domingo, outubro 28, 2007

Sobre Tropa de Elite – A farsa oportuna do cinema “de personagem”

Do muito que foi escrito sobre “Tropa de Elite” decide abordar o que não vi em lugar nenhum a partir de uma discussão menos “sócio-ideológica”, mas mais a partir do filme em si. Sou obrigado a concordar com os que dizem que um filme fala por si só, sem precisar de mea-culpa da sua equipe em relação a leitura política feita pelas pessoas a partir do filme. Ainda mais quando a principal diferença, entre a “esquerda” e a “direita” sobre o filme não é sobre seu claro sentido pró-violência policial (que chega a tortura) e que responsabiliza fortemente os usuários pela violência do tráfico. Direita e esquerda fazem essa mesma leitura do filme. Elas discordam em relação a se isso é bom ou ruim, necessário ou bárbaro. E não é essa a questão que quero tratar nesse texto.

O que impressiona é a necessidade dos envolvidos de se divorciarem tão fortemente do que o filme promove, com declarações pró-descriminalização das drogas, e particularmente a de que o filme não seria a visão do diretor sobre o problema, mas a “do Capitão Nascimento”. Um ator dizer isso, vá lá. Mas com essa, Padilha estréia na ficção com uma novidade incrível. Ele teria inventado o filme onde o autor não é o diretor, nem o produtor, estúdio ou mesmo o roteirista, mas um personagem. “Tropa de Elite” seria um “filme do Capitão Nascimento”. Tenha dó...


A verdade é que todos os personagens de Tropa de Elite são muito rasos. O traficante, os jovens da ONG, os policiais corruptos são esquemáticos, e a esposa de Nascimento quase não existe. O único que não é raso é justamente o capitão, menos por força do roteiro e mais do incrível ator que é Wagner Moura. Aliás, não é o discurso direitoso por si só, mas são justamente os personagens ralos, sem motivação ou contraditório, com a exceção de Moura carregando o filme, a lógica maniqueísta, a produção impecável, holywoodiana, e as cenas de ação espetaculares, com violência muito além de holywood, que fazem o filme ser um sucesso, inclusive popular.


Esconder-se atrás de que o filme é a “visão do Capitão Nascimento”, isso para um diretor de cinema que deveria se prezar é pura covardia. “Tropa de Elite” é o anti “Nascido para Matar” (Full Metal Jacket). Aquilo que no treinamento militar mostrado por Kubrick era trágico, e culminava com o homem morrendo por dentro ao matar a vida do inimigo, em Padilha torna-se um ritual de amadurecimento e de superação do “aspirante”. O que em um era crítica ao som de Stones, no outro é funk exaltação.


Como o mesmo Padilha, do brilhante e humano documentário “Ônibus 174”, sobre o mesmo tema da violência urbana, resultou nesse diretor do “Tropa de Elite”? O que existe de um autor, de algum projeto, de algo a se dizer, entre um filme e outro? Isso resulta em mais duas perguntas, sobre dois oportunismos: quanto Padilha aparece como autor, mas não “apita” completamente sobre seu filme? Quanto em “Tropa de Elite” não é justamente onde vai dar a lógica de mercado e de espetáculo “pop”, onde a execução de projetos e sua “ética” perante os investidores significa muito mais do que a ética que em relação à obra, ou às suas próprias idéias? Porque minha impressão é que a única coisa que pode unir em uma linha um documentário humano sobre uma história incrível e um filme que torna pop a violência policial é o oportunismo. Ali, era oportuno ser compreensivo, complexo, explicar as razões sociais. Aqui, é oportuno ser espetacular. O diretor é um corretor de investimentos em projetos cinematográficos?


São questões chatas, mas tratar cenas de ação em comunidades carentes com estética de Counter Strike não pode ser uma coisa impune. Posar de diretor quando isso é bacana, e para manter uma mística “autoral” quando tem grana e empresas grossas por trás de ti definindo rumos, e jogar os questionamentos morais ao filme nas costas de um personagem fictício, não dá para ficar sem ao menos um questionamento. Fazer piada de montagem com tortura, como no corte logo após o enterro de Neto, não dá para fingir que o diretor não sabia o que estava fazendo. Dizer que o contraponto da violência policial de um personagem de ação infalível é ele ter uma família disfuncional, quando as cenas com essa família são fracas, e seu desfecho aberto some para o espectador, pálido em relação a avalanche pop das cenas de ação, é fingir uma incompetência e burrice que Padilha certamente não tem. Ele que exerceu opções, não Nascimento.


Tanto não tem essa ingenuidade, e são tão espertas e “oportunas” as pessoas por trás do filme, que a notícia é que no exterior ele será narrado pelo ponto de vista do personagem André Mathias, e provavelmente terá outra montagem. Não são nada bobos. Sabem que o discurso de extrema violência que aqui gorjeia e se aceita, baniria o mercado para o filme lá fora. Transformarão em uma história passional de hesitação em torno da vingança pela morte injusta do amigo, combinado com a dificuldade de aceitação social. Melhor ainda que o personagem é negro, porque isso dará o fundo do racismo da classe média. Outro mercado, outra obra, outro discurso. Como discutir autoria artística e ética cinematográfica com essa gente? Autoral, para eles, é só proteger o dim-dim do copyright partindo para cima dos camelôs que te divulgam, mas estragam os lucros do lançamento do DVD.

PS: De "anexo", segue abaixo texto do diretor Carlos Reichenbach (http://redutodocomodoro.zip.net/) sobre o filme. Não concordo com tudo, mas é muito interessante.

APONTAMENTOS PARA UMA POLÊMICA ANUNCIADA

de Carlos Reichenbach


DE EISENSTEIN A RIEFENSTAHL — Fazer cinema é também fazer escolhas. Ao optar por um discurso, seja ele de direita ou de esquerda, sem distanciamento ou autocrítica, o cineasta esbarra, queira ele ou não, no proselitismo. E o proselitismo tende a ser a morte da arte. O que não impede que, mesmo comprometida, a obra venha a ter certa importância histórica.

Sergei Eisenstein, por exemplo, não deixou de revolucionar a linguagem cinematográfica por ter feito filmes de encomenda. A alemã Leni Riefenstahl pode ter sido uma persona abjeta, mas sabia filmar magnificamente bem. Se bem que o seu ápice foi ter se voltado, no fim da vida, a outro universo abissal: o fundo do mar.



DE SÓCRATES A BENJAMIM - Os filósofos, de Sócrates a Walter Benjamim, dizem que o pensamento humano não pode ser monolítico. Ele é construído de rupturas. Benjamin acredita que a ruptura é inevitável, mas que existe uma continuidade subterrânea na ruptura. Venho de uma geração que trocou as certezas absolutas pelas dúvidas transgressivas ("eu não sei o que eu quero, mas sei o que não quero") e espera que a criação artística espelhe perplexidades, encantamentos e/ou sensações submersas. Do contrário, é expressão inócua.



A ESCOLHA DE PADILHA — Ao escolher o ponto de vista do policial assumiu um risco bastante capcioso que, somado aos compromissos comerciais do filme, resultou numa combinação perigosa. Isso, aparentemente, levou o filme para a direita, independentemente das suas intenções. Uma postura mais libertária teria, por exemplo, levado o aspirante Matias a atirar no Capitão Nascimento quando este fica esbravejando em seu ouvido, enchendo o saco e induzindo-o à barbárie.

Seria uma solução genial, anárquica, à altura de um Samuel Fuller. Mas um caminho como esse ia detonar o filme comercialmente, assim como, por exemplo, se o menino sob tortura não dissesse nada, levasse o cabo da vassoura, e, mesmo assim, calasse, deixando protagonistas e público perplexos. Mas essa minha observação é uma postura muito confortável para quem avalia uma obra acabada à distância.

Outros filmes brasileiros experimentaram observar e entender o viés do repressor. O ótimo "Eu Matei Lúcio Flávio", de Antonio Calmon, também foi chamado erroneamente de fascista. Um filme de direita não é necessariamente reacionário ou fascista. O excepcional curta metragem "O Inspetor", de Arthur Omar, talvez seja o filme que melhor tenha retratado o imaginário transversal e dilema ético do policial.



O BANDIDO-HERÓI: OUTRO LADO DA MOEDA — Em que pesem as críticas pertinentes, “Tropa de Elite” é uma obra interessante porque não tem medo de lidar com um tema cabeludo e estimular uma discussão necessária: até que ponto se justificam a coação e a tortura na repressão ao crime organizado. Em matéria de cinema brasileiro, isto é uma ruptura radical com a geração dos anos 60 que adotou a ótica do marginal como resposta ao ideário do poder vigente da época. A verdade é que os tempos do "seja bandido, seja herói" já não se justificam mais. Marginal virou uma expressão pejorativa, antítese de transgressão.

O filme ficou suscetível também a uma cobrança obsessiva e atual em cima das obras que retratam o momento histórico do país. Alguns dos que criticam “Tropa de Elite" são os mesmos que atacaram “Batismo de sangue”, de Helvécio Ratton, por enxergar com simpatia e tolerância a fragilidade os padres dominicanos que sucumbiram sob tortura. Ora, ambos os filmes me despertaram o interesse e trouxeram à baila assuntos traumáticos e urgentes.



POUND, ELIOT E OS NOSSOS FASCISMOS — A preocupação de quem assiste não deve ser com lado que, aparentemente, o filme se coloque, mas com o fato dele estar atrás ou à frente de seu tempo. É a mesma coisa que falar mal da obra de Ezra Pound pelas posturas fascistas dele em vida, ou de TS Eliot porque era monarquista.

Ambos são poetas extraordinários, cuja obra transcende as sombras de suas personalidades. A obra de arte talvez seja o único espaço livre onde podemos expor as nossas idiossincrasias, as nossas vilanias, os pequenos fascismos de cada dia. O câncer da criação artística é a autocensura. Embora a responsabilidade nunca deva ser negligenciada, criação e invenção pressupõem risco.


quinta-feira, outubro 04, 2007

2 Diogos ou porque ninguém precisa mais de Veja Q Porcaria

Perderam, playboys... :)

De Wagner Moura, no UOL Cinema (http://cinema.uol.com.br/ultnot/2007/10/04/ult4332u457.jhtm):

UOL - Você diz que a acusação de jogada de marketing foi dolorosa para a equipe. E a de fascismo, que é muito mais pesada?

W.M. - Essa acusação foi triste. Eu me sinto atingido pessoalmente. Não sou fascista, o Zé não é fascista, o filme não é fascista. O Diogo Mainardi escreve na "Veja" que o Brasil não precisa de cinema, que o governo não deveria dar dinheiro para os filmes, que só viu o cartaz de "Tropa de Elite", mas já deu para perceber que sou um péssimo ator, que deveriam raspar minhas sobrancelhas. Tem muita gente que o vê como um herói. E nós é que somos os fascistas?

De Gilberto Maringoni, na Agência Carta Maior:

Che Guevara e os mimos da família Civita
Dar a patinha, rolar no chão e falar mal de tudo que cheire a povo são as eternas gracinhas da pet shop chamada Veja. Os Civita adoram mascotes. Têm vários.
Gilberto Maringoni
A humanidade sempre gostou de animais de estimação, mas agora o costume virou moda. Pet shops tomam conta das cidades brasileiras e roupas, brinquedos e alimentos especiais para bichinhos disputam um mercado crescente. Escolas especiais pipocam por toda parte, sofisticando a pedagogia caseira de ensinar mascotes a sentar, dar a patinha ou buscar objetos atirados ao longe. Todos gostam dessas companhias domésticas. Fazem a alegria das crianças.

Há uma família em São Paulo que parece adorar mascotes. É um clã de origem italiana, aqui radicado há décadas. Não se sabe bem o porquê, mas alguns de seus membros exibem socialmente um inconfundível acento novaiorquino. Manias, quem sabe. Trata-se da turma dos Civita, gente boa, com negócios para os lados da marginal Pinheiros.Os Civita adoram mascotes. Têm vários. Um dos orgulhos de sua casa de negócios atende pelo nome de Diogo. Aliás, são dois os Diogos amestrados daquele – chamemos assim – lar da marginal. Vamos falar de um deles, o Diogo Schelp (tem o Mainardi, mas este fica para outra hora). O Schelp é um espécime reluzente. Dá a patinha, busca o que o dono mandar e não gosta do que os Civita não gostam. Coisa bonita de se ver. Diogo Schelp deve andar aí pela casa dos trinta anos. Tem futuro.

Cuba, Venezuela, MST etc.

Os Civita detestam tudo que cheire a povo. Externam especial repulsa por coisas como Cuba, Venezuela, MST e quejandos. Quando precisam propalar aos quatro ventos seus desapreços, chamam um dos Diogos. “Vem, Diogo, vem”. E Diogo – qualquer um deles – faz a alegria da família. “Vem, Diogo, vem, desce o chanfralho no Chávez, vem!”. E lá vai Diogo, correndo, mostrar o serviço.Como toda boa família, os Civita têm sua sala de visitas, onde exibem tudo do bom e do melhor. A sala de visitas tem até nome. Chama-se Veja. Toda semana apresenta uma decoração nova, todas diferentes, mas iguais às anteriores, se é que dá para entender.Diogo é um fenômeno, dizíamos. É bom também não confundi-lo com Dioguinho, apelido de Diogo da Rocha Vieira, famoso bandido e salteador que aterrorizou os sertões da Mogiana, entre o final do século XIX e inícios do XX. Dioguinho era bandido de aluguel, que agia em troca de bom soldo. Diogo, o Schelp não aterroriza ninguém.Pois não é que depois de fazer das suas por várias vezes, exibindo língua solta contra a Venezuela e Cuba o Diogo resolveu voltar-se contra Che Guevara.
Certamente fez isso depois de dar a patinha, rolar no tapete e pedir papinha, pois a vida não anda fácil.

Pérolas e olfatos

Diogo é uma graça. Ganhou uma capa – é capa da tal sala de visitas, a Veja – e mais um monte de espaço. Sua pérola chama-se “Che. Há quarenta anos morria o homem, nascia a farsa”. A obra é hercúlea. Diogo contou com a ajuda de outro civitete de estimação, um serzinho chamado Duda Teixeira. Para fazer das suas, foram falar com vários cubanos que, segundo ambos, conviveram com Che Guevara. Não foram a Cuba, mas entrevistaram quatro que moram na mais reluzente cidade latino-americana, chamada Miami. Tem uma comunidade cubana lá que é do balacobaco. Ajudaram a eleger George e seu irmão Jeb Bush. Gente fina. Entre citações dos tais cubanos e sacadas próprias, a dupla DD (Diogo e Duda) saiu-se com estas:

“Che foi um ser desprezível”.
“Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro”.

"Sua vida foi uma seqüência de fracassos".

Como a vida da dupla DD é uma seqüência de sucessos, eles podem dizer esta última frase de boca cheia. Certamente ambos vão revelar proximamente terem feito algo mais grandioso do que uma revolução nas barbas do império (desculpem o uso da expressão antiquada) ou de terem dado a vida defendendo o que pensam. O mais legal é a especialidade olfativa dos DD. Sabem de cada uma. Vejam esta:“Che (...) não gostava de banho e tinha cheiro de rim fervido". Cheiro de rim fervido! Alguém sabe como é? Os DD, pelo visto, cultivam o salutar hábito de experimentar odores em busca de comparações espirituosas a pedido dos Civita.E tem mais. Como estão fazendo graça, dando a patinha e tal, os DD não se preocupam nem mesmo em dizer uma coisa no início da matéria e desdizer a mesma coisa linhas abaixo. Pois vejam só:“Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro”.Lá adiante, a dupla do barulho fala assim:“Che também se tornou crítico feroz da União Soviética”.Os Civita devem adorar. Os Civita gostam de dinheiro, poder e publicidade oficial, da qual suas revistas andam cheias. O governo deve gostar muito dos Civita e de seus mascotes, para dar esse ajutório todo.Mas deve haver uma hora que os DD cansam um pouco a família lá da marginal. Mesmo vivendo toda hora na sala e se exibindo para as visitas, há sempre um perigo maior. O de fazer xixi no tapete. Foi o que aconteceu agora. Graça demais não tem muita graça não


Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista da Carta Maior, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).

quarta-feira, setembro 26, 2007

Mano Brown, Azevedo e a Bolha...

Reinaldo Azevedo, funcionário da torre da "puta que abril", do lado de "cá" da Marginal Pinheiros, estranhou o Roda Viva com o principal artista e poeta do lado de "lá" da Marginal, Mano Brown, líder dos Racionais MC´s. Achou que foram molengas com ele, um "espetáculo grotesco". A Bolha de S. Paulo também, em tom menor, mas meio no mesmo espírito. Pegaram leve com ele. Ainda mais que ele elogiou o Lula e a Marta, e todos sabem o que os jornalistas da Folha e da Abril são obrigados profissionalmente a achar disso. Senão a carreira fica difícil...

O problema do Azedo é que ao ver um preto valente falando no meio de uma roda de brancos, estranhou que não tinha tronco, chicote ou feitor. Sentiu-se frustado por não ver a transmissão de um pelourinho. Revoltou-se com a TV Cultura, que não transmitiu o espetáculo que ele queria. "O preto tá fazendo apologia ao crime, prende o preto, não deixa ele falar, grita com o preto, põem ele no camburão". Deve ter ficado angustiado. Tenho carinho por ele, sabe, apesar de tudo. Deu um certo dó.

Mais absurdo, pensou Azedo. Ainda se deram ao trabalho de estarem lá, os brancos, para ouvir o que o preto tinha a dizer da realidade do lado de lá da ponte, tão perto dele, mas tão distante e fácil de ignorar e desprezar. E o preto ainda falar com tanta simplicidade, clareza inclusive nas suas contradições e na admissão dos seus limites como ser humano. Uma entrevista não é ouvir o que o outro tem a dizer? Provocar reflexão, questionar contradições, claro, mas isso não foi feito? Deviam ter perguntado dos conflitos com a PM, concordo, mas o problema (dele) não é esse.
É o estado atual do país e do jornalismo.
Para Azedo jornalismo não é ouvir, nem debater, muito menos reportar ou compreender. É rebater, esgarniçar, aparecer, patrulhar e massacrar. Muita gente pensa assim, ainda mais em blogs...

Como soa grotesco para Azedo ouvir o preto falar livremente, opinar livremente. Azedo acha que o país está piorando. 120 anos atrás, preto no meio da roda viva era coisa bem diferente...

domingo, agosto 05, 2007

do elio gaspari na Folha de S. Paulo de hoje

Elio Gaspari

O governo entregará os boxeadores a Fidel

Dois cubanos tentaram fugir do paraíso comunista e ficaram no Brasil; presos, arrependeram-se

LULA COLOCOU o Estado brasileiro a serviço da polícia política de Fidel Castro. Esse é o resultado da detenção e do anunciado repatriamento dos boxeadores Guillermo Rigondeaux (bicampeão olímpico) e Erislandy Lara (campeão mundial dos meio-médios). Em 22 de julho, eles abandonaram a delegação que veio para o Pan. Outros dois atletas também escafederam-se. Nos últimos 20 anos, cerca de 150 desportistas cubanos aproveitaram a chance e pularam o muro do paraíso comunista.
Quando Rigondeaux e Lara sumiram, Fidel Castro escreveu um artigo intitulado "Brasil, Substituto dos Estados Unidos?", chamando os atletas de mercenários. Os dois boxeadores (patrocinados por agentes europeus) não formalizaram um pedido de asilo, e o ministro Tarso Genro assegura que se o fizerem receberão o devido amparo, "imediatamente". Os dois foram detidos pela polícia no litoral do Rio, levados para um quartel da PM, transferidos para a Polícia Federal e colocados sob vigilância policial. Nesse quadro, teriam se arrependido da fuga e resolveram voltar para Cuba.
O Brasil teve uma geração de militantes políticos preservada pela proteção que muitos países dão aos fugitivos. João Goulart, José Serra e mais de um milhar de brasileiros vagaram como penitentes, fugindo da ditadura brasileira. Jango e Serra eram perseguidos políticos. Rigondeaux e Lara quiseram sair de Cuba para viver como profissionais numa atividade que na ditadura cubana é compulsoriamente estatal. Direito deles, o de ganhar a vida onde, livremente, conseguem mais dinheiro.
Admita-se que mudaram de idéia. Salta aos olhos que essa não foi uma decisão neutra para dois cidadãos que se viram detidos. Sob custódia, não quiseram ver advogados dos agenciadores. Pouco teria custado ter oferecido aos dois um período de graça para que fossem entrevistados por organismos da sociedade civil e por representantes da Comissão de Justiça e Paz da CNBB.
É verdade que os serviços de informação americanos e empresários europeus rondam as delegações cubanas para atrair defecções. Da mesma maneira, vive em Cuba o ex-agente da CIA Phillip Agee. Murmura-se que Fidel Castro chamou sua delegação de volta antes da festa de encerramento do Pan porque farejou fuga em massa de atletas. Seriam 60.
O argumento policial segundo o qual Rigondeaux e Lara eram estrangeiros que permaneciam ilegalmente no país é digno das meganhas comunistas. Se a polícia-companheira está preocupada com imigrantes ilegais, pode encher um estádio em horas, bastando-lhe varejar alguns pontos do Rio e de São Paulo. O aparelho do Estado brasileiro deteve Rigondeaux e Lara a serviço da repressão cubana, o resto é conversa fiada.

terça-feira, julho 31, 2007

Sobre o "Cansei" - perfeito

Este artigo resume um sentimento pessoal que tenho faz tempo. Isso ainda é mais típico em São Paulo, onde um bando de gente que descende de miseráveis europeus e que aqui construiu uma vida com padrão de rico europeu (casas, fazendas, empregados etc...), adora ao invés de ter uma atitude positiva, reclamar do país como se não fosse ela mesmo a parte mais poderosa dele.
A Abril ter se envolvido nisso, aliás, é típico.
Qual o interesse desse "anti-movimento" em melhorar a educação e a saúde pública? A condição e renda dos trabalhadores? Aumentar os espaços públicos, convivências e intercâmbios entre as classes? Aumentar a democracia do país? Reduzir a desigualdade?
E este nome, que piada pronta...


JANIO DE FREITAS

Cansei de "basta!"

O que mais deseja a riqueza do país, além das condições inigualáveis que o governo Lula lhe proporcionou?

O ODOR EXALADO pelo movimento "Cansei", ainda que nem todos os seus fundadores tenham propósitos precisamente iguais, é típico do golpismo que sempre foi a vocação política mais à vista na riqueza, não importa se cansada ou não. A fonte de onde surge não lhe nega a natureza pressentida: um escritório de negócios em São Paulo, tal como se identificaria nos primórdios de todos os golpes e tentativas de golpe desde 1944/1945, pelo menos.
Também denominada "Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros" -batismo que os padrinhos relegaram, por considerarem o apelido "Cansei" mais representativo dos seus propósitos- o que a iniciativa sugere, de fato, é uma interrogação.
O que mais deseja a riqueza brasileira, além das condições inigualáveis que o governo Lula lhe proporcionou? O fim da inflação, o emudecimento do sindicalismo e das reivindicações sociais; concessões transgênicas para todos os tipos de grandes empresas e negócios, Bolsa farta e imposto baixinho ou a zero; e, sobretudo, a transferência gratuita de um oceano de dinheiro dos cofres públicos para os da riqueza privada, por intermédio dos juros recordistas concedidos pelo próprio governo aos títulos de sua emissão. Ainda não basta?
O que deseja a riqueza não pode ser a correção das deformidades socioeconômicas, institucionais e políticas que refreiam o Brasil, enquanto países do seu aparente status desenvolvem-se a níveis exuberantes. É da não-correção que vem grande parte das facilidades pelas quais a riqueza se multiplica sem cessar: a fraqueza ética do Congresso, a corrupção administrativa que só tem o corrupto e não o corruptor, as eleições movidas a marketing endinheirado, e por aí.
Além disso, nunca se viu a riqueza movendo-se, de fato, por correções e reformas a serviço do interesse do país. Os seus lobbies e outros meios só se movem, historicamente, por alterações que privilegiem os interesses da própria riqueza privada. Assim é a história parlamentar e administrativa do Brasil, para dizer o mínimo, do último meio século.
O governo Lula deu e dá à riqueza privada a situação que a ela deu o "milagre econômico" da ditadura, porém, agora sem os inconvenientes produzidos pela força. A quem vive no Brasil em nível de primeiríssimo mundo, conviria, portanto, demonstrar um pouco mais de compostura. Se não para aparentar recato que lhe falte, por um grão a mais de esperteza.
"Cansei" -e daí? Vai fazer ou, pelo menos, propõe o quê, de objetivo, prático e necessário? Disse um dos "cansados": "Queremos despertar em cada indivíduo o que ele pode fazer para mudar o país". Pois façam isso no seu próprio movimento. Sem que, para tanto, o seu alegado cansaço exale sentidos que, intencionais ou não, negados ou não, vão até onde não devem.

terça-feira, julho 24, 2007

O Brasil é uma realidade, não uma abstração descartável

No Brasil, se confunde muito a parte pelo todo, é mania generalizar e se larga a complexidade e contradições do real por uma abstração, dizer de forma muito fácil e reducionista que "o brasil é isso, o brasil é aquilo", "o cinema brasileiro é isso, o cinema brasileiro é aquilo". Isso, de esquerda ou de direita, é uma postura muito imatura e colonizada, que adianta pouco...E no fundo é uma herança autoritária. Porque a discussão abstrata é uma maneira de driblar as dicussões, problemas, limites, soluções e principalmente negociações que a realidade impõem. Fala-se no abstrato para evitar se discutir a realidade. Fala-se na "herança escravocrata", importantíssimo, mas para evitar discutir como enfrentar e resolver o racismo hoje. e assim a nava vai...

a vida é muito menos maniqueísta, e mais complexa, múltipla e dia-a-dia que isso...

pensei nisso ao ler este post do blog do ricardo calil: http://www.ricardocalil.com.br/

Um país bipolar

Nunca na história desse país uma certa bipolaridade brasileira ficou tão clara quanto no noticiário de TV da última semana. No bloco dedicado ao Pan, somos uma nação com um futuro brilhante, uma nova potência esportiva, um gigante finalmente desperto. Portanto, somos também incapazes de aceitar qualquer medalha que não seja ouro, de vaiar moleques de menos de 17 anos que perdem no futebol para garotos cinco anos mais velhos, de entender a revolta do judoca que levou “apenas” prata.

No bloco seguinte, dedicado à tragédia de Congonhas, voltamos a ser um país de merda, com um governo incompetente e corrupto, companhias aéreas e pilotos despreparados e uma população de bundões, incapaz de se revoltar com tamanhas barbaridades. Claro, existe aí o evidente desejo das emissoras de TV de usar a tragédia para atacar politicamente o governo, de repetir cenas mórbidas para aumentar índices de audiência. Mas há também, como pano de fundo, uma certa fracassomania, a velha síndrome de vira-latas de que falava Nelson Rodrigues.

E, no bloco seguinte, voltamos à euforia do Pan. E continuamos a ser um país onde não se aceita o bronze e o acaso. Um país sem razão.
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segunda-feira, maio 28, 2007

VQP - Plano fechado

A capa da Veja São Paulo, escalada para bater na USP traz uma ridícula foto de uma fogueira em plano fechado. O plano fechado da foto é proporcional a dignidade do papel que se prestam os que assinam a matéria: Alvaro Leme, Maria Paola de Salvo e Sandra Soares, a profundidade do texto, que compra completamente as teses do governo do estado (inclusive em chamar de "suposto' ataque à autonomia, defender Pinotti e querer ver pelas costas a reitora da USP), e é coalhado de expressões como "baderna", "bagunceiros" etc...
O verdadeiro "guia espiritual", para dizer o mínimo, da matéria, é Reinaldo Azevedo. Coitado, está tentando monitorar e patrulhar todos os textos que saem na grande imprensa sobre a greve. Artigos, entrevistas, reportagens, tudo, tudo que sai sobre o assunto na Folha e no Estado merece o elogio ou crítica de Reinaldo Azevedo, basicamente elogiando se concorda com sua opinião, e criticando e desqualificando, inclusive reportagens e relatos feitos no local, se vão contra sua opinião. É um censor nato. Deve estar partindo seu coração as posições ambíguas da cobertura da Folha de S. Paulo. Este fim-de-semana entrou em crise de nervos no seu blog, postou pitis, nervoso ao ver que Serra está em uma sinuca de bico. Apelou para o coração do seu ataque. Postou que a USP é "cara". Consome recursos públicos demais, muito mais que o ensino básico e fundamental (quando não são a mesma coisa). A USP não é cara em comparação a universidades internacionais (como seria, se seus professores ganham muito menos?). A USP é barata para o papel que cumpre em São Paulo e no Brasil, que sem suas universidades e a Fapesp ainda estaria vivendo do ciclo do café (porque nem etanol teria).
É parte do patrimônio político de Serra ter sido presidente da UNE. É parte do seu "apelo", parecer ter laços com a esquerda. Por mais que seja uma farsa difícil de engolir, ele não quer jogar isso no vinagre. A obsessão política de Serra em ser presidente em 2010 cobra seu preço todo o dia. Ele quer tanto que eu acho quase impossível que consiga.
Divertidíssimo, ainda mais vindo de quem vem, o artigo de Fernando de Barros e Silva na Folha de S. Paulo. Deve ter partido o coração do Azevedo. No sábado, foi o editor de economia do jornal a bater o governo. Na segunda, o de política praticamente rifa Pinotti e diz que os estudantes estão "certos" em espalhar fotos de Serra armado pelo campus. Os estudantes de fato foram brilhantes ao levar a crise para o colo do governador.
O plano fechado da capa da Veja reveja quão estreito é o campo de visão do radicalismo da revista, e quão isolada ela está. Levá-la a sério, Veja Q Porcaria, pra que?
Difícil, na ocupação, é saber o ponto certo entre negociar uma saída obtendo o que se quer, a revogação dos decretos. Já que isso é um baião de dois com o governo. Administrar vitórias em política, é em geral mais difícil que não apanhar da tropa de choque...

domingo, maio 27, 2007

Artigo interessante sobre a USP

Eu não concordo com tudo que Vinicius Torres Freire escreveu no artigo que coloco abaixo e que saiu hoje na Folha de S. Paulo. Mas eu acho que é um avanço tremendo na polaridade da discussão sobre a USP, tendo este mérito tremendo de ir contra clichês como "a USP é cara", o do setor privatista que não faz nada pela pesquisa e quer dar o tiro no pé de destruir a universidade pública. Aponta características essencias da USP, como a positiva de atrair bons alunos, e a hipocrisia das fundações e toca na única forma de contrapartida financeira que eu acho que deve ser avaliada, que não acho tabu. Uma taxação extra na renda de ex-formandos, claro, cobrada a partir de certo piso e progressiva ao longo de um período de tempo. O debate em torno da universidade por conta da ocupação é "medíocrel" particularmente por conta da mentalidade instalada no governo Serra (e na mídia, e nas grandes empresas e bancos etc...), governo que ainda coloca um sujeito como o Pinotti para "enquadrar" as públicas em nome da privada, e que tenta regredir a universidade, sem nem reconhecer que está fazendo isso. É natural que em um clima de desconfiança e conflito desses, a prioridade de qualquer debate seja se colocar em oposição as sanhas privatistas e destruidoras do pensamento, não só na universidade, mas também na Fapesp, Fatecs e no Instituto de Pequisa Tecnológica. Qualquer pessoa que conhece a história das universidades e das pesquisas científicas no Brasil sabe o quanto elas tiveram que remar, e ainda remam, contra a corrente para se estabelecer.

VINICIUS TORRES FREIRE

A USP é quase linda, mas é feia

Universidade se torna mais produtiva e custa menos que escolas privadas boas, mas é lerda e não presta contas

A USP PERDE alguns professores para escolas privadas que pagam bem. Não se trata de vaga nem de voga, mas o caso deixou de ser raro. A maioria não deixa a universidade devido à infra-estrutura de pesquisa, ao prestígio ou pelo ambiente intelectual. Ou a tudo isso e mais os complementos de renda oferecidos pelo trabalho em fundações ou por encomendas privadas.
A USP ainda não perde a maioria dos melhores estudantes de São Paulo, mas os divide com a Unicamp e enfrenta a concorrência de boas escolas especializadas de economia, matemática, engenharia. Quantos estudantes ainda prefeririam a USP se seus cursos fossem pagos?
Pesquisa, ambiente intelectual e a maioria dos melhores estudantes ainda fazem a USP. E por quais outros critérios a universidade deveria ser julgada? Pelo seu futuro, talvez; pela produtividade, decerto, embora a medida da eficiência universitária seja um problema (que nem por isso deve ser tratado com a nonchalance do faz-de-conta que suscitam os relatórios burocráticos de produção).
Ao menos desde os anos 90, a USP torna-se mais produtiva. Há mais estudantes por professor, embora uspianos questionem a qualidade da formação de classes de uma centena de alunos. O número de publicações científicas, as de padrão internacional, por docente é 51% maior que em 2000; há mais doutores a dar aulas.
A USP é cara? Faça-se uma conta tonta, dividir o orçamento pelo total de alunos de graduação e pós: dá uns R$ 2.300 mensais por cabeça. Boas escolas privadas de economia e direito de São Paulo, sob supergerentes ou "gente do mercado", cobram uns R$ 2.000 mensais. Mas tais escolas nem de longe bancam a massa de laboratórios, pesquisas, museus, hospitais e serviços da USP. Ou seu grave gasto com aposentados, que levou 19% da despesa total de 2006.
Comparação global? Harvard gasta R$ 26 mil mensais por aluno. Mas quem quer brincar de numeralha terá de fazer algo mais sofisticado que continhas de privatistas raivosos ignaros. Por falar nisso, cabe porém discutir se os uspianos formados deveriam contribuir, na medida de sua renda, para a universidade (sim, pagar o curso ex post). Isso é solidariedade social e intergeracional, não "mercantilização do ensino".
Mas a USP é lerda. Sua burocracia e seu sistema de decisão são ineptos em inovação institucional. A USP não oferece novos formatos de cursos num mundo cambiante. Pouco reage a cursos decadentes ou que jamais se firmaram. É lerda em criar patentes, embora não deva se tornar um balcão de soluções para empresas e programas sociais, como pregam mercadistas ou esquerdóides.
A USP porém não publica periodicamente uma carta de objetivos e compromissos que possam ser verificados pelo público. Não demonstra a qualidade de seus formados. Não presta contas, afora a contabilidade comezinha. Tende a soçobrar sob o peso dos aposentados, sobre o que se finge de morta. Reage a cobranças com passividade ou por meio da militância corporativista e retrógrada.
O debate suscitado pelos decretos Serra é medíocre. É pífia a crítica à USP de um setor privado que mal investe em ciência. Governos ora nada têm a dizer à universidade. Sim, tanto zunzum e tudo ficará na mesma.

quinta-feira, maio 24, 2007

As vitórias na ocupação da USP

Primeira crise enfrentada por José Serra, os protestos na assembléia e a ocupação da reitoria da USP, que tem sido o pavio de uma importante discussão sobre autonomia universitária X autoritarismo de Serra, tem dado várias importantes lições na esquerda "velha". A ocupação foi a frente e seguiu a despeito das avaliações de entidades e militantes partidários e experientes. Os independentes, anarquistas e outros grupos, inspirados por Hakim Bey e afins, trouxeram-os a reboque, como, com a devida proporção, Seattle trouxe a reboque o Fórum Social Mundial.
Conversei com duas pessoas com décadas de esquerda na USP. Uma disse que não deveriam entrar em greve porque "a universidade não produz mais-valia". O outro disse que há dez dias as entidades defenderam o fim da ocupação, porque "não havia correlação de forças". Este admitiu que eles estavama errados, e os jovens estudantes que sustentam a ocupação e aprendem conforme fazem, estavam certos. De cinco dias para cá a ocupação se tornou uma "bomba" no colo de Serra. Com a entrada em greve dos professores ontem (lógico, das partes da USP que entram em greve) o custo político da ação da Tropa de Choque subiu muito.
O que a "mais valia" e a "correlação de forças" não explicam? Ridiculamente voltando ao meu livro sobre protestos anti-globalização, A guerrilha surreal (Conrad) Que força se faz a força, e que a sociedade de hoje é do "espetáculo" para o bem e para o mal. A ocupação foi se tornando um crescente fato midiático, forçando respostas de Serra, chamando atenção para os decretos e rebatendo argumentos do governo, que optou por negar a ameaça a autonomia, a legitimidade do protesto, desqualificando-o totalmente, e enquadrando, de maneira vexatória, seus prepostos, os reitores.
O que não contavam foi com a força do protesto dos desinteressados, com a criatividade de comunicação dos estudantes, com sacadas geniais como encher as barricadas com fotos do Serra posando com uma arma, foto com a qual a direita gozou em página dupla na Veja. Com o cheiro do ralo da ilegalidade dos decretos, que começa a ser sentido por todos. Xico Sá no nominimo, matérias de repórteres da Folha sobre o clima na ocupação etc...começaram a bater na barra da calça do governo.
Pinotti foi exposto no seu real objetivo no cargo: enquadrar as públicas como representante das universidades privadas. É a privada da FMU mandando na USP, Unesp e Unicamp. Hoje, artigo do pitbull intelectual dos tucanos, José Arthur Giannotti (demorou, não?) acusa o golpe, e junto com um editorial da Folha de S. Paulo, começa a tentar sinalizar uma saída para Serra. "Redigir" os decretos, ou colocar os reitores para implantarem um "meio termo".
Tudo pode estar acabando hoje. Mas parece que não vai ficar de barato estes decretos que passam por cima da lei. A universidade, fica ainda mais dividida e polarizada entre os que lutam para que ela seja mais pública, crítica, social, e os privatistas das fundações, com uma maioria silenciosa de pesquisadores "independentes" no meio.
A sociedade lembra aos tecnocratas autoritários, que a política feita de forma silenciosa, apenas pelos interesses econômicos, nem sempre é tão fácil de se implantar assim.
Vamos ver como fica Pinotti e sua ridícula "ex-secretaria do Turismo", se a Fapesp continuará na pasta de "Desenvolvimento" e principalmente, como fica Serra e seus decretos.

quarta-feira, maio 23, 2007

Serra e a mentira

Serra diz que os motivos da ocupação na USP são "mentiras", que os decretos não afetam a autonomia. Lembra-se que Serra prometeu e assinou compromisso de cumprir todo o seu mandato na prefeitura de São Paulo? E largou-a na mão do Kassab/Mattarazzo para ser governador do estado? Serra entende muito de mentira...

Artigo para clarear o cenário dos decretos de Serra e da ocupação

ARTIGO

Em defesa da Universidade de São Paulo
ANTONIO CARLOS ROBERT MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando o atual governo do Estado de São Paulo decidiu promulgar um decreto alterando a estrutura das universidades públicas estaduais, gerou a possibilidade da crise que agora vivenciamos. Tal medida não constava do programa de governo apresentado pelo candidato a governador, nem foi levantada em sua campanha eleitoral. Por isso surpreendeu a comunidade uspiana, inclusive aqueles que nele votaram.
Para utilizar uma expressão popular, foi uma medida "tirada do bolso do colete", incidindo em uma área da administração pública estadual que, comparativamente, não apresentava grandes problemas. Ao contrário, a USP permanecia com a sua produção acadêmica de qualidade e estava expandindo vagas.

Cabe assinalar que, para uma proposta que visava "aprimorar" o sistema universitário paulista, a medida continha grandes lacunas e imprecisões, como ficou bem demonstrado nas alterações posteriormente realizadas pelo próprio governo estadual, e nas dúvidas que persistem sobre suas atribuições até o momento.

Em face ao quadro descrito, e dada a omissão dos dirigentes da USP que não se manifestaram quando da publicação do decreto, instalou-se um clima de insatisfação na comunidade uspiana. Tal terreno possibilita atitudes radicais e mesmo impróprias, como a invasão do prédio da reitoria por um grupo minoritário, que se manifestou como "vanguarda" política no processo.

Sem dúvida, essa ação desencadeou o debate que agora se trava, porém a atual situação de impasse, que persiste, é altamente lesiva à instituição. As atividades-fim de ensino, pesquisa e extensão são prejudicadas, e municia-se os interesses contrários à universidade pública com argumentos falaciosos, que passam à sociedade uma visão distorcida da vida universitária.

Órgãos de imprensa inescrupulosos fartam-se nessa situação, apresentando os docentes como uma corporação privilegiada e os alunos como rebeldes irresponsáveis. Esta visão deturpada e intencionalmente dirigida para a destruição de um bem público não releva os enormes serviços prestados pela USP ao longo de sua existência. Todo o sistema universitário brasileiro lhe tem como matriz geradora de quadros especializados e como referência institucional.

A pesquisa de excelência ali praticada, responsável por quantidade considerável da produção humanística e científica nacional, se expressa desde a geração de patentes de remédios de suma importância para a saúde humana até a elaboração de interpretações básicas para o entendimento de nossa história, desde o desenvolvimento de tecnologias vitais para o país até a reflexão sobre posicionamentos que aprimoram a nossa sociabilidade.

Além disso, cotidianamente, a universidade presta diversificados serviços à população, seja no campo do atendimento médico, da elaboração de laudos técnicos, de difusão da cultura, entre outros. Enfim, seria longa a lista dos benefícios que a universidade cria para a sociedade que a mantém. Pequeno é o seu custo em comparação com outras aplicações dos recursos públicos.Por essa tradição já consolidada, a Universidade de São Paulo não pode ser colocada na "bacia das almas" do jogo de interesses mercantis, partidários ou político-eleitorais. A sociedade paulista tem de defender este seu patrimônio, lutando pela manutenção de sua autonomia, de sua independência administrativa e de pensamento. O que não significa falta de transparência na prestação de contas (como parece sugerir o discurso governamental).

ANTONIO CARLOS ROBERT MORAES é professor-titular do Departamento de Geografia da FFLCH, foi secretário da Adusp e representante dos professores-assistentes e dos professores-doutores no Conselho Universitário da USP

terça-feira, maio 22, 2007

Salvem São Paulo de São Paulo...

Já critiquei muitas matérias deste jornalista do tempo em que ele trabalhava na Veja. Mas este texto dele é certeiro e urgente em tentar impedir que herr Mattarazzo destrua de vez o centro de São Paulo. Saiu na Folha de S. Paulo de hoje.


RAUL JUSTE LORES

Uma Berrini na cracolândia?

A CRACOLÂNDIA está na mira de empreiteiras como Odebrecht e Gafisa para se transformar em um bairro "revitalizado". É uma oportunidade rara para São Paulo evitar uma nova Berrini, uma Vila Olímpia ou um Morumbi.
Empreiteiras gastaram bilhões nesses bairros caros, e o subserviente poder público foi atrás, torrando milhões em túneis e vias expressas. O resultado é o pior que São Paulo construiu em décadas.
Praças, árvores, bares com mesinhas em calçadas largas, gente na rua, paquera, vitrines para se olhar.
Tudo aquilo que se admira em Buenos Aires, Rio de Janeiro, Londres ou Nova York não se encontra na Berrini e arredores. Ali, só zonas mortas à noite e no fim de semana, muros altos, calçadas estreitas, sem comércio ou vida.
A culpa maior é de sucessivos prefeitos que deixaram que assim fosse. O Morumbi virou um treme-treme de rico, com dezenas de torres residenciais juntas, sem uma loja embaixo, um boteco na esquina, onde cada apartamento tem três carros e você precisa deles até para comprar um pãozinho.
A Berrini virou um amontoado de torres de escritórios, sem um edifício residencial no meio, nem a obrigação de locais comerciais no térreo. Esse Urbanismo Tabajara teve alvará porque o mercado manda. Mas o mercado que assedia a cracolândia já demonstrou que não sabe criar bairros.
Há o risco de que os atuais moradores da cracolândia sejam desterrados para rincões perdidos da cidade, onde jamais conseguirão emprego (ou vão preferir virar moradores de rua no centro). Sem um plano diretor para a área, que misture uso residencial, empresarial, comercial e de entretenimento e que obrigue uma porcentagem de apartamentos populares e financiados, a cracolândia pode virar outra Berrini.
É irônico que, enquanto a lengalenga da revitalização do centro se arrasta, justamente na marginal Pinheiros, na vizinhança da Daslu, novos shoppings estejam em construção. São Paulo já tem mais de 70 shoppings. A cidade ficou pior ou melhor nas últimas décadas, desde que eles concentraram a diversão da classe média e acabaram com o comércio de rua? Londres e Nova York proíbem shoppings. Por que será?
Buenos Aires criou o Puerto Madero sobre escombros de armazéns portuários, coisa que até Guayaquil, no Equador, conseguiu copiar. São Paulo não consegue melhorar alguns poucos quarteirões.
Vivemos uma era em que as indústrias criativas de ponta se instalam onde seus talentos queiram morar. Se continuarmos a construir uma cidade tão inóspita e feia, o dinheiro que criou Berrinis e afins escolherá portos mais criativos e acolhedores.
RAUL JUSTE LORES é repórter de Mundo.

domingo, maio 20, 2007

Heroes e suas influências

Amanhã será exibido nos Estados Unidos o último episódio da série Heroes. Assistirei na internet na manhã seguinte. Adoro Heroes. É um seriado sensacional. Funciona como uma transposição de anos de expertise nerd, de roteiristas fãs de TV, quadrinhos e construção de estruturas narrativas imensas, de RPGs etc, com um setor da indústria cultural (a de seriados) que amadureceu e evoluiu muito nos últimos anos.
Por isso resolvi escrever um texto sobre as influências da série. Até porque se "quebro" direitos autorais vendo-a pela web ao invés de esperar meses para fazer a mesma coisa na TV que eu já pago para ter (e quem disse que eu vou assistir aos comerciais?), vale a pena expor influências para mostrar como a produção cultural é por natureza uma retroalimentação, que se produz coletivamente, em diálogos e acumúlos de várias fontes. Vamos lá a este mico nerd:

Influências de Heroes

X-men:
A influência mais óbvia é a dos quadrinhos de mutantes dos X-men. Praticamente todo mundo explica Heroes como "É tipo os X-men". Stan Lee, que distanciou a Marvel da DC Comics ao crias quadrinhos mais "realistas" (e duas aspas é pouco para o uso desta palavra) popularizou o conceito darwinista de "mutantes", pessoas com superpoderes que representariam um novo passo evolucionário, e suas dificuldades e desafios em aprender a dominar seus poderes natos e de conviver com os humanos normais . Mas foi o inglês Chris Claremont que reinventou os X-men, transformando-o em um grupo multiétnico, com pessoas de vários países e explorando mais as diferenças culturais e a questão de os seus poderes os fazerem não só mais poderosos, mas também párias. Ele sacou que o público internacional que consumia os quadrinhos produzidos nos Estados Unidos teria interesse em se ver neles, e que disso poderia extrair personagens e conflitos mais interessantes do que mantendo-os apenas dentro de um contexto norte-americano mais estreito. Claro, eles ainda estão subordinados à este contexto e ponto de vista, mas o enriquecem. Claremont transformou os X-men em fenômeno e no título mais importante da Marvel. O diretor de cinema Brian Synger, fez um trabalho incrível em conseguir adaptar as questões, poderes e personagens dos X-Men ao universo audiovisual, que necessariamente demanda uma verossimlhança mais apurada que a dos quadrinhos.

Robert Altman
: O cineasta norte-americano trabalhou um bom tempo desenvolvendo a arte de criar narrativas em forma de grandes painéis, com muitos persoangens que se cruzam ou não, por exemplo, no filme Short Cuts e Prêt-à-Porter. Vários outros diretores passaram a trabalhar mais com narrativas paralelas com pontos de tangência após isso. Magnólia e Babel são alguns exemplos. Heroes usa este recurso com maestria.

Watchmen: Watchmen é o ponto máximo dos quadrinhos de super-heróis. A minissérie de Alan Moore, além de trabalhar as possibilidades dos super-heróis em um mundo realista e suas neuroses, tinha como trama uma conspiração que queria explodir Manhattan (uma verdadeira obssessão compartilhada pela indústria cultural e de Bin-laden) com o objetivo de unir o mundo. Alguma semelhança com a trama principal de Heroes? Aliás, é muito bacana e pouco comentada os paralelos entre Nathan Petrelli e George Bush, e seu 11 de setembro. A série é entretenimento, mas trabalha bem com o clima político e a questão de 11/9, principalmente em seu melhor episódio, o 20°, que se passa em um futuro fascista (aí a crítica a Bush é direta), e a mania dos norte-americanos por teorias da conspiração. O incosciente da série passa pelas questões da alteridade e segurança, levantadas pelo 11 de setembro e a guerra contra o terror.

Novo universo Marvel: Talvez a menos citada influência da série, e uma das mais importantes, seja a experiência (fracassada) da Marvel dirigida por Jim Shooter, na segunda metade da década de 80, de fazer um "novo" universo de super-heróis, muito mais realista. Durou três anos. Eu duvido que os roteiristas não tenham lido "Estigma", ou "PN-7" quando adolescentes...De cara o eclipse do começo da série e que é a sua abertura, lembra o "clarão" que dá início ao Novo Universo. Que também tinha um vilão que queria ser presidente dos Estados Unidos e que absolvia poderes de quem encontrava (os dois Petrellis na mesma pessoa), uma loira com super-força e heróis desajustados no PN-7 etc...

Lost: Só o sucesso de Lost explica como a TV norte-americana topou financiar uma série tão complexa e cara como Heroes, baseada em roteiristas e não em astros. Heroes foi implantado para concorrer com Lost nos Estados Unidos. Mas são também os erros de Lost, na questão de "gerenciamento de segredos" que nitidamente, e isso é assumido, significam a evolução de Heroes em relação aos perdidos na ilha. Como diz o criador da série, Tim Kring, ele se reuniu com um escritor que trabalhou para ele, e que hoje é do time de criação de Lost, para conversar sobre erros e acertos deles com o show. Heroes tem uma premissa muito mais livre no tempo e no espaço, e transformou o uso de "criar e revelar" segredos como gancho para prender o espectador em uma forma de arte. Lógico que com o tempo vai se desgastar (está difícil manter o clímax após o episódio 20), mas eles vão tentar dar soluções novas para este problema.
Esta matéria, em inglês, do Boston Globe, tem um gancho bobo de "teoria da conspiração" mas avança para dar conta da complexidade e da troca de idéias que faz uma indústra cultural madura. É muito legal para conhecer os bastidores da concepção da série.
Claro, Heroes, não é realista, é um produtão, seus personagens não são um mundo de profundidade, tem vários furos no roteiro, natural já que é tão complexo, como "porque X não usou este poder para impedir aquilo", e trabalha de um jeito genial com a falta de recursos, usando efeitos especiais pontualmente e resolvendo questõs com soluções espertas de som e edição (como praticamente nunca vermos Nikki/Jessica usar realmente seus poderes)... Mas é brilhante, muito bem feito divertidíssimo. Tá bom demais.

Ombudsman de ombudsam

Se o novo ombudsam da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães continuar suas colunas no rumo em que está, falando de questões de "atendimento ao consumidor" mais do que ao leitor, e gastando espaço para falar de problemas de outros jornais, o que é uma ótima maneira de desviar dos espinhos da sua função, só irá demonstrar como a excelente e corretíssima temporada de Marcelo Beraba no cargo deve ter incomodado demais a direção do jornal. Mário Magalhães vai falar de erro no Jornal do Brasil, ao invés de escrever sobre a demissão e crise na Meio& Mensagem por causa de um box sobre a participação de Octávio Frias de Oliveira em episódios na ditadura. A função de ombudsman parece ter sido finalmente "enquadrada". A coluna de hoje é, e torço para que isso não vire um padrão, uma coisa insípida.

Serra mente

Ontem, José Serra disse que os estudantes ocupam a reitoria da Universidade de São Paulo baseados em "mentiras". Por que não haveria nenhuma ameaça a autonomia partindo de seu governo. Ainda quis dar lição para os outros, dizendo que foi o "grande líder estundatil da sua época". Serra foi presidente da UNE, de fato, e de resto segue sem tratar sua megalomania no divã.
O problema não é a inclusão no sistema de acompanhamento no orçamento. É o resto. Se os decretos não ameaçam a autonomia, porque foram implantados? Para deixar as coisas bem claras, assim que eles acabaram com a autonomia:

- Os reitores não podem mais remanejar, dentro da verba destinada à universidade os recursos entre mão-de-obra, custeio e investimentos, sem autorização do governador. O governador jura que autorizará todo o pedido. Mas isso não é autonomia, que deixa de ser institucional para ser pessoal ou "operacional", como é a do Banco Central de Lula (e que aliás, não deve ser autônomo de fato, mesmo). A simple existência da possibilidade do governador vetar um remanejamento já é uma ingerência que influi no cenário das decisões. O "potencial de poder" de que trata Giorgio Agamben ao falar do Estado de Exceção, se aplica perfeitamente ao caso. É como uma conversa entre alguém desarmado e um outro armado. O outro pode nunca usar a arma, mas o fato dela estar lá e dele poder usá-la, já muda toda a conversa...O governo fez isso. Colocou um revólver na mesa nas suas conversas com as universidades.
- A mudança de composição do Conselho de Reitores, que é o órgão que negocia a política salarial das universidades. O governo ganhou ainda mais força nele e pode barrar aumentos salariais, mesmo havendo recursos e necessidade de fazê-los. Podem forçar uma defasagem ainda maior de salários.
- A necessidade de autorização do governador para contratação de mais professores e funcionários. Novamente, o governo ganha capacidade de sufocar a universidade.

Nitidamente o governo não quer ceder, e pretende esperar o barulho causado pela ocupação passar, constrangendo os seus pré-postos (os reitores, a quem o governo desgastou com estes decretos-surpresae jogou em saia justa a toa) e sufocando o movimento dos estudantes (que dificilmente conseguirá durar até julho). Para mais para frente, com a "normalidade", aplicar os decretos. A quem isso serve? A autonomia universitária funcionou horrores para São Paulo, aumentou a produção e eficiência acadêmica, e para a direita, não impedeu a apropriação gradual do que lhe interessa economicamente nas universidade através das fundações privadas. A quem criar ferramentas para desconstruí-las interessa? Basta observar as declarações e associações de José Aristodemo Pinotti com o lobby das instituições privadas, através de seus cargos na FMU. É a única explicação no horizonte. Eta direita ideológica movida à lobbies, dando tiros no pé da sociedade...

Contra esta, a lucidez de Fancisco de Oliveira, em entrevista ontem na Folha de S. Paulo:


É um movimento em defesa da universidade, afirma sociólogo

Francisco de Oliveira disse aprovar que os alunos tenham tomado a iniciativa

DA REPORTAGEM LOCAL

O sociólogo Francisco de Oliveira, 73, aprova a ocupação da reitoria pelos alunos. Para ele, essa é a única maneira encontrada para as reivindicações serem ouvidas. Ele critica, porém, a política educacional de José Serra e, ainda, a possível entrada da PM no campus. A assessoria do governador foi procurada no início da noite, mas informou que Serra estava no interior. A assessoria do secretário José Aristodemo Pinotti não foi localizada por telefone. Leia trechos da entrevista.


FOLHA - Qual é a opinião do sr. sobre a ocupação da reitoria?
FRANCISCO DE OLIVEIRA -
Sou inteiramente a favor dessa ocupação. Não ocupação por ocupação, mas porque os recursos se esgotaram e os estudantes estão fazendo um movimento em defesa da universidade. É lamentável que os meios políticos institucionalizados não sejam capazes de atentar para a questão da universidade. É odioso que o governo do senhor José Serra, que no passado foi presidente da UNE, (...) use desses meios de restringir financeiramente a universidade.
Não adianta o secretário [de Ensino Superior, José Aristodemo] Pinotti vir e dar nó em pingo d'água. Não havia mais recurso, o movimento dos professores está muito fraco e os estudantes tomaram a iniciativa e sou inteiramente a favor. Ainda não vi ato de vandalismo.

FOLHA - Essa era a única forma de serem ouvidos?
OLIVEIRA -
É isso. O governador, do alto de sua majestade, baixa os decretos. Ele tem a chave do tesouro e pronto. Deveria criar outros meios de a universidade ser responsável pelos gastos. Não estou pedindo uma universidade irresponsável, fazer o que lhe der na cabeça.

FOLHA - O que o sr. acha da possibilidade de a polícia ser acionada para fazer a reintegração de posse?
OLIVEIRA -
Mandar, por uma medida judicial, invadir a universidade é, realmente, desprezível. Não há outro nome. Ele [Serra] deveria retomar as fotos e filmes de 64 e ver a sede da UNE queimada, para ver se refresca a memória.

Juca Kfouri na folha de hoje, sobre a decadência da seleção

Juca Kfouri tem toda a razão na sua coluna de hoje sobre a decadência da seleção brasileira. Vale apontar no único sinal que entende a capitânia hereditária do futebol brasileiro, a CBF, que a seleção alemã, segundo a Nike, vale oito vezes mais dinheiro que a brasileira. O time é formado apenas por jogadores do exterior, cada vez mais com gente que nem teve tempo de ser conhecido aqui, só joga no exterior, e vive um patético oba-oba de Galvão Bueno, Tino Marcos e "Expresso da Bola" (vulgo, Globo) que impede que se critique o status quo. O futebol brasileiro deveria estabelecer um acordo em torno de uma idade mínima para transferência de jogadores (nem que fosse 21), e vender jogadores só na janela de vendas do fim-do-ano no mercado europeu, evitando que as equipes aqui se desestrutarem no meio da temporada. E parte dos milhões ganhos sem esforço pela CBF com a seleção masculina, deviam ser usados para estruturar uma seleção feminina, um campeonato ou programa de estímulo para o futebol feminino.
Mas enfim, para começar o governo deveria, inclusive para a organização da Copa de 2014 "enquadrar" a gestão "latifúndio", que não presta contas a ninguém, de Ricardo Teixeira. Mas tá tudo "dominado". Se CBF-Lula e demais políticos-Globo se fecham entre eles, se tá tudo bem entre eles, como conseguir mudar a situação?
Depois se nega férias e se compra brigas com Kaká e Ronaldinho Gaúcho, como se o problema fosse só eles...

A seleção desprezada

Não são apenas as estrelas brasileiras que não têm mais grandes vínculos. O torcedor também se afasta

A CBF começa a colher o que plantou ao dar força ao modelo exportador de pé-de-obra que assola nosso futebol. Ao nada fazer para impedi-lo por meio de uma organização mais racional e rentável, ao contrário, ao incentivá-lo por imaginar que facilita a formação de seu time para jogar no exterior, a entidade passa a ter de conviver com as recusas das maiores estrelas. Porque acabou aquela história de a seleção ser a pátria de chuteiras. É, no máximo, a caixa registradora de chuteiras. E, se assim é, assim passa a ser tratada por quem tem mais a lucrar ao olhar para o próprio umbigo, e para o próprio bolso, do que para a seleção. Não vivemos no primado das individualidades? Ora, é cristalino o direito de férias dos atletas, período em que, também, eles aproveitam para gravar mais campanhas publicitárias altamente remuneradas.
Por que o calendário mundial do futebol não é um só, de modo a evitar tais excessos?
Por que a Eurocopa é disputada a cada quatro anos, e a Copa América, a cada dois?
Para que se enfiar na Venezuela para disputar uma Copa América que não leva um torcedor brasileiro às ruas em caso de vitória e desencadeia crises em caso de derrota?
Como exigir de um Kaká, às voltas com a decisão da Copa dos Campeões, que tenha cabeça e músculos para digerir um torneio que é disputado em seu sagrado período de descanso?
Fosse a Copa do Mundo, vá lá, por mais que Ronaldinho Gaúcho, em situação idêntica no ano passado, tenha quebrado a cara exatamente por estar esgotado (como já acontecera com Zidane, em 2002). Os popstars do futebol sabem hoje muito bem como as coisas funcionam, quem ganha com o que e quanto. Com a vantagem de serem aplaudidos onde vão, ao contrário dos cartolas, tratados como merecem nos estádios, nos restaurantes e nos calçadões, que nem podem freqüentar, quando muito notórios. E cada vez o torcedor quer saber mais de seu clube e menos da seleção, que passa anos e anos sem jogar no país, mero produto para consumo externo.
Polêmicas e vaias a seleção sempre causou, desde tempos imemoriais. Os momentos de unanimidade são raros, mas o fato é que havia paixão em torno dela. Hoje a seleção é muito mais um saco de pancadas, porque os vínculos se perderam através dos anos, não só os dos atletas, como se vê, mas também, e por causa, os dos torcedores, por mais que os ufanistas de plantão se esgoelem para tentar manter uma imagem que está morta e sepultada. Até o presidente da República disse que prefere ver os jogos europeus, como se também não tivesse responsabilidade, ao andar de braço dado com a cartolagem e a esta se curvar, deslumbrado.
Daí, Lula ouve de Pelé um apelo para combater a corrupção em nosso futebol, embora o Rei tenha dado oxigênio, a mão e o abraço no deprimente "Pacto da Bola" com os cartolas, em 2001, fartamente responsável por tudo ter voltado à estaca zero, na consagração da impunidade que de novo denuncia. Mas a seleção paga o pato.

terça-feira, maio 15, 2007

Os porques de Fidel ser contra o etanol

Fidel escreveu mais um artigo contra o etanol, agora especificamente contra o feito a partir de cana-de-açucar, no Brasil. A sua inspiração foi um documentário da ativista brasileira Maria Luisa Mendonça. Ele não precisa mentir para apontar problemas no combustível, como a superexploração dos trabalhadores, e os danos a terra e a água. São fatos. Mas esta militância contra o etanol assumida por Fidel, que surpreende (grande parte da esquerda sempre defendeu biocombustíveis, e o petróleo tem problemas maiores que ele...) se explica, na minha opinião, e acho impressionante não ter visto comentários sobre isso, por dois motivos que combinam política energética e geopolítica (aliás, ambas são casadas com comunhão de bens). O primeiro é óbvio, sua aliança com a Venezuela exportadora de petróleo e dona de uma diplomacia baseada em hidrocarbonetos e seus rendimentos. O segundo é que Cuba sempre teve tradição de produção de cana-de-açucar, e em despacho da Associated Press, empresários americanos divagam abertamente sobre uma "Free Cuba" como fornecedora potencial de etanol para o país.
O problema de Fidel com o etanol pode ser resumido da seguinte forma: se o Brasil seria a "Arábia Saudita" do biocombustível, Cuba tem tudo para se transformar no "Iraque" do etanol. A potencialidade econômica do combustível pode estimular a beligerância norte-americana.
Esta é a razão não dita para as preocupações de Fidel com o assunto. Seu último artigo pode ser lido no link abaixo:

http://www.granma.cu/espanol/2007/mayo/mar15/lo-que-aprendimos-del-vI-encuentro-hemisferico-la-habana.html

segunda-feira, maio 14, 2007

VQP - Dois países, duas eleições, duas medidas

Para falar da "matéria" da Veja sobre a eleição de Nicolas Sarkozy na França, o mais divertido é comparar a cobertura do pleito francês, vencido pelo candidato que tinha a simpatia da revista, com o brasileiro. Logo após o segundo turno, Veja publicou uma capa em que perguntava como o vencedor, Alckmin ou Lula, uniria um país "dividido". Dá-lhe mapa dos estados "ricos" e que menos "dependem do Estado" onde Alckmin venceu no primeiro turno e dos "pobres" onde Lula ganhou. A baixa qualidade da análise fica patente pela velocidade em que ela se desfez. Alckmin perdeu votos do primeiro para o segundo turno. Em São Paulo, ainda ficou na frente, mas a diferença caiu 15 pontos percentuais, de 20 no 1° turno "dividido", para 5 na hora da verdade do 2° turno. No país como um todo, a vitória de Lula foi avassaladoraO que isso mostrou? Que não havia país dividido, e que a votação de 1° turno teve um sentido de "susto", "sermão" em Lula, mas que as pessoas não queriam Alckmin e o que ele representava no poder. Veja jamais analisou isso.
Voltemos agora para a França. A chamada de capa é a seguinte "França: aposta em um futuro de direita". Parece mentira, mas Veja não publica que a diferença entre Sarkozy e Ségolène Royal foi de apenas seis pontos. Que a massiva participação no processo eleitoral indica uma sociedade polarizada e indecisa em torno da necessidade de desmonte do estado de bem-estar social, e na relação com os descendentes de imigrantes... A matéria faz um oba-oba em torno da personalidade de Sarkozy (assim como Veja sempre foi simpática a Berlusconi, Aznar e Menem, argh!), monta um paralelo descabido entre ele e Tony Blair, que está se aposentando e manchou um governo com desempenho interno incrível por ter montado na garupa de Bush, e só termina indicando que "vem turbulência por aí". É a maneira de desqualificar previamente os protestos que certamente acontecerão quando Sarkozy colocar suas propostas na rua. Matéria de muito mais senso, reportagem, clima e rua, também de correspondente em Paris é a da Carta Capital(aliás, é impressionante, como ter um correspondente em Paris, parece não fazer diferença nenhuma no texto da matéria...).

VQP - Veja mente sobre USP e autonomia

Cachorros são cachorros...A revista Veja mente ao falar sobre ensino superior na edição que está nas bancas. O sentido da mentiras é claro.
No textículo de uma página intitulado "No caminho certo", pateticamente assinado por Camila Pereira, mas "pensato" (sic) por Reinaldo Azevedo, sobre a invasão da reitoria da USP, a revista Veja mente ao dizer que o problema é apenas que "as universidades se recusam a entrar no Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafi)". Não é este o problema. O problema é que com a criação da Secretaria de Ensino Superior, com a reformulação do Conselho de Reitores das Universidades do Estado de São Paulo (Cruesp), e novos decretos, Serra passou por cima da lei e acabou com a gerência interna de recursos na universidade, a autonomia financeira. Na prática, interveio na universidade.

O último parágrafo do artigo é uma elegia ridícula: "O governador Serra cumpre seu papel de administrador ao enfrentar esses problemas e resistir às pressões corporativas. Age com a autoridade de quem foi presidente da União Nacional dos Estudantes e teve longa carreira como professor em instituições como a própria Unicamp e Princeton, nos EUA. Não é ele quem quer destruir a autonomia da USP."

Não é que ele queira. Ele já destruiu. Basta ler esta matéria da Folha de S. Paulo, que pode ser acusada de tudo, menos de ser um jornal anti-serrista: Universidade só pode mudar gastos com decreto de Serra (para assinantes).

Isso é o fim da autonomia financeira da USP. E mostra como a Veja sabe fazer, sei lá se de forma espontânea ou estimulada, matérias e versões de encomenda para Serra, mesmo que elas sejam mentiras absurdas.
PS: Observe que a questão do mérito ou não de como eles cobriram a invasão em si, da opinião deles sobre ela, nem foi tratado. Impressiona mais a mentira e manipulação descarada do ataque de José Serra a autonomia universitária...

No quesito público, o papa perdeu

O jornal argentino La Nación foi espertíssimo em sacar que, em termos comparativos de público, o papa perdeu para vários dos seus inimigos. Enquanto ele teve entre 600 e 800 mil fiéis, os evangélicos, chamados de "seitas" por Ratzinger, reúnem todo ano 1 milhão de pessoas em sua marcha. Já a parada dos Gay, que não deveriam existir segundo o santo padre, reuniu 3 milhões de pessoas. E o show gratuito dos Rolling Stones em Copacabana, ou seja, a cultura pop, o hedonismo, e a própria "Sympathy for the Devil" (Compaixão pelo capeta) reuniram 1,5 milhões de "seguidores". Tá certo que cada coisa é uma coisa, e deve ter tido maluco que foi quem sabe nos quatro eventos, mas o Bento e seu revival da Idade Média, fora da Idade da Mídia até que não anda tão pop assim.

Romantismo fora de hora

Talvez seja influência do post abaixo, talvez seja só não querer apenas falar de política, mas me deu uma vontade de fazer uma lista das cinco músicas românticas gringas, daqueles que derretem o coração dos vigias nas madrugadas frias, quando pedidas, com dedicatória, nas rádio AMs da vida. Como eu sintonizo no cérebro algumas freqüências destas, seguem as cinco "importadas", que maltratam o velho coração. Se houver pedidos, me sensibilizo para as nacionais (PS: Esta categoria, por definição, roça coxa no brega, então não enche o saco, não são só todas as cartas de amor que são ridículas...):

1- Avalon - Roxy Music (eu ainda tenho que escrever um texto sobre esta música inacreditável de boa)
2 - You´re the best thing - Style Council (note a tendência por uma bossa nova inglesa...)
3 - Fade into you - Mazzy Star (pegadinha blues, "desaparecer dentro de você" é lindo, etéreo e sexual ao mesmo tempo)
4 - Nothing Compares 2U - Sinead O´Connor ("Faz sete horas e quinze dias, desde que você levou seu amor embora..." A letra genial é do Prince, mas Sinead transforma a música em algo muito, mas muito triste)
5- There´s a light that never goes out - The Smiths (foi uma disputa dura com "Don´t let me be misunderstood", na versão blues-oriental de Elvis Costello, mas Morissey praticamente se suicida nesta música. Não é para qualquer emo não...rs....)

Notei que a lista começa mais alegre e vai descendo a ladeira...Dia desses faço uma de nacionais...

Proibido Proibir

O filme Proibido proibir é um pequeno filmaço. Tem uma história ótima, atuações excelentes, um olhar generoso e carinhoso. É simples, mas belo, muito bem enquadrado, muito bem contado e situado em espaços reais, nas universidades públicas, subúrbios, praias, belezas e tragédias de um Rio de Janeiro que parece com seus vários lados e jeitos convivendo dentro dos planos. Uma boa história tratada com a dedicação verdadeira vira mais que isso, se desdobra. Não é um filme pretencioso, mas vai mais longe que muita proposta esnobe ou maneirista de cinema por aí. É que se comunica fácil. Pena, que na noite de domingo de dias das mães, o único cinema que o exibia estava quase vazio. Falta Globofilmes? Falta interesse do público de cinema? O cinema nacional está em uma fase de produção e propostas múltiplas muito ricas. Só falta público...

sábado, maio 12, 2007

Fotos de Sebastião Salgado

Na região russa de Kamchatka, publicadas pelo jornal inglês The Guardian. Parte do novo projeto do fotógrafo, intitulado Genesis:

http://arts.guardian.co.uk/salgado/image/0,,2077763,00.html

quarta-feira, maio 09, 2007

Todo apoio ao amor de Bento XVI

O papa chega ao Brasil. E eu recebo este e-mail. Não o escrevi, mas assino embaixo. Todo apoio a felicidade amorosa e carnal do Sr. Ratzinger:

"Queridas pessoas
Do fundo do coração desejamos toda felicidade a todo tipo de casal que queira viver em liberdade e afeição genuína.Por isso, reivindicamos o direito de união aos urubuzinhos Joseph e Georg.No portal da Folha, hoje, tem um bocado de informações sobre Don Georg, secretário do Bento, monsenhor opus-dei-fashion que inspirou a última coleção masculina Versacce e é uma espécie de muso dos gays italianos. Mais informações interessantes nos sites de busca.Além de escolher óculos, relógios e demais adereços do Joseph, monsenhor Georg está sempre por perto, ajudando a trocar de óculos e solidéus, arrumando a capinha etc. Em todas as aparições do B16, monsenhor está ao lado ou um passinho atrás. É fácil vê-lo: é um loiro alto, lindo, de olhos verdes, corpão de tenista. É bonito, mas ordinário. Começou dando aulas na faculdade da opus dei e agora é da santa inquisição, digo, da doutrina da fé...O Estadão diz que o papa tem hábito de fazer as refeições sozinho, coisa que as fotos da Folha desmentem, mostrando o verdadeiro lugar de Don Georg. Eu estou neste propósito: o B16 fala o que quer do aborto, da camisinha e da homossexualidade, e eu falo o que quero da vida pessoal dele!"

A matéria na Folha Online e as fotos da dupla:
http://noticias.uol.com.br/ultnot/especial/papanobrasil/ultnot/2007/05/09/ult4563u94.jhtm

terça-feira, maio 08, 2007

Polêmica Racionais X PM porque o You Tube é melhor que a Globo

Entre neste link e assita aos vídeos. O tempo do monopólio da voz única acabou:

http://www.youtube.com/results?search_query=virada+racionais&search=Search



Até neste vídeo da Globonews fica nítido o exagero dos policiais, o despreparo, e que primeiro eles saíram, deixando as pessoas subirem na banca e depois voltaram barbarizando. Tiros de borracha e bombas de efeito "moral". Enquanto isso, Mano Brown tenta acalmar o público. O fim da matéria destaca apenas o "vandalismo". Mas a falta de preparo, planejamento, e responsabilidade da polícia atirando balas de borracha e provocando correria em uma multidão (alguém poderia ter sido pisoteado) disso ninguém fala. E como isso provoca a revolta. Mais uma vez, vale lembrar a frase de um policial nas manifestações de Genova, sacadas pelo filósofo italiano Giorgio Agamben. "O papel da polícia não é manter a ordem. É gerir a desordem."

http://www.youtube.com/watch?v=8vdJEeW2UEk&mode=related&search=

Texto legal de esportes

Esta coluna sobre a Copa dos Campeões do site Trivela, que aliás, é excelente e por isso o link aí do lado, está tão bem escrita que resolvi postar o link, por mera comparação humilhante com o que costuma a sair, sem criatividade na pauta e abordagem, com textos burocráticos, nos cadernos de esporte, que parecem especializados em transformar jogos e personagens épicos em linguagem contábil. Os narizes de seres dos dois primeiros textos, me particular, achei muito legais.

http://www.trivela.com.br/default.asp?pag=ExibirMateria&codMateria=2484&coluna=16

domingo, maio 06, 2007

Virada Cultural - "re-clamar" as ruas...

A 3ª Virada Cultural acabou, e deve ser ofuscada na "medida mediática das coisas" pela prevísivel (óbvia, para quem lá estava pela 12:00) batalha campal que aconteceu entre o público dos Racionais MC´s e a Polícia Militar. Como não é o que acho mais importante, deixo para o fim do post.
A Virada mostrou que existe em São Paulo um déficit, um potencial, uma fome imensa de arte, de rua, do centro da cidade, de encontro, de expressão, de liberdade. Tamanho déficit que as vezes explodiu, e arrebentou em um excesso de bebida ou na violência do incidente da Sé. Mas os contratempos não devem parar a vida, ou serem maiores que ela...
A secretaria de cultura também pode ser criticada por não fazer muito no resto do ano, ou por não dar recursos decentes para o bom funcionamento ou mesmo o funcionamento de certos equipamentos. Nota-se isso pelos poucos equipamentos culturais da própria secretaria que participaram da Virada (com a exceção do Municipal e dos CEUs, que assim seguem comprovando sua vocação como rede importante de cultura na periferia, outro potencial subaproveitado).
Mas é impossível não admirar e não reconhecer que a Virada Cultura NÃO é um simples evento e sua importância como subversão e demostração das possibilidades da cidade, do seu centro e da cultura como transformação. Até dá para entender nela, o que talvez Guilberto Gil quis dizer com a cultura para um "Do-in" antropológico...No caso, eu diria urbanístico... A Virada explica mais que qualquer discurso, a importância de uma política cultural do estado, como ela pode ser transformadora e relevante.
É triste, vale dizer de novo, pensar que o problema óbvio e real de rancores e violência que brotam em um show dos Racionais (onde no conflito nenhum dos lados detém toda a culpa e todos têm um pouco, e todos executaram seu papéis "previsivelmente"...) apague a ocupação das ruas como cidade de fato, não mero comercial, a integração e alegria das pessoas que o ocupavam, tornando-o público. De gente que mora em São Paulo faz anos e que pela primeira vez conhecia o centro. Da cara que poderia ser bonita e mais humana da cidade onde as pessoas caminham sem medo, se misturam entre classes sociais, e se encontram. De um espaço recriado e reanimado pela criação.
E aí existe o outro lado importante da Virada Cultural, e porque ela não é um simples evento. Ela nitidamente deu um sentido diferente aos shows que nela aconteceram, e isso deu para eu notar a ver grupos que já assisti, como Clube do Balanço com Erasmo Carlos, ou João Donato. Não era mais um show em um espaço que não tem como escapar de ser delimitado e careta, por melhor que seja, e o Sesc Pompéia o é. Era uma ação com um sentido, inclusive político. Erasmo Carlos estava visivelmente emocionado e orgulhoso de lá tocar. Ali a arte deixou de ser entretenimento, produto, e voltou a ter seu sentido entre o sacro e o profano, de congraçamento e renovação. Sua "Além do Horizinte" ganhou todo um novo sentido, ou melhor dizendo, retomou seu sentido. A arte fica mais excitante, mais arte. Quem quiser pode aproveitar horrores da experiência.
E isso me lembrou um movimento inglês da virada do milênio chamado Reclaim the streets (retome as ruas). Que queria através de festa/protestos de surpresa as ruas, justamente isso: retomar o espaço urbano para as pessoas, para o encontro, para a alegria, para a comunidade, para a liberdade.
É irônico que uma prefeitura (e um governo do estado) conservadora, com um secretário de cultura não conservador, e com uma eminência parda ultra reacionária, como Andrea Mattarazzo*, tenha organizado este evento. Certas coisas, como proibir poluição visual, cobrar zona azul no Ibirapuera e fazer a virada cultural, só os conservadores de outros partidos (não os do PT...) poderiam fazer...Que sejam boas heranças (não a Zona Azul no Ibira) antes deles caírem fora...porque corredor de ônibus, transporte alternativo, e políticas na periferia não são com eles.
A Virada tinha que ser também de política e atitude em relação ao centro em particular e as ruas em geral...reocupá-las, nos reencontrarmos nelas, recriarmos e acreditarmos na nossa cidade, em nós mesmos, porque o risco envolvidos em viver isso é muito menor que o vazio seguro dos alphavilles, shoppings e Vila Olímpias da vida. E os ganhos tão maiores...
* Mattarazzo, o Andrea, não o Eduardo, deve ter ficado feliz pela Virada em seus esforços para gerar insônia nos moradores de rua. Este é outro ponto triste do negócio. Ela aconteceu na casa dos que não tem casa...Até nisso, viver e andar as ruas é importante. Ele nos força a encarar os problemas com uma proximidade, velocidade e escala mais humanas...

quarta-feira, abril 25, 2007

VQP - Você recebe a Veja de graça?

Muitas pessoas suspeitam que a venda de Veja tem caído, mas que a revista tem sustentado sua tiragem distribuíndo exemplares de graça. Por exemplo, o exemplar usado para fazer o boletim Veja Q Porcaria é uma cortesia que chega gratuitamente na casa dos meus pais todo o sábado. Chegavam duas Vejas. Minha mãe parou de assinar e uma continuou chegando...Não é irônico? Então, entre em contato, pergunte aos amigos, se você recebe, ou sabe de alguém que recebe a revista de graça. Deixe um post, ou mande e-mail para vejaqporcaria@yahoo.com

VQP - A sentença contra Mainardi

A esta altura, quem chega neste blog já sabe da história. A Veja, o blog de Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi (vulgo: cada dia mais a mesma coisa) estão esbravejando porque o jornalista Kennedy Alencar, da Folha de S. Paulo, na sua coluna online, deu o furo do resultado da sentença do processo de Franklin Martins contra Diogo Mainardi. Dizem que ele antecipou a sentença, e insinuam que o agora ministro Franklin atravessou algum processo junto ao juiz. Alencar diz que já dava para consultar a sentença pela internet.
A história se desdobra por dois links. O grosso da informação produzida foi por ambas as partes, sem nenhuma isenção. A Veja usou a revista como acessório do processo. E Kennedy viu-se obrigado a se defender das acusações. O fato é que contra Reinaldo Azevedo não há fatos, ele só enxerga o que quer e não dará o braço a torcer. Quem quiser ver seus malabarismos, entre o que desqualifica, sonega e distorce, visite seu blog e boa viagem ao parnasianismo conservador. Kennedy Alencar postou a versão do juiz e suas explicações neste link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult511u299.shtml

A minha opinião disso: se for verdade, Mainardi e Azevedo estarão na posição do menino que sempre gritava "Lobo, lobo" e um dia o lobo apareceu. E acho que não apareceu.
Sobre este caso, e nada a ver com este caso, tenho a seguinte intuição que me veio não sei poque: ensaio aberto. Para Abril, os 30 mil de Mainardi devem ser menos que as custas de uma semana de trabalho do seu setor jurídico com o caso. O que preocupa mesmo é o governo atrapalhar seus negócios com os sul-africanos do Naspers ou com os espanhóis da Telefônica (neste caso, com a vantagem indireta de agradar a Globo). Não que eu acha que o governo vá fazer isso, mas a Abril teme inclusive porque já usa este dinheiro por conta. Então este é o segundo ensaio (o primeiro foi quando chamaram jornalistas de Veja para depor na PF) para ver se o papel de vítima e bastião da liberdade cola. Não tem colado. A revista tem uma imagem péssima (dê uma olhada na matéria e nestes links do Comunique-se). Se Kennedy Alencar caísse no fogo cruzado, para Azevedo+Mainardi, tanto melhor. Veja e eles não estão nem aí para quem quer posar de equilibrado, nem para ao menos ouvir a explicação de um denunciado, mesmo quando amigo, antes de tentar implodir sua imagem.

quinta-feira, abril 19, 2007

O Embargo e a burrice

O bloqueio comercial (na realidade é bem mais amplo que isso) que os Estados Unidos impõem à Cuba é uma política burra em todos os sentidos: humanitário, econômico e político. Prejudica a população e faz os dois lados perderem dinehiro. Só uma besta, ou muitas em Miami, não vêem que o bloqueio ajuda Fidel Castro a se manter no poder, ao lhe dar uma bandeira e um inimigo externo, enquanto a normalização das relações permitira os Estados Unidos influenciar muito mais o país do que hoje (afinal, o dinheiro continua sendo uma das maiores forças políticas conhecidas pelo homem).
Para o que acham que o comércio faria os EUA "compactuar" com uma ditadura, fica uma pergunta e uma lembrança: o que o bloqueio comercial ajudou Cuba? E lembrem-se que os EUA manteve negócios com a África do Sul nos tempos do apartheid, sendo inclusive incentivador de aventuras militares daquele regime infame.

Com mais fluxo de comércio e mais turistas norte-americanos na ilha, do que os Estados Unidos tem "medo" (sei que não tem, é para fin de exposição...)? De serem mais influenciados pela ilhinha do que de a influenciarem?

Da Carta Maior, a insanidade do que é o bloqueio, aliás, condenado por qause o mundo todo...

"Todas essas medidas tinham como objetivo asfixiar economicamente a recém-nascida revolução cubana. Em função do bloqueio, Cuba não pode, entre outras restrições, exportar nenhum produto para o mercado norte-americano, nem receber turistas vindos dos EUA. Além disso, não tem acesso a créditos e nem pode utilizar o dólar em suas transações com o exterior. Os navios e aviões cubanos estão proibidos de tocar portos e aeroportos dos EUA. Essa política tem um caráter extraterritorial, uma vez que impede importações de subsidiárias norte-americanas instaladas em outros países e sanciona investimentos estrangeiros em Cuba. O documento observa que, para agravar ainda mais os nefastos efeitos da perda de 85% do comércio externo cubano, causada pelo desaparecimento do campo socialista europeu e da União Soviética, os EUA aprovaram em 1992 a chamada Lei Torricelli.Por meio dela, foram interrompidas as importações cubanas procedentes de subsidiárias norte-americanas em outros países, que chegavam, em 1991, a 718 milhões de dólares. Cerca de 91% dessas importações era constituído por alimentos e medicamentos. Essa lei também impôs severas proibições à navegação marítima desde e para Cuba. A partir dela, o navio de um país que atracasse em um porto cubano, não poderia entrar em um porto dos EUA antes de seis meses e mediante uma permissão especial. Em 1996, a Lei Helms-Burton aumentou os efeitos do bloqueio. Estabeleceu sanções para atuais e potenciais investidores em Cuba, autorizando ainda o financiamento de ações hostis contra a ilha. No final de 2001, pressionado pelo setor agro-exportador norte-americano, o Congresso dos EUA aprovou uma legislação autorizando que Cuba comprasse alimentos dos produtores do país. No entanto, essas importações são acompanhadas por severas restrições."

quarta-feira, abril 18, 2007

VQP - Tinha na mailing, faltou no blog

Semana passada Veja publicou uma longa matéria sobre cantoras. Das clássicas às novas, focava em cinco talentos, mas citava mais de duas dezenas dela. A cantora Céu, talvez a mais bem-sucedida e com trabalho mais consistente das cantoras da nova geração, não era sequer citada. A explicação veio ao longo da semana. Ela seria uma das focadas, mas não quis falar com a Veja. E aí Veja decidiu "vingar-se" e nem citou o seu nome na matéria. Do caso, fica a pergunta: alguém ainda acha que este boletim é necessário para alguma coisa?

PS: Sobre a mesma matéria das jovens cantoras. Uma carta de leitor corrige Sérgio Martins, que escreveu que as interpretações de Elis Regina privilegiavam a emoção ao invés da técnica. Alguém que não entende que ela conseguia combinar os dois ao mesmo tempo deveria se abster de escrever sobre MPB.

PS2: Leitor me cobra que Veja não citou Fabiana Cozza e Ceumar, enquanto colocou cantoras que sequer lançaram o primeiro CD...

VQP - Faltou no Boletim - direito de resposta

Veja finalmente publicou, na sua última página, o direito de resposta do jornalista Leonardo Attuch ao texto "O mais vendido", que responde a ataques grosseiros e pesados feitos pela revista ao jornalista. O texto completo do direito de resposta segue abaixo:

"VEJA publicou em sua edição de número 1 944, com data de 22 de fevereiro de 2006, um texto intitulado 'O mais vendido', no qual consta a informação de que o jornalista Leonardo Attuch, editor das revistas IstoÉ Dinheiro e Dinheiro Rural, estaria devendo satisfações às autoridades policiais. Em um episódio pretérito, a respeito do 'caso Kroll', o nome do jornalista foi citado como autor de determinadas reportagens, mas ele jamais foi denunciado ou indiciado pelas autoridades que investigaram tal assunto. O livro publicado por ele, intitulado A CPI que Abalou o Brasil, editado pelo selo Futura, do grupo Siciliano, teve seu volume de vendas alterado, o que mereceu sua exclusão da lista de 'Mais Vendidos' da revista VEJA. O relato da Siciliano exime o jornalista Leonardo Attuch do episódio. O jornalista também jamais foi indiciado pela Polícia Federal ou por qualquer outra autoridade policial pela prática de qualquer tipo de delito."

VQP - Capa câmbio, alô câmbio?

A matéria da Veja de capa, sobre o câmbio, tem algumas verdades. A valorização de hoje não é igual a de 1998, na medida que ela ocorre em um mercado livre da moeda, e se sustenta parcialmente no saldo da balança comercial e na melhoria do cenário internacional. Veja também está certa na sua análise da relação entre a popularidade de Lula e a economia, e que este cenário deve permanecer no futuro próximo. Há aspectos positivos no câmbio valorizado para alguns setores, como a compra de máquinas mais modernas e estudo no exterior. Eu também acho divertido comprar equipamentos e viajar para a Europa (não para a Disney...), como qualquer um. Mas há outros setores que sofrem. E a quantidade de abobrinha e besteiras na matéria ainda assim, são de revirar o estômago.

“Os mais céticos custam a aceitar que o país mudou de patamar e afirmam que a valorização do real nada mais é do que um reflexo dos altos juros brasileiros, que, segundo eles, atraem capital especulativo e distorcem o câmbio. Mas essa é a visão de uma minoria. Opiniões à parte, o fato é que os investidores dos mercados financeiros nunca depositaram tanta confiança na estabilidade monetária de longo prazo no país.”


Veja ridiculariza opiniões sérias e destrói qualquer debate. Trata quem discorda dela como idiota. É lógico, contábil e óbvio que a arbitragem de ganhos com os juros e o câmbio brasileiro atrai volumes financeiros significativos e influencia na taxa de câmbio. Inclusive pode ser ela mesmo fator de instabilidade no futuro, se a valorização for excessiva. Assim como é óbvio que não é só isso. As pessoas se preocupam com uma pauta de exportações baseadas em commodities, que hoje estão com demanda forte e preço alto, mas isso pode mudar (lembram como Veja gozava com soja por volta de 2002/2003, era o futuro do país, e como o setor quebrou fácil como um graveto em 2004/2005?).

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Quando eu leio a matéria da Veja sobre câmbio forte falar em “darwinismo industrial”, eu lembro das vacas européias. Sim, não é industrial, mas está dentro da discussão sobre eficiência econômica. As vacas européias estão entre os bichos de estimação mais caros do mundo. Economicamente, se fossemos levar a lógica da eficiência econômica a sério, não existiriam. As vaquinhas que tem que ser protegidas do inverno europeu com subsídios não tem como concorrer com as suas irmãs australianas, argentinas e brasileiras, ou mesmo de algumas regiões do Estados Unidos. Assim como as plantas industriais de etanol baseado em milho que estão sendo erguidas nos EUA, são irracionais se pensarmos nos termos de Veja. Mas o mundo não funciona assim, e nenhum país sério, nenhum governo sério, nenhuma sociedade minimamente solidária, mesmo no capitalismo, arrebenta setores da economia como Veja acha bacana. Ela, no mínimo, tenta lhes dar uma chance de desenvolvimento. O “Brasil” abstrato tratado por Veja esmaga e não liga para setores da economia – empresas, empregos, pessoas – que poderiam estar melhor e não precisariam ser eliminados por uma destruição criativa. A desvalorização de 1999 foi o que depois permitiu a adaptação da economia brasileira a folia do populismo cambial do período 1993-1998 (que combinou câmbio valorizado com juros altos, devastando a economia). Tudo na vida traz matizes. 1993-1998 foi importante para conter a inflação. Mas não é verdade que precisava arrasar a economia para fazê-lo e depois haver o trauma e golpe da desvalorização e recessão. O mesmo vale para hoje.

VQP - Capa câmbio 2

Um amigo apontou os problemas do seguinte trecho da matéria:

“No passado, o governante de plantão interferia nas cotações para beneficiar esse ou aquele setor. Em todo o mundo, tal modelo fracassou e foi abandonado, porque trouxe endividamento, inflação e baixa produtividade.”

O autor da "matéria", o “brilhante” jornalista econômico Giuliano Guandalini, só esqueceu da Índia e da China, onde isso acontece e é a região global de maior crescimento econômico (embora este crescimento ocorra sobre uma base de PIB per capita ridícula). Óbvio. São dois países pequenos, fáceis de passar despercebidos no mapa. Afinal a China e a Índia são até citados em outro trecho da matéria... E o tema do baixo valor da moeda chinesa, mantido artificialmente, só é tratado por autoridades norte-americanas o que, toda a semana?

Na coluna que mostra que a moeda brasileira foi a que mais se valorizou em relação ao dólar, Veja não nota que assim como no fato dos nossos juros serem os mais altos do mundo, há sempre algo de estranho em ser o “mais” alguma coisa em economia. A moeda brasileira se valorizou 58%. O grupo que vai do segundo ao quarto lugar, logo atrás do Brasil, com valorizações entre 54% (Eslováquia) e 39% (Polônia) são todos países que aderiram a União Européia recentemente, o que explica em grande parte tamanha valorização das suas moedas em relação ao dólar. Isso mostra como a valorização brasileira está acima do tom, porque países em processos mais ou menos “normais” estão 20 pontos percentuais para baixo da nossa valorização, que aliás, sequer parou...

Três boas sugestões (de mercado) para impedir uma valorização excessiva do real foram dadas pelo empresário Boris Tabacof, na Folha de S. Paulo de sexta-feira:

1) rápida redução dos juros, o que não representa riscos de inflação, que seria a meta de chegar a 6% de juros reais, dito explicitamente pelo Banco Central;

2) eliminação da isenção de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos dos investidores estrangeiros em títulos públicos federais;

3) tributação crescente sobre rendimentos de capitais que ingressam para ganhar na arbitragem dos juros, por exemplo, pegando-se empréstimos com taxas japonesas muito baixas e trazendo para a aplicação em títulos com juros brasileiros, o que dá um lucro garantido de, no mínimo, 6% ao especulador financeiro, sendo a progressividade da taxação inversamente proporcional ao prazo de permanência do investimento não produtivo no país. Além da adoção de medidas que a criatividade das autoridades de Brasília têm demonstrado com tanto sucesso na criação de constrangimentos ao crescimento da economia brasileira.