A entrevista das páginas amarelas é com Jim O´Neil, economista da Goldman Sachs que criou o termo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) para determinar os futuros gigantes da economia mundial. A entrevista é interessante, O´Neil inclusive fala sem hipocrisia de como é bom para o capitalismo global a China ser uma ditadura. Duas perguntas de Ronaldo França são engraçadas por trazer ficções estabelecidas pela revista como pressupostos. A primeira é essa, se referindo ao PAC (que aliás, levanta mesmo um monte de questões).
“Veja – O governo brasileiro lançou um pacote de medidas que inclui idéias como o investimento governamental intensivo para alavancar o crescimento. Isso funciona?”
Não é bem isso. A maior parte dos investimentos do PAC são voltados para geração de energia, área que demanda grandes investimentos públicos. Senão não sai, independente de toda o papo de marco regulatório...Se não houver investimentos em geração e correção de gargalos na infra-estrutura de transportes o crescimento esbarrará em mais apagões...O PAC é tímido demais para receber este tipo de classificação da Veja. O que só mostra o obscurantismo radical da revista em certas posições. Como essa:
“Veja – Esquecer o mercado americano e apostar em comércio com os países pobres, opção de nossa diplomacia, atrapalha o crescimento?”
Como mostraram o caso da tarifa do etanol e a reunião da Fiesp com representantes do governo norte-americano semana passada (sem falar na OMC...), o buraco é muito mais embaixo. A colocação da Veja dá a impressão que tem algo sendo oferecido que estamos recusando. E não é assim. Onde somos muito mais competitivos que eles, há barreiras que eles não vão derrubar. E o governo não age contra entrar e lutar para crescer nos setores em que já vendemos. A posição da Veja, em relação aos Tratados de Livre Comércio (TLC) é nada mais que exaltar um conto do vigário onde o Brasil entregaria prioridade aos Estados Unidos, regras rígidas de propriedade intelectual e proteção aos investimento deles em troca de nada. Nada mesmo. Faz muito mais sentido o governo agir para estimular a abertura de novos mercados onde isto é difícil e necessita de apoio, do que abrir o mercado americano, país que fala em língua que o mercado domina, para onde há vôos regulares, mercado disputado por todos etc...Esta história de “temos que conquistar mais espaço nos Estados Unidos”, carece, fundamentalmente, de propostas e questões práticas.