domingo, maio 20, 2007

Serra mente

Ontem, José Serra disse que os estudantes ocupam a reitoria da Universidade de São Paulo baseados em "mentiras". Por que não haveria nenhuma ameaça a autonomia partindo de seu governo. Ainda quis dar lição para os outros, dizendo que foi o "grande líder estundatil da sua época". Serra foi presidente da UNE, de fato, e de resto segue sem tratar sua megalomania no divã.
O problema não é a inclusão no sistema de acompanhamento no orçamento. É o resto. Se os decretos não ameaçam a autonomia, porque foram implantados? Para deixar as coisas bem claras, assim que eles acabaram com a autonomia:

- Os reitores não podem mais remanejar, dentro da verba destinada à universidade os recursos entre mão-de-obra, custeio e investimentos, sem autorização do governador. O governador jura que autorizará todo o pedido. Mas isso não é autonomia, que deixa de ser institucional para ser pessoal ou "operacional", como é a do Banco Central de Lula (e que aliás, não deve ser autônomo de fato, mesmo). A simple existência da possibilidade do governador vetar um remanejamento já é uma ingerência que influi no cenário das decisões. O "potencial de poder" de que trata Giorgio Agamben ao falar do Estado de Exceção, se aplica perfeitamente ao caso. É como uma conversa entre alguém desarmado e um outro armado. O outro pode nunca usar a arma, mas o fato dela estar lá e dele poder usá-la, já muda toda a conversa...O governo fez isso. Colocou um revólver na mesa nas suas conversas com as universidades.
- A mudança de composição do Conselho de Reitores, que é o órgão que negocia a política salarial das universidades. O governo ganhou ainda mais força nele e pode barrar aumentos salariais, mesmo havendo recursos e necessidade de fazê-los. Podem forçar uma defasagem ainda maior de salários.
- A necessidade de autorização do governador para contratação de mais professores e funcionários. Novamente, o governo ganha capacidade de sufocar a universidade.

Nitidamente o governo não quer ceder, e pretende esperar o barulho causado pela ocupação passar, constrangendo os seus pré-postos (os reitores, a quem o governo desgastou com estes decretos-surpresae jogou em saia justa a toa) e sufocando o movimento dos estudantes (que dificilmente conseguirá durar até julho). Para mais para frente, com a "normalidade", aplicar os decretos. A quem isso serve? A autonomia universitária funcionou horrores para São Paulo, aumentou a produção e eficiência acadêmica, e para a direita, não impedeu a apropriação gradual do que lhe interessa economicamente nas universidade através das fundações privadas. A quem criar ferramentas para desconstruí-las interessa? Basta observar as declarações e associações de José Aristodemo Pinotti com o lobby das instituições privadas, através de seus cargos na FMU. É a única explicação no horizonte. Eta direita ideológica movida à lobbies, dando tiros no pé da sociedade...

Contra esta, a lucidez de Fancisco de Oliveira, em entrevista ontem na Folha de S. Paulo:


É um movimento em defesa da universidade, afirma sociólogo

Francisco de Oliveira disse aprovar que os alunos tenham tomado a iniciativa

DA REPORTAGEM LOCAL

O sociólogo Francisco de Oliveira, 73, aprova a ocupação da reitoria pelos alunos. Para ele, essa é a única maneira encontrada para as reivindicações serem ouvidas. Ele critica, porém, a política educacional de José Serra e, ainda, a possível entrada da PM no campus. A assessoria do governador foi procurada no início da noite, mas informou que Serra estava no interior. A assessoria do secretário José Aristodemo Pinotti não foi localizada por telefone. Leia trechos da entrevista.


FOLHA - Qual é a opinião do sr. sobre a ocupação da reitoria?
FRANCISCO DE OLIVEIRA -
Sou inteiramente a favor dessa ocupação. Não ocupação por ocupação, mas porque os recursos se esgotaram e os estudantes estão fazendo um movimento em defesa da universidade. É lamentável que os meios políticos institucionalizados não sejam capazes de atentar para a questão da universidade. É odioso que o governo do senhor José Serra, que no passado foi presidente da UNE, (...) use desses meios de restringir financeiramente a universidade.
Não adianta o secretário [de Ensino Superior, José Aristodemo] Pinotti vir e dar nó em pingo d'água. Não havia mais recurso, o movimento dos professores está muito fraco e os estudantes tomaram a iniciativa e sou inteiramente a favor. Ainda não vi ato de vandalismo.

FOLHA - Essa era a única forma de serem ouvidos?
OLIVEIRA -
É isso. O governador, do alto de sua majestade, baixa os decretos. Ele tem a chave do tesouro e pronto. Deveria criar outros meios de a universidade ser responsável pelos gastos. Não estou pedindo uma universidade irresponsável, fazer o que lhe der na cabeça.

FOLHA - O que o sr. acha da possibilidade de a polícia ser acionada para fazer a reintegração de posse?
OLIVEIRA -
Mandar, por uma medida judicial, invadir a universidade é, realmente, desprezível. Não há outro nome. Ele [Serra] deveria retomar as fotos e filmes de 64 e ver a sede da UNE queimada, para ver se refresca a memória.

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