não é fascista, e disso a gente entende".

Queria saber, numa boa, de onde você tirou que a maior parte das pessoas não gostou do filme. Pelo que li, foi até o contrário. Ou, se não foi o contrário, foi muito equilibrado.

Abs

José Chrispiniano disse...

E aí, Ricardo,

Tudo bem?

Talvez a expressão maioria seja mesmo ruim, nada científica. Mas acho que fica claro na reportagens e críticas estrangeiras que a recepção ao filme não foi positiva. Hoje mesmo a Folha comenta o incômodo da narração entre os crítico estrangeiros. Como filme, já acho incrível que ele esteja em no Festival de Berlim..."Como produto" ele tem uma tendência a se dar mal no exterior, e é isso que o crítico da Variety diz, porque filmes do Brasil e "de festivais", circulam no circuito de arte, que tende, em tese, a ter uma recepção ruim do filme.

PS: O Padilha muda o discurso em relação a esse filme toda hora...
PS2: Menos importante que a semântica em torno do "fascismo" o filme promove e faz piada com a violência policial, não a retrata, nem justifica. Se isso foi intencional ou incompetência são outros 500...

Zé Ricardo M. disse...

Opa

tudo bem, sim.

Cara, eu gostei bastante do filme. Acho importante que existam filmes mais "de direita", se é que se pode dizer isso de "Tropa". Esse "Meu nome não é Johnny" tem uma visão esquerdista sobre usuários de drogas e não vi ninguém se opor a isto. Vejo como salutar esse debate em torno do "Tropa" e mais salutar ainda o fato das pessoas pensarem de modo diferente sobre ele. É democrático, fortalece o debate e acho importante o brasileiro aprender a ter uma visão menos unilateral das coisas. E não querer impor uma opinião, já que desde que o mundo é mundo, existe divergência (e eu não gosto da esquerda brasileira, não gosto do governo Lula, mas vejo pontos positivos e necessários da existência dos dois).


Acho, também, que o Tropa ganhou Berlim por conta disso. Sei lá o que o Costa-Gravas pensa a respeito das idéias ali contidas, se ele concorda ou discorda delas. Mas foi um filme que fez um alarde, que chocou, que despertou sentimentos contrários e favoráveis, que, pela primeira vez, representou uma idéia de parte da sociedade brasileira (você pode com certeza detestar essa classe média, mas acho que você não negaria que ela existe e que tem idéias ainda mais "de direita" do que o filme mostra).

Por tudo isso, acho o filme mais positivo do que negativo. Mas, claro, você tem todo o direito de pensar o que quiser sobre ele.

Só vou dar dois mais pitacos:

1. Não, não acho que o filme faça piada com a violência policial. Acho que aquilo ali está dentro de um contexto e acho que o policial sente mesmo certo prazer em descer o cassete. O filme mostra, enquadra dentro de um contexto, dá as razões, mas não apóia.

2. Não acredito, agora mais ainda depois do prêmio, que ele vá se dar mal no exterior. Mas isso é só uma crença. E juro que não percebi o Padilha mudando muito o discurso desde que o filme estreou.

Abs
té mais

José Chrispiniano disse...

bem, acabo de ficar em choque...Veja meu outro post...

jamais, jamais mesmo achei que o filme fosse ganhar o prêmio. Eu acho o filme ruim como cinema, aliás, meu primeiro post foi exatamente sobre isso. Simplista, ruim dramaturgicamente, e sem muita ética cinematográfica. Mas o que eu sei? Cada dia só sei mais que é nada mesmo...

PS: "Meu nome não é Johnny" é um bom produto, mas péssimo cinema, com visão de nada sobre nada. Nem sobre as drogas...

Zé Ricardo M. disse...

Relaxa, Zé.

Eu não concordo com a sua visão sobre o Tropa, gostei do filme desde o primeiro instante.

Mas acho que as tuas idéias tem o seu lugar e a sua importância no mundo. O mundo é cíclico.

Féééé em DEEEEEUS (paraparápapá parapá pará) :)