quinta-feira, maio 24, 2007

As vitórias na ocupação da USP

Primeira crise enfrentada por José Serra, os protestos na assembléia e a ocupação da reitoria da USP, que tem sido o pavio de uma importante discussão sobre autonomia universitária X autoritarismo de Serra, tem dado várias importantes lições na esquerda "velha". A ocupação foi a frente e seguiu a despeito das avaliações de entidades e militantes partidários e experientes. Os independentes, anarquistas e outros grupos, inspirados por Hakim Bey e afins, trouxeram-os a reboque, como, com a devida proporção, Seattle trouxe a reboque o Fórum Social Mundial.
Conversei com duas pessoas com décadas de esquerda na USP. Uma disse que não deveriam entrar em greve porque "a universidade não produz mais-valia". O outro disse que há dez dias as entidades defenderam o fim da ocupação, porque "não havia correlação de forças". Este admitiu que eles estavama errados, e os jovens estudantes que sustentam a ocupação e aprendem conforme fazem, estavam certos. De cinco dias para cá a ocupação se tornou uma "bomba" no colo de Serra. Com a entrada em greve dos professores ontem (lógico, das partes da USP que entram em greve) o custo político da ação da Tropa de Choque subiu muito.
O que a "mais valia" e a "correlação de forças" não explicam? Ridiculamente voltando ao meu livro sobre protestos anti-globalização, A guerrilha surreal (Conrad) Que força se faz a força, e que a sociedade de hoje é do "espetáculo" para o bem e para o mal. A ocupação foi se tornando um crescente fato midiático, forçando respostas de Serra, chamando atenção para os decretos e rebatendo argumentos do governo, que optou por negar a ameaça a autonomia, a legitimidade do protesto, desqualificando-o totalmente, e enquadrando, de maneira vexatória, seus prepostos, os reitores.
O que não contavam foi com a força do protesto dos desinteressados, com a criatividade de comunicação dos estudantes, com sacadas geniais como encher as barricadas com fotos do Serra posando com uma arma, foto com a qual a direita gozou em página dupla na Veja. Com o cheiro do ralo da ilegalidade dos decretos, que começa a ser sentido por todos. Xico Sá no nominimo, matérias de repórteres da Folha sobre o clima na ocupação etc...começaram a bater na barra da calça do governo.
Pinotti foi exposto no seu real objetivo no cargo: enquadrar as públicas como representante das universidades privadas. É a privada da FMU mandando na USP, Unesp e Unicamp. Hoje, artigo do pitbull intelectual dos tucanos, José Arthur Giannotti (demorou, não?) acusa o golpe, e junto com um editorial da Folha de S. Paulo, começa a tentar sinalizar uma saída para Serra. "Redigir" os decretos, ou colocar os reitores para implantarem um "meio termo".
Tudo pode estar acabando hoje. Mas parece que não vai ficar de barato estes decretos que passam por cima da lei. A universidade, fica ainda mais dividida e polarizada entre os que lutam para que ela seja mais pública, crítica, social, e os privatistas das fundações, com uma maioria silenciosa de pesquisadores "independentes" no meio.
A sociedade lembra aos tecnocratas autoritários, que a política feita de forma silenciosa, apenas pelos interesses econômicos, nem sempre é tão fácil de se implantar assim.
Vamos ver como fica Pinotti e sua ridícula "ex-secretaria do Turismo", se a Fapesp continuará na pasta de "Desenvolvimento" e principalmente, como fica Serra e seus decretos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mais complicada fica a situação do Pinotti (e da Reitora) com o documento encontrado pelos estudantes, no qual ele solicitava uma vaga em um curso de pós graduação da POLI para um funcionário. O pedido estava anotado com um "OK" de Suely e pronto para ser encaminhado à direção da unidade. A Reitoria acusou os estudantes de mexerem em documentos sigilosos. Mas sigilo, como fica numa instituição pública?
Destaque também para a comemoração dos 45 anos da Fapesp ontem, com Serra e Suely à mesa...
Tati

Anônimo disse...

[i]Hoje, artigo do pitbull intelectual dos tucanos, José Arthur Giannotti (demorou, não?) acusa o golpe, e junto com um editorial da Folha de S. Paulo, começa a tentar sinalizar uma saída para Serra. "Redigir" os decretos, ou colocar os reitores para implantarem um "meio termo" [/i].

Engraçado que essa redação exata dos decretos é também a posição dos professores do IE/Unicamp. Que acham também que greve só se faz como última alternativa, quando os canais estão completamente obstruídos, o que, evidentemente, não é o caso.

Não consta que eles façam parte da "terrível mídia paulista" ou de um "canil tucano"...

Enfim, tu deve ser a favor até da tomada do canal privado venezuelano pelo Chávez, então é difícil discutir...

José Chrispiniano disse...

Os canais estão obstruídos por alto colesterol e falta de espírito de função dos reitores, que se desmoralizaram no primeiro momento da crise, quando os decretos foram instituídos. Se os decretos não servem para nada, se não serão usados, por que não são revogados? Porque com eles a garantia da autonomia passa a ser pessoal, não institucional, e isso não é autonomia de verdade, é personalismo, é o "homem cordial".

Anônimo disse...

Não revogam porque valem para outras instituições públicas, simples assim. Não há a menor certeza do que os grevistas estão dizendo - é uma greve pelo medo de isso acontecer, não pelo que aconteceu (deve ser histórico...).

Volto a insistir - vi professor do IE chamar a greve de abuso, exagero e de desnecessária. E reitero: as palavras não é vem do "canil tucano", tampouco da "mídia assassina paulista".

Quanto ao Reinaldo Azevedo, ele pode estar errado muitas vezes, mas tem todo o direito de falar o que pensa. Isto está longe de ser censura. Censura é querer calá-lo. Se alguém da Folha escrever o que o Azevedo quer, é problema da Folha. Ela não depende da Abril. Você é contra liberdades individuais?

Aliás, não é raro ver "economistas com bom senso". Raro é ver jornalistas que tenham estudado...